quinta-feira, agosto 07, 2008

Césio 137 - O Pesadelo de Goiânia


Dessas coisas que só acontecem no Brasil: o maior acidente radioativo da história mundial ocorrido longe de uma usina nuclear foi mistura sinistra de pobreza, ignorância e incompetência. Legou ao país -- e à cidade de Goiânia -- o ônus de milhares de vítimas, algumas sofrendo ainda hoje, vinte anos depois, o impacto da história patética e inacreditável.

Achada por catadores de lixo nas ruínas do Instituto Goiano de Radioterapia, uma cápsula radiológica foi vendida para Seu Devair, receptador de ferro-velho, que em seguida extraiu dela grande quantidade de pó -- o famigerado Césio 137 -- e passou de mão em mão a novidade que, segundo ele, à noite brilhava uma luz azul. Quando os vizinhos e as autoridades conseguiram saber do que se tratava, o mal estava feito: além das pessoas que morreram diretamente por conta de contaminação, uma extensa área da cidade teve que ser vasculhada minuciosamente, gerando toneladas de lixo tóxico.

Desde então, o caso mereceu inúmeras reportagens e citações, inclusive um programa "Linha Direta", da Tv Globo, em agosto de 2007.

Bem antes, ainda no calor dos acontecimentos, o cineasta baiano Roberto Pires dirigiu e roteirizou sua versão para a tragédia: "Césio 137 - O Pesadelo de Goiânia" (1990). Criando ficção em cima do depoimento das vítimas, o filme recebeu boa coleção de prêmios no Festival de Brasília, sendo lançado em um período tenebroso para o cinema brasileiro. Passou anos esquecido, obscuro, o que talvez se justifique pela linguagem didática, que prende a atenção, mas deixa no final das contas um resultado frágil, menos de cinema e com cara de minissérie de tv.

Devair (Nelson Xavier), o dono do ferro-velho, bem que tenta chamar para si um desenrolar menos simples para o drama. Faz caras e bocas, briga com Maria, a esposa (Joana Fomm), e nutre a certeza de que ele, pivô maior da tragédia, viveu uma relação obsessiva com "a peça" -- como chamavam o invólucro de aço escovado, que protegia o Césio.

Não atendendo aos apelos femininos ("É isso que tá deixando o povo doente, homem!"), chega a despejar o pó na própria cama, além de ofertar pedrinhas do sal radioativo com a volúpia de quem distribui bala confete.

Nesta empreitada suicida tem o apoio do amigo e vizinho (Stepan Nercessian), num conluio machista onde o bom senso das mulheres (Joana e Denise Milfont) era sempre respondido com o afago "Volta pra cozinha!". Morrem passarinho, cachorro, o cabelo de Devair cai e sua pele fica manchada -- enquanto as duas comadres, temerosas, articulam-se em providências.

Quando finalmente chamam uma ambulância, a surreal burocracia pública entra em ação. O enfermeiro até se recusa a levar Devair ("Só posso levar pessoa deitada e ele está andando"), e acabam diagnosticados com uma simples infecção alimentar. Piorando dia a dia, a pobre mulher pega um ônibus com "a peça" até o hospital. Conta a lenda que o artefato permaneceu alguns dias em uma cadeira, no meio do público, até que fosse examinado e um alerta de emergência sanitária finalmente emitido.

É bom lembrarmos que Roberto Pires -- o pioneiro do longa-metragem baiano, com "Redenção" (1959), que demorou quatro anos para ser finalizado -- tinha certo fascínio pelo tema da radiação e seus efeitos. Em 1981 construiu um estúdio subterrâneo em Salvador e dirigiu o ainda mais obscuro "Abrigo Nuclear". À parte isso -- e de ser montador igualmente competente -- sua especialidade foi a direção de thrillers policias, com certa influência do cinema norte-americano: "Crime no Sacopã" (1968) e "Máscara da Traição" (1970) são clássicos para redescoberta.

"Césio 137" figura como sua pior obra, desprovida de sentido cinematográfico, cujo único interesse é a investigação, resumida e precisa, de como a incompetência provoca acidentes monstruosos. O ranço da boçalidade nacional, o "jeitinho" renitente e a ignorância endêmica completam o quadro de análise. E é de se pensar, às vezes, como o país todo ainda não foi pelos ares.

10 comentários:

André Setaro disse...

Apesar de ter sido amigo e admirador de Roberto Pires, cineasta baiano, reconheço que "Césio" é o seu pior filme e concorda com a sua "radiografia" dele.

Andrea Ormond disse...

O filme é realmente bem esquemático, com momentos interessantes que se devem mais à tragédia em si.

Anônimo disse...

Gostaria de saber em que matéria o césio e encontrado e como foi descoberto?Onde é localizado na natureza?

Anônimo disse...

quero saber onde conseguir baixar esse filme.
Se souber meu email é
wesleyl.alves@bol.com.br

jorgemoraes56... disse...

Bem aqui quero citar alguns detalhes assim poderá ajudar a alguns curioso que vive só de comentar e analizar o superficial:
infelizmente faço parte desta histótia negra e doi até a alma quando vejo gente preocupada em filme detalhes de cinegrafia e erros..
talves o pior erro esta no ser BRASILEIRO que uma sequela bem grande costuma esconder lixo em baixo da cama ou é refén de poder covarde...
os que até hoje sofre luta poucos lembra imaginem os que já morreram..
quem quizer mais algum detalhe tem que vasculhar os documento secretos da CNEN e assim as verdades virão a tona!!!
abraços fique com DEUS!

Lucas disse...

foi muito triste ne eu fiquei chocado meus pesames para as familias

Lucas Philipe disse...

foi uma tragedia e as familias tem que tentar pelo esquecer um pouquinho da fatalidade

Lucas Philipe disse...

foi uma tragedia e as familias tem que tentar pelo esquecer um pouquinho da fatalidade

Matheus Silverio disse...

foi uma tragedia o que aconteceu mais as familias tem que tentar esquecer o que aconteceu pois a vida continua para todos e a vida e bela vc tem que cuidar dela muito bem pois a vida e bela para quem sabe usa-la

Anônimo disse...

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