Nelson Rodrigues diria o seguinte: “Dez anos, amigos, não são dez dias!” Portanto, todos os descontos devem ser dados a “Ritmo Alucinante” (1975), filme-registro do longínquo festival de rock realizado no campo do Botafogo, sob o patrocínio dos cigarros Hollywood, em fevereiro de 1975.
Quase dez anos exatos antes do primeiro Rock in Rio (janeiro de 85) colocar milhares de pessoas assistindo a dezenas de shows nacionais e estrangeiros, o modesto festival de 75 não poderia ser mais improvisado: somente artistas nacionais, um espaço pequeno encravado na Zona Sul do Rio, e uma sensação de heroísmo no ar, do tempo em que Rita Lee dizia que “roqueiro brasileiro tinha cara de bandido”.
Bandidos ou não, lá estavam a própria Rita, na flor dos 27 anos – com o grupo Tutti Frutti –, a banda Vímana (de Ritchie, Lobão e Lulu Santos, quase imberbes), Erasmo Carlos, Celly Campello, O Peso e, finalizando, Raul Seixas, em uma performance espetacular.
As lendas que envolvem a preparação e execução do projeto são inúmeras. Nos quatro sábados em que durou o espetáculo aconteceu de quase tudo: um desabamento no palco, uma chuva torrencial e, principalmente, o longo e heróico discurso de Raul a favor da Sociedade Alternativa, em pleno governo autoritário do general Ernesto Geisel.
Grande parte disso foi registrada no filme e está pronta a ser apreciada. Uma óbvia inspiração de “Woodstock” – o documentário de Michael Wadleigh, feito seis anos antes – é evidente, e a chuva deve ter contribuído ainda mais para que o ouriço fosse lembrado. Mas não se iludam: o que “Ritmo Alucinante” mostra é a luta comovente de jovens do terceiro mundo, em um país fechado e paranóico, na tentativa de respirarem vida e criarem uma cultura única, de referências globais mas com o sabor de coisa local, bem brasileira.
Essa questão acentua-se nas entrevistas que permeiam os números musicais, quando Scarlet Moon (futura esposa de um dos músicos presentes, Lulu Santos), conversa com os artistas e busca contextualizá-los para o espectador. Erasmo Carlos, por exemplo, surge reclamando da censura, de chapéu negro e cabelos compridos, sentado no meio do campo da Rua General Severiano. Logo depois Celly Campello está ao lado dele, ainda com um ar jovial de boa moça, contando um pouco da sua carreira para uma atenta (e também muito mocinha) Scarlet.
A parte principal é ocupada pelas apresentações: Rita Lee aparece como um Ziggy Stardust renascido, inclusive nos trejeitos; o Peso e Vímana estão na sintonia do público; e Celly e Erasmo não ficam mal em roupagem setentista. Mas quase tudo parece uma preparação para Raul Seixas – quando o filme termina apoteótico.
Somente por adendo, algumas fontes citam que o Terço e os Mutantes (de Sérgio Dias) se apresentaram, mas eles não são mostrados – ao menos não na antiqüíssima versão lançada em Vhs que possuo. Uma boa razão para isso pode ter sido a chuva, que espantou técnicos e público do local no segundo sábado de shows – e que quase fez com que a continuação na semana seguinte fosse cancelada.
Dirigido por Marcelo França, realizado com duas câmeras (uma fixa e outra em movimento) e imagem muito granulada, “Ritmo Alucinante” talvez seja o mais importante registro do rock brasileiro nos anos 70. Depois maiores e menores festivais vieram até que, em 1985, o país entrasse definitivamente na rota mundial deles. Só que os tempos eram outros e não coube ao cinema, mas à televisão, registrar o momento histórico.
E sob a perspectiva de 2006, quando o Brasil exporta seu know-how na realização de mega-eventos e até os Rolling Stones se apresentam em plena Praia de Copacabana, vale a pena lembrarmos da época em que – no bairro vizinho, Botafogo – tudo foi tão mais difícil e incerto. Graças ao faro documental de alguns, a história começava a ser contada, para deleite dos sortudos presentes e das futuras gerações.
Quase dez anos exatos antes do primeiro Rock in Rio (janeiro de 85) colocar milhares de pessoas assistindo a dezenas de shows nacionais e estrangeiros, o modesto festival de 75 não poderia ser mais improvisado: somente artistas nacionais, um espaço pequeno encravado na Zona Sul do Rio, e uma sensação de heroísmo no ar, do tempo em que Rita Lee dizia que “roqueiro brasileiro tinha cara de bandido”.
