Sabe-se que Jean Garrett tinha por hábito começar a polir os filmes desde os primeiros insights do argumento. Com base nessa linha-mestra, nesse esqueleto do que pretendia ver na tela, combinava então alguém para escrever o roteiro propriamente dito. A estratégia fusionou Garrett a tal ponto com sua obra que é preciso cuidado para não se colocar todos os trunfos – ou todos os erros – a favor do roteirista esquecendo-se do diretor, e vice-versa.
Assim foi o caso deste “Excitação” (1976), argumento e roteiro de Jean e Ody Fraga. Quarto filme do menino prodígio, logo em seguida de “Possuídas pelo Pecado” (1976) e imediatamente anterior ao factóide “Noite em Chamas” (1976). “Excitação” parte do pressuposto de se fazer cinema de “suspense”, permeado por cenas picantes que bancassem a bilheteria, além de aproveitar a fíbia tese de racionalismo versus “o grande além”.
O mundo dos espíritos se materializaria de sobra na cultura pop dos futuros anos 80, aproveitando, por sinal, o mesmo achado de “Excitação”: o poltergeist. Ectoplasmas que aterrorizam, olhos revirados, gritos, sustos e, no caso do exemplar nacional, eletrodomésticos que avançam na direção da mocinha ex-interna de sanatório, Helena (Kate Hansen).
Casada com o frio-calculista-cerebral-empresário responsável por triplicar a fortuna deixada pelo falecido pai, Helena tem em Renato (Flávio Galvão) o mal intencionado clássico. O tipo de homem com quem se divide os paninhos, sem saber que por trás existe um mundo de intrigas que a leva até ali.
Ao invés de um cemitério indígena – lenda urbana que costuma explicar tragédias das grossas –, a mansão para a qual se mudam foi palco de um suicídio que amaldiçoou o lugar. Paulo, ex-marido de Arlete (Betty Saddy), atual vizinha, se enforcou em um dos cômodos – impactante cena inicial, em que se nota a dobradinha entre Garrett e o fotógrafo, Carlos Reichenbach.
O set lembra o de “Karina, Objeto do Prazer” (1981) ou de “Mulher, Mulher” (1979). À beira-mar, o oceano grunhindo do lado de fora, a solidão para ser de um extremo que ajudasse a deteriorar cada vez mais a condição de Helena. Como a casa de “O Anjo da Noite” (1974), obra-prima de Walter Hugo Khouri – marco no cinema de horror brasileiro.
Em “Excitação”, porém, o choque entre sentidos exacerbados – excitados, dementes, de Helena – e cientificidade – rigor lógico, hipocondria, busca de controle, por parte de Renato – não alcança resultados de peso, deixando na superfície as patologias que em outros filmes de Garrett teriam caráter bem mais substancial. “A Mulher Que Inventou o Amor” (1979) é o exemplo fulminante, neste sentido.
Com os olhos fixos nos computadores pré-históricos da marca Burroughs – sim, da mesma família do escritor Sir William Burroughs –, Renato toma pílulas entre goles d´água, e à noite, ao chegar triunfante para a esposa, solta pérolas sobre construir uma das maiores “organizações de computadores [sic] da América Latina”.
O fetiche da modernidade também se instala em meio à decoração high-tech, mas se dilui de modo interessante na estratégia de chamar benzedeiros – da “Tenda Espírita Mãe das Águas” – para limpar os caminhos do local. Na casa ao lado, a prima de Arlete, Lu (Zilda Mayo) dança um roquenrou, em outro contraponto óbvio ao clima de misticismo.
A montagem por vezes incomoda, didática, esquemática; sonoplastia, idem. O clima de bossa nova, por exemplo, entre Renato e Lu – porque a praia e o instante pediam algo supostamente solar – quebra a fluidez em uma película na qual a tensão deveria ser o nó central.
Kate Hansen parece ter entendido a senha para sua personagem ensandecida, levada à loucura pelo marido e pela vizinha – que mantinham um caso desde antes da morte de Paulo. A atriz tenta o pulo do gato de uma grande performance, algo que chega a arranhar por nanossegundos na sua reaparição ocre, transfigurada, ao final.
“Excitação” não concretiza o apuro que poderia ter tido; somente abre uma passagem para o melhor na obra do diretor. Imerso no ceticismo e na voragem feminina, Jean Garrett alcançaria o lirismo em outros marcos – além do citado “A Mulher...”, confira-se “Tchau, Amor” (1982). Estes são os pontos que se interligam e deixam o testemunho de algo autoral, ainda que não compreendido plenamente por todas as hordas da intelligentsia.
Assim foi o caso deste “Excitação” (1976), argumento e roteiro de Jean e Ody Fraga. Quarto filme do menino prodígio, logo em seguida de “Possuídas pelo Pecado” (1976) e imediatamente anterior ao factóide “Noite em Chamas” (1976). “Excitação” parte do pressuposto de se fazer cinema de “suspense”, permeado por cenas picantes que bancassem a bilheteria, além de aproveitar a fíbia tese de racionalismo versus “o grande além”.
