O Beco da Fome carioca, situado nos arredores da Cinelândia, produziu filmes bastante curiosos. Primos pobres da Boca do Lixo paulistana, os cineastas independentes do Rio igualmente desenvolveram estética própria, que merecerá aqui revisão honesta e lúdica, como sempre livre de paranóias ideológicas e cinemanovismos messiânicos.
Pode-se dizer que, no espaço geográfico das ruas Senador Dantas, Álvaro Alvim e adjacências, os cariocas fizeram as coisas da sua forma: bebendo hectolitros de chopp, transando nos hotéis baratos -- e, de camaradagem em camaradagem, pulando de um trabalho a outro.
No Rio, diferente de São Paulo, a grana corria menos frouxa e a liberalidade mais quente. A praça Floriano, de madrugada, fervia de homossexuais e travestis. Uma discussão sobre roteiro ou efeitos especiais podia terminar em grossa pancadaria. Algumas jovens suburbanas vinham de longe em busca de namorados cinéfilos. Um vendedor de amendoins traficava maconha. E, a partir dos anos 80, betamax e vhs de pornôs estrangeiros corriam de mão em mão, anunciando o fim de um ciclo.
"Escalada da Violência" (1982), de Milton Alencar Jr., é paradigma dessa febre do Beco: roteiro absurdo, trilha-sonora fantasmagórica, exploitation requentado e muita, muita vontade de se fazer cinema. A história do arquiteto que perde a família, assassinada de forma brutal, e parte para uma vingança implacável, foi tirada do blockbuster norte-americano "Desejo de Matar", de oito anos antes. E, felizmente, "Desejo de Matar" inspirou no Beco um clássico nacional: "Ódio" (1977), de Carlo Mossy. Pois em "Escalada da Violência" o que temos é cópia, diluição rasa.
Filha e mulher mortas na casa da Barra da Tijuca, o arquiteto Jaime Cortez (Deny Perrier) oscila entre o catatonismo e o desespero canastrão. Nem o cunhado Jô (Helber Rangel) consegue dialogar com ele sem um sorriso no rosto, apesar da tragédia.
A polícia incompetente, a fotografia de pesadelo e Jaime beirando a psicose convidam o espectador a fugir. Mas o herói guarda uma carta na manga: o projeto de um carro Maverick com superpoderes. Implorando o auxílio de Jô, que servira no CPOR (?), Jaime manda o carro pra oficina e faz um curso de tiro, antes de perseguir os homicidas.
Armado e motorizado, o arquiteto vai à luta, panqueca da silva. Olhando de relance, Deny Perrier de óculos escuros até lembra Peter Fonda, se o filho do velho Henry comesse bolinhos de bacalhau no Amarelinho.
Pode-se dizer que, no espaço geográfico das ruas Senador Dantas, Álvaro Alvim e adjacências, os cariocas fizeram as coisas da sua forma: bebendo hectolitros de chopp, transando nos hotéis baratos -- e, de camaradagem em camaradagem, pulando de um trabalho a outro.
No Rio, diferente de São Paulo, a grana corria menos frouxa e a liberalidade mais quente. A praça Floriano, de madrugada, fervia de homossexuais e travestis. Uma discussão sobre roteiro ou efeitos especiais podia terminar em grossa pancadaria. Algumas jovens suburbanas vinham de longe em busca de namorados cinéfilos. Um vendedor de amendoins traficava maconha. E, a partir dos anos 80, betamax e vhs de pornôs estrangeiros corriam de mão em mão, anunciando o fim de um ciclo.
"Escalada da Violência" (1982), de Milton Alencar Jr., é paradigma dessa febre do Beco: roteiro absurdo, trilha-sonora fantasmagórica, exploitation requentado e muita, muita vontade de se fazer cinema. A história do arquiteto que perde a família, assassinada de forma brutal, e parte para uma vingança implacável, foi tirada do blockbuster norte-americano "Desejo de Matar", de oito anos antes. E, felizmente, "Desejo de Matar" inspirou no Beco um clássico nacional: "Ódio" (1977), de Carlo Mossy. Pois em "Escalada da Violência" o que temos é cópia, diluição rasa.
