Há dois dias terminei um ritual que não desejei, mas a que fui arremessada pelas circunstâncias.
Fechavam as portas do cinema Paissandu, no Rio de Janeiro, e almas caridosas fizeram o favor de ao menos programarem, de sexta a domingo, 17 filmes-epítetos do local. Cumpriram uma despedida nobre, sem lencinhos brancos, ao templo cinéfilo da rua Senador Vergueiro.
Sim, transpirei horrores com o ar-condicionado pifado; cogitei sobre a falha de nenhum brasileiro – salvo o filme-surpresa, “Assalto ao Trem Pagador” – ter dito presente; e permaneci horas estatelada na poltrona de couro, que na escuridão voyeurística me dava a impressão de tocar o infinito -- as décadas que passaram, a transcendência daquela ilha de sofisticação em plena rua de uma cidade que perdemos.
Quem selecionou a última sessão do Paissandu teve um belo estalo: “Le Feu Follet” (1963) de Louis Malle, incômodo até dizer chega, obrigou todos a partirem em silêncio com o estampido seco e a epígrafe sobre a impossibilidade de comunicação, de amor.
Pois mesmo os que estavam ali apenas pela diversão, mesmo os que não lá estiveram, somos todos legatários do fechamento de uma das salas mais importantes e significativas do país. Ainda que sob o arrasto inevitável do tempo, somos todos para sempre Geração Paissandu.
E, em um acerto de contas particular, terminei este domingo fatídico dando início a uma segunda-feira que comemorou ontem os 3 anos deste blog e uns outros tantos do meu próprio aniversário.
Algumas vicissitudes pessoais e profissionais marcaram o Estranho Encontro. Interrupções aqui e acolá, que – para minha alegria – não diminuíram o interesse dos leitores, responsáveis pelo meio milhão de visitas a um espaço crítico de textos longos, sem maiores truques audiovisuais.
Pensar de maneira abrangente, longe do canto da sereia do hermetismo, é um objetivo deste blog a não se perder de vista. Gosto da idéia de resgatar o cinema brasileiro para pessoas que o amam e para aqueles que não têm muita paciência com ele, mas que provam sentir uma curiosidade fundamental quando me mandam emails ou comentários.
A vocês, um forte abraço, beijos e obrigada.
11 comentários:
Parabéns pelo blog, pelo aniversário e por sua paixão cinéfila. O Paissandu se vai, mas esse nosso desejo por cinema permanece.
Querida Andrea,
Você sabe que sou leitor diário, né?
Parabéns pelos aniversários!
Bjs
Adilson Marcelino
www.mulheresdocinemabrasileiro.com
Um duplo parabéns Andréa! Seu blog é fantástico e você é uma mulher incrível! Sensível, talentosa e extremamente generosa ao compartilhar suas descobertas e sua paixão pelo cinema brasileiro com seus tantos leitores.
Andrea, parabéns pelas datas :) Que venham os 30, 60, 90 anos (do blog e da blogueira rsss).
Beijos, querida!
Seu site tem um sabor inédito nos estudos efetuados em relação ao cinema brasileiro, pois aqui se encontra o resgate do cinema popular, um cinema livre das "ondas" e dos modismos circunstanciais. Todo cinema não deixa de refletir o seu momento histórico e as análises feitas sem um "parti pris" ideológico permitem um conhecimento mais aprofundado da mentalidade daqueles que se aventuraram na expressão pelas imagens em movimento. E, além do mais, sobre ser análises perfuratrizes dos filmes colocados em questão, há uma maneira muito própria e original de "olhá-los".
Parabéns pelos três anos de "Estranho Encontro".
Obrigada, Mauro. Esse desejo fica, e vamos construindo novos templos de cinefilia.
Marcelino, tb estou sempre trafegando pelo Mulheres. Obrigada, querido! Beijos
Márcio, o bom disso tudo é falar sobre temas saborosos, aumentar o debate em torno deles e humanizar dados que não podem se perder com o tempo. Um abraço e obrigada!
Sergio querido, quem sabe eu e o blog atingimos o centenário rsrs Beijos!
André, essa ausência de preconceitos, de molduras óbvias para enquadrar filmes que não são óbvios, é realmente uma necessidade. Ainda maior em se tratando de cinema brasileiro. Existem alguns causos e símbolos que ficaram marcados na história oral do nosso cinema e que ao longo do tempo vêm cedendo lugar a uma análise mais imparcial e verdadeira. O caminho é este. Obrigada, um abraço!
Quem agradece é a memória coletiva do cinema brasileiro, órfã do papai Estado e da qual você é a maior mãe adotiva. Beijo grande do amigo Luiz.
Você não é nada mais que absolutamente divina! Que bom que você existe!
Oi, Luiz, obrigada. Esse bebê é trabalhoso, mas com a atenção necessária ele fica tranqüilo. Beijos
Obrigada pelo carinho, Luis :)
Andréa, parabéns pelo duplo aniversário. É um prazer ler seus comentários tão sensíveis e inteligentes sobre os nossos filmes e os meus, em particular. Abraços,
Xavier, muito obrigada pelos parabéns. Seus filmes sempre foram uma parte importante do meu amor pelo cinema brasileiro. Gostaria de entrar em contato com vc, para combinarmos uma entrevista. Meu email é: andrea.ormond@uol.com.br. Abraços
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