O mundo dos espíritos se materializaria de sobra na cultura pop dos futuros anos 80, aproveitando, por sinal, o mesmo achado de “Excitação”: o poltergeist. Ectoplasmas que aterrorizam, olhos revirados, gritos, sustos e, no caso do exemplar nacional, eletrodomésticos que avançam na direção da mocinha ex-interna de sanatório, Helena (Kate Hansen).
Casada com o frio-calculista-cerebral-empresário responsável por triplicar a fortuna deixada pelo falecido pai, Helena tem em Renato (Flávio Galvão) o mal intencionado clássico. O tipo de homem com quem se divide os paninhos, sem saber que por trás existe um mundo de intrigas que a leva até ali.
Ao invés de um cemitério indígena – lenda urbana que costuma explicar tragédias das grossas –, a mansão para a qual se mudam foi palco de um suicídio que amaldiçoou o lugar. Paulo, ex-marido de Arlete (Betty Saddy), atual vizinha, se enforcou em um dos cômodos – impactante cena inicial, em que se nota a dobradinha entre Garrett e o fotógrafo, Carlos Reichenbach.
O set lembra o de “Karina, Objeto do Prazer” (1981) ou de “Mulher, Mulher” (1979). À beira-mar, o oceano grunhindo do lado de fora, a solidão para ser de um extremo que ajudasse a deteriorar cada vez mais a condição de Helena. Como a casa de “O Anjo da Noite” (1974), obra-prima de Walter Hugo Khouri – marco no cinema de horror brasileiro.
Em “Excitação”, porém, o choque entre sentidos exacerbados – excitados, dementes, de Helena – e cientificidade – rigor lógico, hipocondria, busca de controle, por parte de Renato – não alcança resultados de peso, deixando na superfície as patologias que em outros filmes de Garrett teriam caráter bem mais substancial. “A Mulher Que Inventou o Amor” (1979) é o exemplo fulminante, neste sentido.
Com os olhos fixos nos computadores pré-históricos da marca Burroughs – sim, da mesma família do escritor Sir William Burroughs –, Renato toma pílulas entre goles d´água, e à noite, ao chegar triunfante para a esposa, solta pérolas sobre construir uma das maiores “organizações de computadores [sic] da América Latina”.
O fetiche da modernidade também se instala em meio à decoração high-tech, mas se dilui de modo interessante na estratégia de chamar benzedeiros – da “Tenda Espírita Mãe das Águas” – para limpar os caminhos do local. Na casa ao lado, a prima de Arlete, Lu (Zilda Mayo) dança um roquenrou, em outro contraponto óbvio ao clima de misticismo.
A montagem por vezes incomoda, didática, esquemática; sonoplastia, idem. O clima de bossa nova, por exemplo, entre Renato e Lu – porque a praia e o instante pediam algo supostamente solar – quebra a fluidez em uma película na qual a tensão deveria ser o nó central.
Kate Hansen parece ter entendido a senha para sua personagem ensandecida, levada à loucura pelo marido e pela vizinha – que mantinham um caso desde antes da morte de Paulo. A atriz tenta o pulo do gato de uma grande performance, algo que chega a arranhar por nanossegundos na sua reaparição ocre, transfigurada, ao final.
“Excitação” não concretiza o apuro que poderia ter tido; somente abre uma passagem para o melhor na obra do diretor. Imerso no ceticismo e na voragem feminina, Jean Garrett alcançaria o lirismo em outros marcos – além do citado “A Mulher...”, confira-se “Tchau, Amor” (1982). Estes são os pontos que se interligam e deixam o testemunho de algo autoral, ainda que não compreendido plenamente por todas as hordas da intelligentsia.
19 comentários:
Obrigado Andrea. Tb não gosto do filme, mas vale a pena assistir as bizarrices e a interpretação de Kate Hansen.
Aliás, vc ainda não fez resenha do Anjo da Noite. Vi há anos, qdo criança. Tem a Selma Egrei, belíssima
"Excitação" não agrada mesmo, Daniel. "Anjo da Noite", por outro lado, é um clássico incontestável. Vi no MAM-RJ, e quero assistir de novo para debater vários temas dele.
Excitação é o meu Garrett preferido. Mas nunca vi Tchau Amor e A Mulher que Inventou o Amor.
Esse dois são definidores, bem provável que vc goste, Sergio.
ah, tenho quase certeza de que vou gostar, pelo que você escreveu sobre eles... mas Excitação já vi três vezes, e cada vez fica mais forte... em segundo acho que eu colocaria Karina - Objeto do Prazer.
Ninguém fala nada do "A Força dos Sentidos", na minha opinião o melhor de Jean Garret! Do Ody Fraga eu gostei o " A Fome do Sexo". A Andrea poderia comentar esses dois filmes.
o filme realmente não é dos melhores mas a beleza da kate hansen e seu talento compensam qualquer coisa. Adoro a Kate hansen e fiquei fã dela após assistir excitação, a noite das fêmeas e mulher desejada.
