Cláudia Lessin Rodrigues foi morta em 24 de julho de 1977, aos 21 anos de idade. O corpo encontrado na Avenida Niemeyer, Rio de Janeiro, em uma das pedras que circundam a pista e dão para o mar. O objetivo era fazer com que o cadáver sumisse na água, junto com o saco repleto de pedras, amarrado ao corpo da vítima.
O caso ganhou dimensão nacional. Cartazes, outdoors e anúncios pagos em jornais e revistas pela família, com a inscrição que ficou famosa durante anos: “Cláudia Lessin Rodrigues – Que todos os pais desta cidade jamais se esqueçam deste nome”.
Isto porque Cláudia foi seviciada e estrangulada antes de morrer.
Na transposição para as telas, quem esperava um policial, na linha de “Eu matei Lúcio Flávio”, regado a muitos palavrões, corrupção e alta malandragem, se decepciona. O roteiro de José Louzeiro, Valério Meinel, Miguel H. Borges (este também diretor) e Álvaro Pacheco é um pouco excessivo, apontando muito mais a vontade de dar uma lição de moral, “abrir os olhos da sociedade”, do que contar a história verídica com princípio, meio, fim e muita brasilidade entre um ponto e outro.
Existem duas tramas paralelas. A segunda tem a pretensão de explicar a primeira. A primeira narra a apuração do caso pelo detetive (Roberto Bonfim) e pela imprensa, na figura do repórter (Carlos Eduardo Dolabella). O interessante é observar que o filme ganhou muito em veracidade com a consultoria do jornalista da Veja, Meinel, vencedor do Prêmio Esso de 1977, na cobertura do caso.
Jonas Bloch encarna Pierre Dorf (pseudônimo para Michel Albert Frank, acusado na vida real) demonstrando a repulsa que ele mesmo, Bloch, sentia pelo almofadinha milionário, cujo pai compra a polícia e consegue escondê-lo no exterior.
Em uma das cenas, Dorf e o outro acusado (o cabeleireiro interpretado por Luiz Armando Queiroz) vão ao que se chamaria na época de uma legítima “boate discothéque” e caçam duas meninas, que caem de olho no “brilho” que o playboy carrega no bolso. A cara de pau de Bloch e o olhar meio frágil – possivelmente uma ligação homossexual mal esclarecida entre os dois – de Queiroz, mostram o círculo vicioso que havia por ali e acabava, sempre, em orgia total.
Na segunda trama, que acontece simultaneamente, a presença de Nuno Leal Maia fazendo papel de Nuno Leal Maia, tenente do tráfico de drogas internacional, é necessária para justificar Kátia D´Angelo (Flávia). Mocinha transviada que conhece o consumo de cocaína através de Maia, se prostitui, foge de casa e é assassinada por ele. Flávia, na realidade, é um duplo ficcional de Cláudia. Moça de boa família com um destino trágico, envolvida no mundo das drogas.
Como ocorre em muitos dos filmes roteirizados por Louzeiro (“Os amores da pantera”, “Lúcio Flávio, o passageiro da agonia”, “Amor bandido”), há diálogos que beiram, propositadamente, o pitoresco e o genial. Dolabella pergunta a Bonfim – a essa altura retirado da investigação por ordem do chefão corrupto – pouco antes de emboscarem o peão de obra, testemunha-chave do caso:
― Escuta, cara, se você não tem nada com isso, por que que você está se arriscando tanto?
― Não sei. Tem uma porra aqui dentro de mim que me empurra.
O momento incompreensível, porém, surge logo depois dos créditos finais: “os personagens deste filme são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, é mera concidência”.
Ora, se a consultoria de Meinel é colocada na própria abertura, se a semelhança entre os personagens é grande, se o título é sensacionalista, se os eventos simulam os reais, por que a piadinha? A intenção de os autores tentarem o disse-me-disse é desnecessária. Cláudia Lessin ainda não havia se transformado em lenda. Era aquela menina que escandalizara o país e que todos queriam reencontrar na tela.
