Se os livros do escritor Marcos Rey ainda hoje são lembrados com carinho por gerações de leitores, o mesmo não se pode dizer de Alberto Pieralisi, o genial adaptador das obras de Rey para o cinema. Em muitos casos, adaptar uma obra literária para 35 mm parece tarefa difícil – a ponto de se rogar a velha máxima de que “bons livros não dão bons filmes”. Mas quando assistimos à meia dúzia de grandes filmes que Pieralisi fez em cima dos grandes livros de Marcos Rey, com certeza anulamos este preconceito tolo.
Falar da bem-sucedida parceria com o escritor paulistano é apenas ponto de partida para trazermos Alberto Pieralisi ao presente. Homem de cinema imigrado da Itália para o Brasil nos anos 40, ex-combatente e documentarista da guerra da Eritréia, Pieralisi nasceu em 1911 em Roma e morreu em 2001, no Rio de Janeiro. Tendo abandonado o cinema ainda nos anos 70, seus últimos anos de atividade foram de uma criatividade fora do comum, dirigindo entre 1970 e 1978 cerca de 15 filmes – ora por sua produtora, ora atuando como diretor contratado da Magnus Filmes ou da Vidya.
“Café na Cama” (1973) é resultado típico da grife Alberto Pieralisi. Livremente adaptado do romance homônimo, o veterano diretor trabalhou com um livro dificílimo, cheio de idas e vindas, onde a riqueza de situações criadas por Marcos Rey deve ter sido mais empecilho do que propriamente dádiva.
Subdividido em três partes extensas, o livro faz a personagem principal mudar de nome em cada uma delas e, sob pena de fazer um filme hermético demais, a adaptação ignora este recurso literário, contando linearmente a vida de Norma (Marta Moyano), jovem de origem pobre que almeja subir na vida e, por conta disso, mergulha na prostituição.
Norma é noiva de Geraldo (Agildo Ribeiro), mecânico esforçado, que sonha colocar seu carro para correr na Fórmula 1. O tempo todo Geraldo é tratado como um pária, um sem-razão, em contraponto ao pragmatismo existencial de Norma, que após ser deflorada em uma festa, começa a bater ponto na casa da cafetina Zulmira.
Norma, tanto no livro quanto no filme, é uma histérica que à princípio repele sua sexualidade com nojo, para em seguida entregá-la por muito pouco. Fica claro que teremos um final feliz e que, como estamos falando de um texto de Marcos Rey, antes esbarraremos com algumas viradas surpreendentes.
Enquanto pula de cama em cama e fere a masculinidade de Geraldo, Norma afasta-se de qualquer escrúpulo moral e amor-próprio. Por outro lado, o quixotesco rapaz de 29 anos (“Eu já estou na idade de casar!”, vive repetindo), inscreve seu carro na corrida de Interlagos e graças ao mecânico Branca de Neve (Tião Macalé, dublado), o destino de todos muda para a melhor.
Um dos maiores e mais injustiçados atores brasileiros, Agildo Ribeiro joga a emoção da assistência para onde deseja. Graças à sua atuação, a trama original aos poucos desfaz-se, e do plot ingênuo-sensacionalista da transformação moral de Norma, quase temos a trajetória opressiva do “rapaz pobre e obstinado que precisa salvar o grande amor de sua vida”.
Esquecemos de quase tudo para torcer por Agildo, que a despeito de ter seu nome associado ao humorismo (e a convivência com o Topo Gigio), foi em papéis como este, repleto de melancolia, que alcançou o ápice como artista, lembrando uma espécie de Jean-Pierre Léaud no princípio da maturidade.
Com a fotografia atraente de Antônio Gonçalves, a plástica bonitinha de Marta Moyano, uma ponta de Celso Faria como tio da moça e o universo ficcional de um dos maiores escritores brasileiros, “Café na Cama” nos remete muito às comédias eróticas da terra natal do diretor, fazendo a ponte entre a Fontana di Trevi e a Praia de Copacabana. Uma pena que, depois de lançado em Vhs pela VTI Vídeo em 1983 (!), nunca mais se soube de qualquer notícia do filme.
Falar da bem-sucedida parceria com o escritor paulistano é apenas ponto de partida para trazermos Alberto Pieralisi ao presente. Homem de cinema imigrado da Itália para o Brasil nos anos 40, ex-combatente e documentarista da guerra da Eritréia, Pieralisi nasceu em 1911 em Roma e morreu em 2001, no Rio de Janeiro. Tendo abandonado o cinema ainda nos anos 70, seus últimos anos de atividade foram de uma criatividade fora do comum, dirigindo entre 1970 e 1978 cerca de 15 filmes – ora por sua produtora, ora atuando como diretor contratado da Magnus Filmes ou da Vidya.
“Café na Cama” (1973) é resultado típico da grife Alberto Pieralisi. Livremente adaptado do romance homônimo, o veterano diretor trabalhou com um livro dificílimo, cheio de idas e vindas, onde a riqueza de situações criadas por Marcos Rey deve ter sido mais empecilho do que propriamente dádiva.
