Ninguém precisa se assustar com os títulos sugestivos dos filmes da Boca do Lixo, que aumentavam o sensacionalismo na proporção em que a indústria do cinema paulistano enfrentava dificuldades e declinava. Dessa forma, na virada da década de 70 para 80, um filme chamado “A Noite das Taras” (1980) não significava propriamente um espetáculo pornô ou de baixo nível, sendo um interessante exercício de cinema – onde o erotismo foi apenas chamariz comercial, tão suave quanto o que vemos hoje em dia na novela das oito.
“A Noite das Taras”, dividido em três episódios, faz com que três nomes conhecidos do esquema de produção da Boca – John Doo, David Cardoso e Ody Fraga – conduzam histórias diferentes girando sobre um mesmo tema: a noite de marinheiros, que desembarcados em Santos, se deslocam até São Paulo em busca de aventuras.
Os filmes em episódios eram uma saída inteligente para o cinema brasileiro daquele tempo, já que eram fáceis de fazer e permitiam que vários profissionais trabalhassem, repartissem os lucros e, em alguns casos, os gastos com a produção. A DaCar, produtora do galã David Cardoso, realizou filmes antológicos do gênero, e vamos analisá-los aqui um em seguida do outro.
David Cardoso – o homem por trás da marca – é figura polêmica, mas goste-se dele ou não sua trajetória profissional foi notável: a exemplo de Carlo Mossy e Reginaldo Faria – galãs e visionários cineastas – aceitar David significa entender uma maneira de se fazer cinema no Brasil sem depender exclusivamente das benesses do dinheiro público. Vale acrescentar também, por curiosidade, que, apesar de não ter sua produtora fisicamente situada na Boca, era lá que David buscava atores e técnicos, tornando seus filmes quase um paradigma do quadrilátero da Luz.
“A Noite das Taras” começa com o episódio “A Carta de Érico”, onde o chinês naturalizado paulistano John Doo mostra um marinheiro recém-chegado com uma missão: entregar uma carta em São Paulo para uma mulher misteriosa (Patrícia Scalvi), infeliz e viciada em drogas, moradora de um aristocrático apartamento.
Notem que o marinheiro é ninguém menos que Arlindo Barreto, o futuro palhaço Bozo, que antes de se consagrar como ídolo da criançada fez história na rua do Triunfo. Não há grandes surpresas na trama linear, que serve apenas de atmosfera e ambientação para as belas cenas de Scalvi nua e à sedução revigorante do marinheiro falastrão.
O segundo episódio, “Peixe Fora d'Água”, dirigido pelo próprio David Cardoso, conta sobre uma quadrilha dirigida por uma ninfomaníaca (Matilde Mastrangi), que faz de tudo – exatamente tudo – para que um marinheiro recém-desembarcado cometa um crime. Mastrangi, parecendo uma diva do cinema italiano, nos faz lembrar que, afinal, foi de lá que o cinema brasileiro seqüestrou a idéia dos filmes em episódios, a exemplo do clássico “Boccaccio 70”, onde Matilde deixaria Anita Ekberg intimidada.
Já a terceira história, “Julio e o Paraíso”, dirigida por Ody Fraga, é – talvez involuntariamente – a melhor de todas: um grupo de moças paupérrimas não tem o que comer, vão ser despejadas do cômodo onde moram e resolvem seduzir um marinheiro para roubá-lo. Como parte do plano, matam o homem através de uma maratona sexual, no subtexto que mescla influências de Luís Buñuel, mitologia grega e José Mojica Marins. Um clássico do cinema da Boca.
“A Noite das Taras” deve ter feito sucesso, pois David bancou dois anos depois a continuação, também em episódios – e no meio tempo, em 81, lançou “Pornô!” e "Aqui, Tarados!", que dialogam com os dois, formando uma quadrilogia que merece ser vista em seqüência, como um só filme conceitual em pequenas partes. Entre altos e baixos, cada uma destas histórias simples e popularescas traz em si algum encanto que as torna interessantes, divertidas ou, quem sabe, até mesmo inspiradoras de idéias para jovens cineastas que enxerguem longe.