Mas o que salva a projeção é tentarmos encarar os excessos do filme com o mesmo cinismo que ele quer retratar. “O caso Cláudia” é um filme que não se assume, que se perde, mas que segundo contam, fez a alegria do público na estréia, em 1979.
Levou multidões, no misto de politicamente correto (termo que não existia) e tiradas ao gosto de Pena Branca, repórter conhecido por atuar no mundo-cão da criminalidade carioca. “O Caso Cláudia” é um híbrido, portanto. Assista com moderação.
O caso ganhou dimensão nacional. Cartazes, outdoors e anúncios pagos em jornais e revistas pela família, com a inscrição que ficou famosa durante anos: “Cláudia Lessin Rodrigues – Que todos os pais desta cidade jamais se esqueçam deste nome”.
Isto porque Cláudia foi seviciada e estrangulada antes de morrer.
Na transposição para as telas, quem esperava um policial, na linha de “Eu matei Lúcio Flávio”, regado a muitos palavrões, corrupção e alta malandragem, se decepciona. O roteiro de José Louzeiro, Valério Meinel, Miguel H. Borges (este também diretor) e Álvaro Pacheco é um pouco excessivo, apontando muito mais a vontade de dar uma lição de moral, “abrir os olhos da sociedade”, do que contar a história verídica com princípio, meio, fim e muita brasilidade entre um ponto e outro.
Existem duas tramas paralelas. A segunda tem a pretensão de explicar a primeira. A primeira narra a apuração do caso pelo detetive (Roberto Bonfim) e pela imprensa, na figura do repórter (Carlos Eduardo Dolabella). O interessante é observar que o filme ganhou muito em veracidade com a consultoria do jornalista da Veja, Meinel, vencedor do Prêmio Esso de 1977, na cobertura do caso.
Jonas Bloch encarna Pierre Dorf (pseudônimo para Michel Albert Frank, acusado na vida real) demonstrando a repulsa que ele mesmo, Bloch, sentia pelo almofadinha milionário, cujo pai compra a polícia e consegue escondê-lo no exterior.
Em uma das cenas, Dorf e o outro acusado (o cabeleireiro interpretado por Luiz Armando Queiroz) vão ao que se chamaria na época de uma legítima “boate discothéque” e caçam duas meninas, que caem de olho no “brilho” que o playboy carrega no bolso. A cara de pau de Bloch e o olhar meio frágil – possivelmente uma ligação homossexual mal esclarecida entre os dois – de Queiroz, mostram o círculo vicioso que havia por ali e acabava, sempre, em orgia total.
Na segunda trama, que acontece simultaneamente, a presença de Nuno Leal Maia fazendo papel de Nuno Leal Maia, tenente do tráfico de drogas internacional, é necessária para justificar Kátia D´Angelo (Flávia). Mocinha transviada que conhece o consumo de cocaína através de Maia, se prostitui, foge de casa e é assassinada por ele. Flávia, na realidade, é um duplo ficcional de Cláudia. Moça de boa família com um destino trágico, envolvida no mundo das drogas.
Como ocorre em muitos dos filmes roteirizados por Louzeiro (“Os amores da pantera”, “Lúcio Flávio, o passageiro da agonia”, “Amor bandido”), há diálogos que beiram, propositadamente, o pitoresco e o genial. Dolabella pergunta a Bonfim – a essa altura retirado da investigação por ordem do chefão corrupto – pouco antes de emboscarem o peão de obra, testemunha-chave do caso:
― Escuta, cara, se você não tem nada com isso, por que que você está se arriscando tanto?
― Não sei. Tem uma porra aqui dentro de mim que me empurra.
O momento incompreensível, porém, surge logo depois dos créditos finais: “os personagens deste filme são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, é mera concidência”.
Ora, se a consultoria de Meinel é colocada na própria abertura, se a semelhança entre os personagens é grande, se o título é sensacionalista, se os eventos simulam os reais, por que a piadinha? A intenção de os autores tentarem o disse-me-disse é desnecessária. Cláudia Lessin ainda não havia se transformado em lenda. Era aquela menina que escandalizara o país e que todos queriam reencontrar na tela.