Filha e mulher mortas na casa da Barra da Tijuca, o arquiteto Jaime Cortez (Deny Perrier) oscila entre o catatonismo e o desespero canastrão. Nem o cunhado Jô (Helber Rangel) consegue dialogar com ele sem um sorriso no rosto, apesar da tragédia.
A polícia incompetente, a fotografia de pesadelo e Jaime beirando a psicose convidam o espectador a fugir. Mas o herói guarda uma carta na manga: o projeto de um carro Maverick com superpoderes. Implorando o auxílio de Jô, que servira no CPOR (?), Jaime manda o carro pra oficina e faz um curso de tiro, antes de perseguir os homicidas.
Armado e motorizado, o arquiteto vai à luta, panqueca da silva. Olhando de relance, Deny Perrier de óculos escuros até lembra Peter Fonda, se o filho do velho Henry comesse bolinhos de bacalhau no Amarelinho.
Lembrem que estamos no Rio, início dos anos 80, um calor dos diabos, governo Chagas Freitas. Se você estivesse na mesma situação e precisasse de informações do submundo, quem procuraria? Acertou quem respondeu Wilson Grey, no incrível papel do bicheiro Rato Seco. Em 82, exatos 165 filmes no currículo, Grey sabia de tudo e mais um pouco. Dando expediente em um botequim fétido no Rio Comprido, Rato Seco conta o suficiente para Jaime iniciar a caça.
Um a um, os malandros vão caindo. No meio deles, Jaime e Jô explodem transeuntes de lambuja, mas quem se importa? "Nessa cidade não há inocentes!", vira o lema de Jaime, à vontade no estilo Charles Bronson.
Massa, ex-pm, é o primeiro a ser tocaiado, graças à vigarice de sua namorada, Matilde, dançarina da Boate Dolly, que transa com Jaime em um motelzinho da Via Dutra. A cilada acontece em meio a uma espécie de ménage à trois, envolvendo Massa, Matilde, o comparsa Ventania e um torturante disco de Waldick Soriano na vitrola. Dominado por Matilde, Jô leva um tiro e agoniza. Jaime não interrompe o serviço e vão parar todos em uma praia deserta. Antes que os bandidos partam desta pra melhor, entregam o terceiro cúmplice, um certo Piolho.
Co-autores do filme -- inclusive o roteirista José Louzeiro -- afirmam que ele não foi lançado nos cinemas, caindo direto em home video. Teria havido um entrevero entre produção e exibidores. Porém, na maioria das fontes confiáveis, existem inclusive as datas e salas de lançamento: 9 de maio de 1983, em São Paulo, no Marabá; 13 de junho de 83 no Palácio, Rio de Janeiro. De qualquer forma, bancado por um rico mecenas, convencido a se meter em cinema por seus amigos do ramo, "Escalada da Violência" deu emprego a um monte de gente, e hoje convém ser degustado por espectadores de fino paladar.
Retrospectiva do Beco que se preze tem que ter "Escalada da Violência", "Rapazes das Calçadas", "Sexo e Sangue" e mais uma meia dúzia de pérolas. Ah, sim!, não podemos esquecer de "Viagem ao Céu da Boca", cujo título merecia ser "Viagem ao Céu do Beco" -- ou ao inferno, como preferirem. Pois muito mais do que na dicotomia glauberiana, é naquele trecho da terra do sol que Deus e o Diabo ainda se encontram, tomam umas e outras, e até esquecem o duelo, afundados nas poltronas do Orly ou do Rex. "Mais fortes são os poderes do cinema popular!" -- diriam o bem e o mal em uníssono.
Massa, ex-pm, é o primeiro a ser tocaiado, graças à vigarice de sua namorada, Matilde, dançarina da Boate Dolly, que transa com Jaime em um motelzinho da Via Dutra. A cilada acontece em meio a uma espécie de ménage à trois, envolvendo Massa, Matilde, o comparsa Ventania e um torturante disco de Waldick Soriano na vitrola. Dominado por Matilde, Jô leva um tiro e agoniza. Jaime não interrompe o serviço e vão parar todos em uma praia deserta. Antes que os bandidos partam desta pra melhor, entregam o terceiro cúmplice, um certo Piolho.