Subdividido em três partes extensas, o livro faz a personagem principal mudar de nome em cada uma delas e, sob pena de fazer um filme hermético demais, a adaptação ignora este recurso literário, contando linearmente a vida de Norma (Marta Moyano), jovem de origem pobre que almeja subir na vida e, por conta disso, mergulha na prostituição.
Norma é noiva de Geraldo (Agildo Ribeiro), mecânico esforçado, que sonha colocar seu carro para correr na Fórmula 1. O tempo todo Geraldo é tratado como um pária, um sem-razão, em contraponto ao pragmatismo existencial de Norma, que após ser deflorada em uma festa, começa a bater ponto na casa da cafetina Zulmira.
Norma, tanto no livro quanto no filme, é uma histérica que à princípio repele sua sexualidade com nojo, para em seguida entregá-la por muito pouco. Fica claro que teremos um final feliz e que, como estamos falando de um texto de Marcos Rey, antes esbarraremos com algumas viradas surpreendentes.
Enquanto pula de cama em cama e fere a masculinidade de Geraldo, Norma afasta-se de qualquer escrúpulo moral e amor-próprio. Por outro lado, o quixotesco rapaz de 29 anos (“Eu já estou na idade de casar!”, vive repetindo), inscreve seu carro na corrida de Interlagos e graças ao mecânico Branca de Neve (Tião Macalé, dublado), o destino de todos muda para a melhor.
Um dos maiores e mais injustiçados atores brasileiros, Agildo Ribeiro joga a emoção da assistência para onde deseja. Graças à sua atuação, a trama original aos poucos desfaz-se, e do plot ingênuo-sensacionalista da transformação moral de Norma, quase temos a trajetória opressiva do “rapaz pobre e obstinado que precisa salvar o grande amor de sua vida”.
Esquecemos de quase tudo para torcer por Agildo, que a despeito de ter seu nome associado ao humorismo (e a convivência com o Topo Gigio), foi em papéis como este, repleto de melancolia, que alcançou o ápice como artista, lembrando uma espécie de Jean-Pierre Léaud no princípio da maturidade.
Com a fotografia atraente de Antônio Gonçalves, a plástica bonitinha de Marta Moyano, uma ponta de Celso Faria como tio da moça e o universo ficcional de um dos maiores escritores brasileiros, “Café na Cama” nos remete muito às comédias eróticas da terra natal do diretor, fazendo a ponte entre a Fontana di Trevi e a Praia de Copacabana. Uma pena que, depois de lançado em Vhs pela VTI Vídeo em 1983 (!), nunca mais se soube de qualquer notícia do filme.
21 comentários:
Você está certa, Andréa, Agildo é um grande e injustiçado ator brasileiro. E por onde anda Marta Moyano? Era tão bonitinha :)
Aliás, fica uma sugestão: que tal entrevistar ex-atrizes de pornochanchadas, que sumiram do mapa, como Nadir Fernandes, Nidia de Paula, Magrit Siebert, Rose di Primo, etc?
Beijos!
Oi Andréa,
Já vi muita coisa do Pieralisi. "Café Na Cama" não foi um deles. "Essa Mulher É Minha...E Dos Amigos" é genial, "Memórias de Um Gigolô" e "O Quinto Poder" são legais. Outro filme extaordinário dele é um dos mais desconhecidos da Vera Cruz, com o grande comediante Walter D´Ávila. Chama-se "A Família Lero-Lero", é uma obra-prima. O Agildo, realmente ficou tendo poucos papéis no cinema. Ele recebeu convites para ser o ator principal em "Macunaíma" (antes do Paulo José) e mesmo no "Filme Demência" do Carlão, para ser o Nefisto. Parece que ele cobrava muito caro, e o Carlão não teve como colocar ele no filme. No "Macunaíma", eu vi uma entrevista dele no "Tarja Preta" que ele admitiu que se achou demais sob o Joaquim, e isso acabou estragando um possível trabalho deles. Abraços, Matheus.
"Oh ! Que Delícias de Patrão" também é sensacional
oi Sergio, tb tenho curiosidade de saber mais sobre a Marta Moyano, não sei por onde ela anda :) Sugestão anotada. O único problema é que algumas entrevistas já estão engatilhadas, vamos ter que esperar um pouquinho :) Beijos!
Oi Matheus, a carreira do Agildo tem dessas coisas, uma mistura de convites que se tivessem sido aceitos poderiam ter mudado completamente a cara dos filmes. Vc imagina ele no Macunaíma, sem o Paulo José? Daria um caldo bem interessante. Abraços.
Muitas vezes torci meu nariz para os filmes brasileiros. Hoje eu percebo com que dificuldade eles foram feitos e notei que há roteiros bem feitos. Agildo Ribeiro sempre foi um artista acima da média e, concordo, injustiçado. Vi, madrugada dessas, Marta Moyano desfilando sua beleza portenha no filme Manicures a Domicílio. Também gostaria de saber que fim ela levou.