Mas o que salva a projeção é tentarmos encarar os excessos do filme com o mesmo cinismo que ele quer retratar. “O caso Cláudia” é um filme que não se assume, que se perde, mas que segundo contam, fez a alegria do público na estréia, em 1979.
Levou multidões, no misto de politicamente correto (termo que não existia) e tiradas ao gosto de Pena Branca, repórter conhecido por atuar no mundo-cão da criminalidade carioca. “O Caso Cláudia” é um híbrido, portanto. Assista com moderação.
14 comentários:
Gostei do blog, Andréia. Ainda por cima tem o título de um grande filme do Khoury!! Acho que vc vai sentir dificuldade em encontrar fotos, né?
putz,muito legal seu blog,quase não existem informações sobre cinema nacional...ta add
www.fotolog.net/dr.lorax
Oi Andréa. Gostei muito do seu Blog e da seleção de filmes bastante alternativa procurando comentar filmes consagrados como Noite Vazia até pérolas exploitation como o Caso Cláudia que eu adoro. Continue assim. Marcelo Carrard/Mondo Paura
Olá Andréa!
Seu blog é maravilhoso para os fãs do cinema nacional. Parabéns!!
Gostei muito do "O Caso Cláudia", principalmente da atuação da Katia D'Angelo, da qual sou fã...
Uma sugestão: coloque alguns filmes da Katia aqui.
Bjs
Ah, neste flog, tem o cartaz do filme "O Caso Cláudia".
Gostei muito. Eu li o livro e achei espetacular, um dos poucos que li quase sem parar !! Tenho procurado pelo filme há bastante tempo mas não acho nas locadoras nem na internet, o mesmo acontecendo com o livro. Gostaria de parabeniza-la pelo Blog que está muito bom.
Abraços,
Francisco Morais
Verdade, Ailton, as fotos serão um problema crônico rs. É impressionante como o Brasil tem uma cinematografia tão rica e as informações são bastante escassas, por isso resolvi criar o blog.
Obrigada, Marcelo, sou grande admiradora do seu trabalho no Mondo Paura. Você é um dos maiores críticos de cinema que este país tem, fique tranquilo disso. A gente aprende um bocado lendo as coisas que você escreve.
Olá, Raphael. Obrigada, e parabéns pelo flog, o material que vc possui é bem variado. Bjs
Oi, Francisco. O Caso Cláudio é realmente difícil de se encontrar, só peregrinando entre locadoras antigas, com vhs não lançados em dvd. Abraços.
Andrea, eu adoro esse filme. Já vi uma porção de vezes (tinha uma espécie de Festival nacional na extinta TV Manchete) e sempre impressionei com a ótima Katia D´Angelo. Acho que o filme às vezes tem até um tonznho meio moralista, mas eu desculpo totalmente! rsrs
Gostei do comentário sobre o filme O CASO CLÁUDIA e sei que a presença de Kátia D'Angelo no papel de Flávia só valorizou o filme,não só por sua beleza,também já realçada nas páginas da Revista PLAYBOY,por ocasião do seu lançamento e que,infelizmente está distante do grande público brasileiro já faz muitos anos,nessa crítica à desagregação familiar e social por causo do uso de drogas!
gostaria de saber onde se encontra a família dela !!
pois eu acho muito ineressante o caso claudia;;
e v tbm alguma opinião da família sobre esse caso terrível qeu aconteceu !!
e ver fotos dela !
gostaria de ver fotos !!
saber sobre a família dela !
porque eu acho uma garota muito interessante !!
Olá. Nasci nos anos 80 e só vim a saber só Caso Claudia hoje, por acaso. Assisti então ao filme e resolvi pesquisar a respeito e assim encontrei seu blog. Gostei muito da sua análise sobre o filme. Parabéns!
Encontrei uma cópia do filme,(OK.RU),vou assistir.Não sabia que o nome da protagonista era Flávia,o título é incoerente,quanto à advertência da ''coincidência'',como no filme sobre Carlinhos,''O Sequestro'',deve ser pelo medo da família entrar na justiça proibindo ou querendo porcentagem do lucro.
Em ''Droga Maldita'',Vanusa pergunta quem matou Cláudia Lessin.
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