Esse sem sombra de dúvida foi um dos melhores e mais interessantes filmes da carreira do saudoso cineasta e ator Jean Garrett junto com os igualmente ótimos "O Fotógrafo" e "Tchau, Amor." Esse clássico de Garrett é abrilhantado pelo elenco magistral formado por grandes atores nacionais como Kate Hansen, Flávio Galvão, Liana Duval, Betty Saddy e a belíssima Zilda Mayo entre outros. Um verdadeiro filme cult da fase áurea da Boca Do Lixo que segue a mesma linha dos filmes de suspense hollywoodianos, porém com um genuíno toque nacional. Vale lembrar também que Kate Hansen foi a primeira opção para interpretar a famosa personagem erótica Emmanuelle em "Emmanuelle Tropical," mas teve que ser substituída por Monique Lafond no papel principal.
A beleza nórdica e deslumbrante de Kate Hansen (ela é descendente de dinamarqueses) me fez sonhar acordado durante anos a fio. E a magnífica Zilda Mayo também é esplendorosa e igualmente uma grande atriz. E Betty Saddy era linda e talentosa também assim como Kate e Zilda.
É Um filme pra tirar o folêgo de quem assiste. Muito bom. Kate Hanssen e Flávio Galvão soberbos, maravilhosos em seus papéis que parecem ter sido criados para eles. O Mar aparece como uma referência a solidão da personagem central, que magnificamente se vingou no final.
Assisti recentemente o filme e gostei muito, gostaria de saber em que praia foram realizadas as filmagens.
Sinceramente, não sei em que praia foram feitas as filmagens. Também gostaria de saber mas nos créditos do filme deve aparecer esta informação. Nos agradecimentos, aparece o nome da localidade.
Olá alguém sabe onde foi filmado Excitação ou em que praia?
Foi filmado em São Sebastião, São Paulo.
Acho q esta é a única informação nos créditos sobre a localidade, só que tem mais de 20 praias por lá. Alguém sabe se a casa existe/existiu de fato ou foi construída apenas para o filme?
Não tenho certeza, mas acho que o filme foi rodado na praia de Barequeçaba, São Sebastião SP
Kate Hansen é belíssima e também foi a maior e a mais linda, talentosa, ilustre e importante atriz brasileira da década de setenta do século vinte além de ter sido uma mistura perfeita e esplendorosa de Catherine Deneuve com Solvi Stubing no auge de sua loura e majestosa beleza nórdica e angelical clássica e exuberante ao extremo. Do mesmo modo, a loura e lindíssima atriz americana de origem norueguesa Kristen Wiig que interpretou a belíssima e extremamente sensual supervilã britânica e felina Cheetah no filme Mulher Maravilha 1984 que também contou com uma participação especial da própria Lynda Carter no papel da deusa guerreira Astéria é o maior e o mais espetacular símbolo sexual feminino e mundial da atualidade além de ser uma mistura perfeita e sensacional de Agnetha Faltskog do ABBA e Sally Kirkland com Farrah Fawcett e Amanda Peterson ao mesmo tempo. Por último, o moreno e sensualíssimo ator e produtor americano Angelo Tiffe é o homem mais sexy do mundo e também o maior e o mais sensual símbolo sexual masculino e mundial de todos os tempos assim como a morena e extremamente deslumbrante e sedutora atriz inglesa de belíssimos olhos verdes Vivien Leigh é a mulher mais linda e sensual do mundo inteiro em todos os tempos de modo que a belíssima canadense Evangeline Lilly é a única atriz da atualidade cuja beleza pode ser comparada à da própria Vivien Leigh em todo o seu esplendor fulminante e inesquecível.
Por favor, minha querida amiga Andrea Ormond, se não for lhe pedir demais, eu gostaria muito que você comentasse aqui no seu próprio blog intitulado Estranho Encontro sobre a morena, belíssima, escultural e exuberante atriz, jornalista, roteirista e apresentadora brasileira de longos cabelos negros e lindos olhos azuis Cláudia Freire, estrela de Atrapalhando A Suate e Para Viver Um Grande Amor hoje em dia conhecida somente como Cláudia Venturi que foi a Angelina Jolie brasileira da década de oitenta do século vinte e também a Rebecca Ferguson tropical além de ter sido uma mistura perfeita e espetacular de Ângela Figueiredo com Lúcia Veríssimo no auge de sua beleza e sensualidade sendo ainda dona de um corpo longilíneo e escultural sinuoso e esplendoroso capazes de fazer inveja à própria boneca Barbie e de longos e densos cabelos negros repicados e esvoaçantes de fazerem inveja até mesmo à loura, belíssima, estonteante e saudosa eterna pantera Farrah Fawcett também. Muito obrigado.
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