Co-autores do filme -- inclusive o roteirista José Louzeiro -- afirmam que ele não foi lançado nos cinemas, caindo direto em home video. Teria havido um entrevero entre produção e exibidores. Porém, na maioria das fontes confiáveis, existem inclusive as datas e salas de lançamento: 9 de maio de 1983, em São Paulo, no Marabá; 13 de junho de 83 no Palácio, Rio de Janeiro. De qualquer forma, bancado por um rico mecenas, convencido a se meter em cinema por seus amigos do ramo, "Escalada da Violência" deu emprego a um monte de gente, e hoje convém ser degustado por espectadores de fino paladar.
Retrospectiva do Beco que se preze tem que ter "Escalada da Violência", "Rapazes das Calçadas", "Sexo e Sangue" e mais uma meia dúzia de pérolas. Ah, sim!, não podemos esquecer de "Viagem ao Céu da Boca", cujo título merecia ser "Viagem ao Céu do Beco" -- ou ao inferno, como preferirem. Pois muito mais do que na dicotomia glauberiana, é naquele trecho da terra do sol que Deus e o Diabo ainda se encontram, tomam umas e outras, e até esquecem o duelo, afundados nas poltronas do Orly ou do Rex. "Mais fortes são os poderes do cinema popular!" -- diriam o bem e o mal em uníssono.
7 comentários:
Quando estive no Rio, dei um jeito de passar no Beco da Fome. Vou dar um jeito de ver este "Escalada da Violência". Só não gostei de ver você falando mal da música do Waldik Soriano. De resto, a crítica é antológica.
Matheus Trunk
www.violaosardinhaepao.blogspot.com
Ola, sou um grande admirador do genero pornochanchada, e tambem do seu blog.
Resolvi dar a minha contribuição, criando alguns blogs sobre minhas atrizes pornochancheiras favoritas
Já coloquei o link do seu blog nas listas de links de todos os meus blogs, se voce puder fazer o mesmo publicando meus links no seu blog tbm, e ajudar a divulgar meus blogs, seria incrivel . . . o que voce acha ? ? ?
Primeiramente de uma olhada nos blogs, alguns ainda estão muito no começo, e se gostar . . . . . .
segue os links dos blogs das atrizes
MARTA ANDERSON
http://martanderson.blogspot.com/
WILZA CARLA
http://wilzacarla.blogspot.com/
MARIVALDA
http://marivaldavedete.blogspot.com/
SANDRA BRÉA
http://sandrabreasuperstar.blogspot.com/
SALA ESPECIAL
http://sandrabreasuperstar.blogspot.com/
OU AQUI UM LINK COM TODOS OS MEUS BLOGS
http://www.theblitzkids.com/pornochanchada/blogspornochanchada.html
Espero que voce curta meu trabalho, e visite sempre, porque estou apenas começando
obrigado
Danilo
Beco da Fome combina com as suas andanças pelo Rio, Matheus. É uma brincadeira com o Waldick. Também gosto muito dele, qualquer dia vou escrever sobre um dos longas que ele estrelou.
Olá, Danilo. Vou conferir os links, só pela presença da Sandra Bréa já aguça a curiosidade.
Olá! Há anos venho procurando o filme "Escalada da Violência". Você poderia me dizer, por favor, como posso encontrar uma cópia dele? Será que tem em DVD? √c pode não acreditar, mas na época das filmagens, eu e minha mãe fizemos parte da figuração deste filme. A cena que eu faria acabou sendo cancelada, por causa do tempo (seria uma cena na praia, onde eu e outras crianças estariamos jogando bola ), mas a cena da minha mãe ( hoje já falecida ) foi rodada. Gostaria muito de assistir esse filme e matar essa curiosidade, pois, como eu era criança, nem fiquei sabendo da estréia desse filme nos cinemas, eu tinha apenas 11 anos. Será que a cena da minha mãe está no filme? Se vc puder me ajudar. Serei muito grato. Obrigado e fica com Deus!
PS: Meu email é andmello1@yahoo.com.br
Hoje, sou desenhista do Jornal O Globo.
Cheguei aqui a partir de um link na seção de comentários do blog do Barcinski e adorei. Parabéns pelo blog e pela resenha. Já entrou na minha lista de leituras indispensáveis.
Pouco se fala no Beco da fome.Adorei.Já que é fã de Sandra Bréa como eu,devia fazer um perfil sobre a atriz.Abs.
Minha mae e irmas tb fizeram figuração deste filme...como podemos ve-lo?
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