Pôxa, quanta saudade!!! Esse filme marcou a minha vida, pois ao 11 anos de idade , entrei pela primeira vez no filme impróprio para menores de 18 anos.(ERA AMIGO DO PORTEIRO E DO FISCAL, JÁ TINHA UM BIGODINHO E DAVA PRA ENGANAR) Lembro-me como se fosse hoje. No cinema MUNICIPAL, aqui na minha querida cidade. ! 'CAFÉ NA CAMA'simplesmente INESQUECÍVEL!!! e vou ser sincero, quase morro de me masturbar. POR ONDE ANDA ESSA MARAVILHOSA LOIRA MARTA MOYANO?? alguém aí sabe?? coisas de pirralho, da fase mesmo, por isso falo sem nenhum constrangimento. Valeu galera, é isso aí!
Na minha adolescencia, assistí Café na Cama no cinema local de minha cidade e, apaixonei-me não só pelo filme, como pela linda loira Martha Moyano. Só tive oportunidade de vê-la novamente mesmo assim numa participação muito pequena em Dona Flor e seus dois maridos. Gostaria imensamente de saber por onde ela anda, o que faz atualmente, onde mora, enfim qualquer informação dela atual, inclusive se possível até com fotos, será muito bem vinda. Estarei ancioso no aguardo!!
Martha Moyano eh casada , tem dois filhos gemeos e mora na Barra da Tijuca com o marido taxista .
Martha Moyano eh casada , tem dois filhos gemeos e mora na Barra da Tijuca com o marido taxista .
Li este livro, queria muito ver o filme, mas não consigo encontra-lo em lugar nenhum, alguem tem alguma sugestão de como faço para encontra-lo?
"Café na Cama" marcou minha adolescência. Agildo estava magnífico no papél de mecânico-piloto e a Martha Moyano é a mais bela argentina de todos os tempos. A última vez que a vi em filme foi numa ponta em Dona Flor e seus dois maridos
Martha Moyano, muito jovem e linda (me parece que tinha uns 20 anos), protagonizou com brilhantismo Café na Cama em 1973. A partir daí, sua carreira deslanchou, e, de repente foi completamente apagada. Não somente eu, mas todos os fãs, gostaríamos que o blog ivestigasse por onde ela anda, e fizessem uma matéria, inclusive com fotos atuais. A G U A R D A R E M O S !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Anos passam, mas a lembrança continua.Comentei anteriormente sobre Café na Cama, um filme muito bem produzido na época, e, lindamente protagonizado por Martha Moyano. Como se refere o Elias acima, este filme também marcou muito minha adolecencia, porém na minha opinião, o saudoso Rubens de Falco, atuou muito melhor ao lado da Martha (Norma era seu personagem) que o canastrão Agildo Ribeiro. Em dona flor e seus 2 maridos, sua participação é pequena, como a prostituta Anália, porém a mesma continuava linda e talentosa, e canta uma música em italiano no prostíbulo. Não somente eu, mas como todos os fãs, torcemos que o blog, continue investigando e traga-nos notícias desta linda, sensual e talentosa loira. Abraços/////////
Existe um blog http://boghcproducoes.blogspot.com/, na bahia, que seleciona atores para filmes pornôs. Uma das donas deste blog, chama-se Marta Moyano, vcs podem verificar no finalzinho. Não seria a mesma pessoa? Quem sabe já não é uma pista... abraços e sorte a todos nós>>>>>>>>>>>>>
O Agildo me faz rir até hoje.Aquele professor de mitologia é inesquecível. Ponto para o "Zorra Total", que mantém até hoje em seus quadros humoristas veteranos como o Agildo, Paulo Silvino, Santa Cruz e Chico Anysio, que marcaram a nossa infância (pelo menos a minha). Quanto à Marta Moyano, por onde ela anda? Ela fez parte das fantasias de muito marmanjo, com certeza...
O Agildo me faz rir até hoje.Aquele professor de mitologia é inesquecível. Ponto para o "Zorra Total", que mantém até hoje em seus quadros humoristas veteranos como o Agildo, Paulo Silvino, Santa Cruz e Chico Anysio, que marcaram a nossa infância (pelo menos a minha). Quanto à Marta Moyano, por onde ela anda? Ela fez parte das fantasias de muito marmanjo, com certeza...
O Agildo me faz rir até hoje.Aquele professor de mitologia é inesquecível. Ponto para o "Zorra Total", que mantém até hoje em seus quadros humoristas veteranos como o Agildo, Paulo Silvino, Santa Cruz e Chico Anysio, que marcaram a nossa infância (pelo menos a minha). Quanto à Marta Moyano, por onde ela anda? Ela fez parte das fantasias de muito marmanjo, com certeza...
https://www.facebook.com/marta.moyano3
Olha ela aí
Encontrei uma cópia do filme no site,ou plataforma,sei lá,''OK.RU''.
Desconhecia a protagonista de ''plástica bonitinha'' - Há quem diga que quando a gente diz ''bonitinha'' é porque estamos com dó de botar feiúra,rs,não é o caso da atriz,que era realmente muito bonita.
Mais um texto perfeito de Andrea Ormond.Em tempo,adorava ler os livros de Marcos Rey na juventude.
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