
Os maiores cineastas brasileiros ainda vivos, contam-se nos dedos das mãos. Não há nenhum favor em incluirmos Carlo Mossy neste rol seleto -- antes, é de se espantar que outros, com muito menos talento, vontade e capacidade criativa, estejam sempre lembrados, ao sacrifício dos verdadeiros construtores do imaginário fílmico nacional.
Claro que, ator, produtor ou diretor, Mossy não foi perfeito: enquanto algumas produções da Vidya tornaram-se apenas divertida nostalgia graffiti, outras -- "Giselle", "Ódio", "Crazy", etc -- continuam surpreendendo gerações e gerações de pesquisadores e cinéfilos.
Bastante influenciado pelo correção técnica e narrativa da indústria norte-americana, é curioso que seus melhores filmes pareçam mais um híbrido de brasilidade malandra com o cinema europeu dos gialli italianos e do erotismo francês. "O Seqüestro" (1981), exploitation do Caso Carlinhos -- menino seqüestrado no Rio, em 1973, e desaparecido para sempre -- remete àquelas semelhanças com perfeição.
Baseados no livro do jornalista Valério Meinel, o roteiro de José Louzeiro e a direção de Victor di Mello disfarçam, trocam o nome de Carlinhos por Zezinho, e o bairro de Laranjeiras por Santa Teresa. O objetivo era construir livremente um inferno de amoralidade cínica, investigando o submundo da corrupção policial e a desgraça de um pai, que supostamente encarcerou o filho em troca de recompensa financeira.
Típica engenhosidade das produções de Victor e Mossy, à trilha-sonora encomendada -- dessa vez aos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle -- sobrepõem-se imagens da noite carioca: a Praça Mauá, o Jockey Club, o Cinema Roxy. Até que, na última estrofe (Isso aí não é gente/ e parece com gente/ mas é um animal...), a câmera focalize um sorridente cachorrinho de pelúcia, para simbolizar o "animal" da canção (!).
Expresso o alívio cômico, vemos uma senhora assaltada em frente ao Ponto Frio da Av. Copacabana; enquanto isso, na delegacia, travestis em fúria são subornados pela polícia. Ah sim, estamos na "Casa da Lei": Mossy, é o Detetive Vilarinho; Jorge Dória, o Delegado Marcondes; Milton Moraes, o Subdelegado Argola. Os três comandam as investigações do Caso Zezinho.
A mãe do menino, Fátima (Helena Ramos) logo revela-se uma ninfomaníaca. O pai, Pedro Pereira (Adriano Reys), crápula dissimulado. No subterrâneo da instituição, torturas e sevícias correm soltas. Quando um banqueiro (Celso Faria) paga o resgate, o dinheiro é dividido entre pai e autoridades. Por fim, descobrimos que o filme foi (sic) "dedicado a SERPICO e a todos que tentam fazer da polícia uma instituição digna, capaz de oferecer realmente segurança a todo e qualquer cidadão".
Vale ressaltar que a conclusão da história apresentada é a do livro de Valério Meinel. Outro lendário repórter policial brasileiro, Octávio "Pena Branca" Ribeiro, tinha versão própria para o Caso Carlinhos, inocentando o pai -- como atesta seu depoimento no livro "Barra Pesada", da falecida Editora Codecri. A verdade é que a desafortunada criança da vida real nunca apareceu, enquanto uma penca de programas sensacionalistas dos anos 70 e 80 anunciavam a localização do garoto, cada vez em um canto diferente do país.
Curiosidade para as moças e rapazes que apreciam em Mossy não apenas seu talento cinematográfico: já no final da trama, vemos a única cena de nudez frontal da carreira do ator. O Detetive Vilarinho, flagrado em intercurso com uma "boneca" oitentista (Ângela Leclery, a mesma do assustador "Viagem ao Céu da Boca", com roteiro também de José Louzeiro) levanta-se inteiramente nu, e discute com o Subdelegado Argola, antes de afanar um dinheirinho da penteadeira da moçoila.
Exibido no Palácio 1 da Cinelândia -- hoje, a maior sala do Rio; na época, uma sala mediana -- entre novembro de 81 e fevereiro de 82, "O Seqüestro" andou morno de bilheteria; e, de certa forma, encerrou a grande era do cinema policial brasileiro dos anos 70. Boa notícia é que, junto com um pacote de outros cinco filmes de Mossy, foi tirado do limbo e relançado em edição bem cuidada. Com imagem e som perfeitos, o que já era bom, em dvd ficou ainda melhor.
Claro que, ator, produtor ou diretor, Mossy não foi perfeito: enquanto algumas produções da Vidya tornaram-se apenas divertida nostalgia graffiti, outras -- "Giselle", "Ódio", "Crazy", etc -- continuam surpreendendo gerações e gerações de pesquisadores e cinéfilos.