Bandidos ou não, lá estavam a própria Rita, na flor dos 27 anos – com o grupo Tutti Frutti –, a banda Vímana (de Ritchie, Lobão e Lulu Santos, quase imberbes), Erasmo Carlos, Celly Campello, O Peso e, finalizando, Raul Seixas, em uma performance espetacular.
As lendas que envolvem a preparação e execução do projeto são inúmeras. Nos quatro sábados em que durou o espetáculo aconteceu de quase tudo: um desabamento no palco, uma chuva torrencial e, principalmente, o longo e heróico discurso de Raul a favor da Sociedade Alternativa, em pleno governo autoritário do general Ernesto Geisel.
Grande parte disso foi registrada no filme e está pronta a ser apreciada. Uma óbvia inspiração de “Woodstock” – o documentário de Michael Wadleigh, feito seis anos antes – é evidente, e a chuva deve ter contribuído ainda mais para que o ouriço fosse lembrado. Mas não se iludam: o que “Ritmo Alucinante” mostra é a luta comovente de jovens do terceiro mundo, em um país fechado e paranóico, na tentativa de respirarem vida e criarem uma cultura única, de referências globais mas com o sabor de coisa local, bem brasileira.
Essa questão acentua-se nas entrevistas que permeiam os números musicais, quando Scarlet Moon (futura esposa de um dos músicos presentes, Lulu Santos), conversa com os artistas e busca contextualizá-los para o espectador. Erasmo Carlos, por exemplo, surge reclamando da censura, de chapéu negro e cabelos compridos, sentado no meio do campo da Rua General Severiano. Logo depois Celly Campello está ao lado dele, ainda com um ar jovial de boa moça, contando um pouco da sua carreira para uma atenta (e também muito mocinha) Scarlet.
A parte principal é ocupada pelas apresentações: Rita Lee aparece como um Ziggy Stardust renascido, inclusive nos trejeitos; o Peso e Vímana estão na sintonia do público; e Celly e Erasmo não ficam mal em roupagem setentista. Mas quase tudo parece uma preparação para Raul Seixas – quando o filme termina apoteótico.
Somente por adendo, algumas fontes citam que o Terço e os Mutantes (de Sérgio Dias) se apresentaram, mas eles não são mostrados – ao menos não na antiqüíssima versão lançada em Vhs que possuo. Uma boa razão para isso pode ter sido a chuva, que espantou técnicos e público do local no segundo sábado de shows – e que quase fez com que a continuação na semana seguinte fosse cancelada.
Dirigido por Marcelo França, realizado com duas câmeras (uma fixa e outra em movimento) e imagem muito granulada, “Ritmo Alucinante” talvez seja o mais importante registro do rock brasileiro nos anos 70. Depois maiores e menores festivais vieram até que, em 1985, o país entrasse definitivamente na rota mundial deles. Só que os tempos eram outros e não coube ao cinema, mas à televisão, registrar o momento histórico.
E sob a perspectiva de 2006, quando o Brasil exporta seu know-how na realização de mega-eventos e até os Rolling Stones se apresentam em plena Praia de Copacabana, vale a pena lembrarmos da época em que – no bairro vizinho, Botafogo – tudo foi tão mais difícil e incerto. Graças ao faro documental de alguns, a história começava a ser contada, para deleite dos sortudos presentes e das futuras gerações.
5 comentários:
Andréa, vc está c/ um documento histórico nas mãos! Afinal, qtas pessoas possuem esse VHS?
Beijo!
Sergio, saiu pela Globovideo, não tem data, mas deve ter sido no inicio dos anos 80. Está mais do que na hora de ser relançado em dvd :) Beijos!
Amigos, consegui hoje uma cópia em DVD. Estou muito feliz pois sou um apreciador do, apesar de todas as dificuldades, mágico momento cultural das décadas de 60/70.
Andréa,
Enquanto escrevo escuto o velho e bom vinil Em Busca do Tempo Perdido. Estou em Fortaleza, sou músico e pesquisador da produção musical cearense e gostaria de saber se é póssível conseguir uma cópia, mesmo em vhs, do filme Ritmo Alucinante, com a genial performance de meu dileto amigo Luís Carlos Porto (O Peso).
Abs,
Calé Alencar
Andrea boa noite, "long live rock and roll", é uma pena uma preciosidade destas nao ter saido ainda em dvd, vc. sabe como posso adquirir uma cópia?
Abraços Paulão
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