“A Noite das Taras”, dividido em três episódios, faz com que três nomes conhecidos do esquema de produção da Boca – John Doo, David Cardoso e Ody Fraga – conduzam histórias diferentes girando sobre um mesmo tema: a noite de marinheiros, que desembarcados em Santos, se deslocam até São Paulo em busca de aventuras.
Os filmes em episódios eram uma saída inteligente para o cinema brasileiro daquele tempo, já que eram fáceis de fazer e permitiam que vários profissionais trabalhassem, repartissem os lucros e, em alguns casos, os gastos com a produção. A DaCar, produtora do galã David Cardoso, realizou filmes antológicos do gênero, e vamos analisá-los aqui um em seguida do outro.
David Cardoso – o homem por trás da marca – é figura polêmica, mas goste-se dele ou não sua trajetória profissional foi notável: a exemplo de Carlo Mossy e Reginaldo Faria – galãs e visionários cineastas – aceitar David significa entender uma maneira de se fazer cinema no Brasil sem depender exclusivamente das benesses do dinheiro público. Vale acrescentar também, por curiosidade, que, apesar de não ter sua produtora fisicamente situada na Boca, era lá que David buscava atores e técnicos, tornando seus filmes quase um paradigma do quadrilátero da Luz.
“A Noite das Taras” começa com o episódio “A Carta de Érico”, onde o chinês naturalizado paulistano John Doo mostra um marinheiro recém-chegado com uma missão: entregar uma carta em São Paulo para uma mulher misteriosa (Patrícia Scalvi), infeliz e viciada em drogas, moradora de um aristocrático apartamento.
Notem que o marinheiro é ninguém menos que Arlindo Barreto, o futuro palhaço Bozo, que antes de se consagrar como ídolo da criançada fez história na rua do Triunfo. Não há grandes surpresas na trama linear, que serve apenas de atmosfera e ambientação para as belas cenas de Scalvi nua e à sedução revigorante do marinheiro falastrão.
O segundo episódio, “Peixe Fora d'Água”, dirigido pelo próprio David Cardoso, conta sobre uma quadrilha dirigida por uma ninfomaníaca (Matilde Mastrangi), que faz de tudo – exatamente tudo – para que um marinheiro recém-desembarcado cometa um crime. Mastrangi, parecendo uma diva do cinema italiano, nos faz lembrar que, afinal, foi de lá que o cinema brasileiro seqüestrou a idéia dos filmes em episódios, a exemplo do clássico “Boccaccio 70”, onde Matilde deixaria Anita Ekberg intimidada.
Já a terceira história, “Julio e o Paraíso”, dirigida por Ody Fraga, é – talvez involuntariamente – a melhor de todas: um grupo de moças paupérrimas não tem o que comer, vão ser despejadas do cômodo onde moram e resolvem seduzir um marinheiro para roubá-lo. Como parte do plano, matam o homem através de uma maratona sexual, no subtexto que mescla influências de Luís Buñuel, mitologia grega e José Mojica Marins. Um clássico do cinema da Boca.
“A Noite das Taras” deve ter feito sucesso, pois David bancou dois anos depois a continuação, também em episódios – e no meio tempo, em 81, lançou “Pornô!” e "Aqui, Tarados!", que dialogam com os dois, formando uma quadrilogia que merece ser vista em seqüência, como um só filme conceitual em pequenas partes. Entre altos e baixos, cada uma destas histórias simples e popularescas traz em si algum encanto que as torna interessantes, divertidas ou, quem sabe, até mesmo inspiradoras de idéias para jovens cineastas que enxerguem longe.