Bastante influenciado pelo correção técnica e narrativa da indústria norte-americana, é curioso que seus melhores filmes pareçam mais um híbrido de brasilidade malandra com o cinema europeu dos gialli italianos e do erotismo francês. "O Seqüestro" (1981), exploitation do Caso Carlinhos -- menino seqüestrado no Rio, em 1973, e desaparecido para sempre -- remete àquelas semelhanças com perfeição.
Baseados no livro do jornalista Valério Meinel, o roteiro de José Louzeiro e a direção de Victor di Mello disfarçam, trocam o nome de Carlinhos por Zezinho, e o bairro de Laranjeiras por Santa Teresa. O objetivo era construir livremente um inferno de amoralidade cínica, investigando o submundo da corrupção policial e a desgraça de um pai, que supostamente encarcerou o filho em troca de recompensa financeira.
Típica engenhosidade das produções de Victor e Mossy, à trilha-sonora encomendada -- dessa vez aos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle -- sobrepõem-se imagens da noite carioca: a Praça Mauá, o Jockey Club, o Cinema Roxy. Até que, na última estrofe (Isso aí não é gente/ e parece com gente/ mas é um animal...), a câmera focalize um sorridente cachorrinho de pelúcia, para simbolizar o "animal" da canção (!).
Expresso o alívio cômico, vemos uma senhora assaltada em frente ao Ponto Frio da Av. Copacabana; enquanto isso, na delegacia, travestis em fúria são subornados pela polícia. Ah sim, estamos na "Casa da Lei": Mossy, é o Detetive Vilarinho; Jorge Dória, o Delegado Marcondes; Milton Moraes, o Subdelegado Argola. Os três comandam as investigações do Caso Zezinho.
A mãe do menino, Fátima (Helena Ramos) logo revela-se uma ninfomaníaca. O pai, Pedro Pereira (Adriano Reys), crápula dissimulado. No subterrâneo da instituição, torturas e sevícias correm soltas. Quando um banqueiro (Celso Faria) paga o resgate, o dinheiro é dividido entre pai e autoridades. Por fim, descobrimos que o filme foi (sic) "dedicado a SERPICO e a todos que tentam fazer da polícia uma instituição digna, capaz de oferecer realmente segurança a todo e qualquer cidadão".
Vale ressaltar que a conclusão da história apresentada é a do livro de Valério Meinel. Outro lendário repórter policial brasileiro, Octávio "Pena Branca" Ribeiro, tinha versão própria para o Caso Carlinhos, inocentando o pai -- como atesta seu depoimento no livro "Barra Pesada", da falecida Editora Codecri. A verdade é que a desafortunada criança da vida real nunca apareceu, enquanto uma penca de programas sensacionalistas dos anos 70 e 80 anunciavam a localização do garoto, cada vez em um canto diferente do país.
Curiosidade para as moças e rapazes que apreciam em Mossy não apenas seu talento cinematográfico: já no final da trama, vemos a única cena de nudez frontal da carreira do ator. O Detetive Vilarinho, flagrado em intercurso com uma "boneca" oitentista (Ângela Leclery, a mesma do assustador "Viagem ao Céu da Boca", com roteiro também de José Louzeiro) levanta-se inteiramente nu, e discute com o Subdelegado Argola, antes de afanar um dinheirinho da penteadeira da moçoila.
Exibido no Palácio 1 da Cinelândia -- hoje, a maior sala do Rio; na época, uma sala mediana -- entre novembro de 81 e fevereiro de 82, "O Seqüestro" andou morno de bilheteria; e, de certa forma, encerrou a grande era do cinema policial brasileiro dos anos 70. Boa notícia é que, junto com um pacote de outros cinco filmes de Mossy, foi tirado do limbo e relançado em edição bem cuidada. Com imagem e som perfeitos, o que já era bom, em dvd ficou ainda melhor.
6 comentários:
Oi Andrea. Gosto de "O Sequestro", mas não sou grande fã. Agora, o filme se torna completamente obrigatório pela presença do grande Milton Moraes, na minha opinião um dos cinco maiores atores do Brasil. Esse é gênio e merecia ser muito mais lembrado também, como o genial Mossy.
Oi Matheus, realmente o Milton roubava a cena em qualquer filme que participava. No "Sequestro" tem as broncas dele no Mossy, inclusive na cena final, que são muito engraçadas :)
Onde vc consegui esse filme?
Eu tenho muita dificuldades de arranjar filmes antigos.. Se puder me indicar um meio eu ficaria muito agradecida...
Adorei o blog.
[uma perdida na net]
Anna C.
conseguiu*...
uma breve correção...
Andrea, o Festival de Brasília terá Mossy em dose dupla como ator neste ano: em "Cleópatra", do Bressane, e no meu humilde "A Volta do Regresso". Infelizmente, o festival não o convidou, acho uma grande bobagem da parte deles.
Eu fiquei impressionado com a nudez-frontal do ator,eu acho que no cinema a cena foi vetada.Os filmes do David Cardoso (vi vários no cinema) nenhum tinha nu frontal,na internet as cenas são completamente diferentes.
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