9 comentários:
Também gosto deste Noite das Taras. E você vem se superando Andréia, resolveu agora comentar tudo do mestre David, absolutamente genial ! Não sabia que aquele cara do primeiro episódio era o Bozo. E você leu minha entrevista com o Aguilar ? A Patrícia Scalvi é defidamente citada, como a musa do Edu. A primeira fez que vi esse terceiro episódio, achei demais também. A seguda vez, nem tanto, mas mesmo assim é legal. Queria ver mais coisas do John Doo, parece que sumiram com o tempo. Você já viu COMO AFOGAR O GANSO do Conrado Sanchez ?? Ele está impagável como o dono de uma lavanderia chinesa. A Matilde, pra mim, pessoalmente é superior a Anita Ekberg, além de linda, ela é ótima atriz. O David tudo bem, não é grande ator, embora seje um sonho meu fazer um filme com ele, o dirigindo. O tenho como grande ídolo, mas acho ele bom diretor (vide CORPO E ALMA DE MULHER que é um clássico !!) e ótimo produtor. A próxima entrevista minha é com o Concórdio Matarazzo, que foi assistente de câmera em A NOITE DAS TARAS II.
Prezada Andréa, como uma espécie de agradecimento a mais um belo texto seu, publiquei em meu fotolog http://www.fotolog.com/sao_paulo uma foto do Cine Marabá na época em que exibia justamente "A Noite das Taras".
Também gostei do filme, especialmente do 1º e 3º episódios. Interessante essa história de o Arlindo Barreto depois ter virado o Bozo... parecida com a de uma apresentadora de programas infantis, só que ela hoje renega e proíbe a exibição de certo filme que fez.
Abraço
Olá!! Esse filme é ótimo msm! recém consegui uma cópia. Fico muito feliz que vc vá agora escrever sobre os filmes do David Cardoso!!
O "aqui Tarados" tbém é muito bom, principalmente as 2 últimas histórias.
Abraços
Oi Matheus, sei que a Patrícia Scalvi é a musa do Edu sim, inclusive gostaria muito de entrevistá-la em breve. E por falar em entrevista, quando as próximas estarão prontas? Estou aguardando :) Sobre o David, se você tiver oportunidade de trabalhar com ele será um privilégio, poucas pessoas no mundo tem um currículo igual, produzindo, dirigindo e atuando nas condições mais diversas possíveis. E me mantenha informada da Zingu! :)
Oi Jorge, muito legal a foto do Marabá nos tempos áureos, passando justamente o "Noite Das Taras" :) Vale acrescentar que o Arlindo Barreto depois de passar pela Boca e pelo programa do Bozo, hoje em dia é pastor evangélico. Abraços.
Oi José Rodolfo, uma prospecção dos melhores filmes da DaCar era imprescindível aqui para o site, bem como as que farei de outros grandes produtores da Boca. Assisti ao "Aqui, Tarados!" faz muito tempo e não possuo cópia para revê-lo, por isso ele ficará de fora, mas assim que conseguir uma cópia em bom estado falarei tb sobre ele. Um abraço.
Eu tenho esse dvd e muitos outros do cinema nacional à venda. Interessados me escrevam: guto_marcio@hotmail.com
Oi pessoal, meu nome é Juliana e sou filha do cineasta John Doo. Fiquei muito feliz de saber que ainda admiram o trabalho dele.
Gostaria de saber se alguem possui copias em dvd dos filmes dele (ator, diretor, produtor...) porque, por mais estranho que pareça, nós não temos cópias dos filmes, eles estavam todos em rolos e estragaram...
Se alguém puder me ajudar vou ficar pra sempre agradecida !!!
Muito obrigada !!!
meu email é juyling@gmail.com
gostei da terceira estória, talvez pela beleza das ninfetas como joyce elaine, gostaria de saber mais sobre esta atriz
gostei muito da sexo de sexo anal com a matilde.
Estou vendo o filme e relendo a resenha.Gostei do termo "polêmico" em relação ao David,não sabia dessa fama.
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