Para quem sente-se atônito e não compreende a questão da violência urbana e da desigualdade social no Brasil, recomendo a leitura urgente dos livros do jornalista e escritor José Louzeiro, assim como uma revisão atenta dos quase vinte filmes que Louzeiro roteirizou até hoje, a maioria baseados em suas polêmicas reportagens.
Maranhense radicado no Rio de Janeiro desde 1954, Louzeiro teve o privilégio de levar para as páginas da literatura, e dali para a grande tela, uma parte considerável da crônica policial dos anos 60, 70 e 80, utilizando-a como objeto de profundo estudo dos abismos que separam ricos e pobres no país.
Alguns desses livros e filmes se tornaram tão célebres que, fazendo parte do inconsciente nacional, aos poucos não diferenciamos mais personagens das obras que geraram. Lúcio Flávio, o famoso bandido carioca, hoje parece indissociável do filme-denúncia oriundo do livro de Louzeiro. Idem a história de Pixote, realizada com base no texto de sua autoria. Não fosse o talento de Louzeiro, provavelmente esses dramas exemplares da sociedade brasileira já teriam sumido na poeira do tempo ou se perdido no anonimato.
Os leitores do Estranho Encontro ganham a oportunidade de conhecer um pouco da emocionante vida deste homem de 73 anos, incisivo e coerente em suas palavras, que guardou na bagagem do que viu e ouviu nas redações dos jornais e delegacias de polícia uma infinidade de histórias para contar. E que, nesta entrevista, relembra um pouco de tudo, com a necessidade dos que ainda tem muito a dizer.
ESTRANHO ENCONTRO – Louzeiro, para começar queria que você falasse um pouco da sua infância, do seu ambiente familiar.
JOSÉ LOUZEIRO – Eu sou filho de um operário, pedreiro, que se tornaria pastor presbiteriano. Meu pai tinha um nome originalíssimo: Aproniano. Nunca vi ninguém com um nome igual. Aproniano. Era pescador, igual ao pai dele, meu avô Severo. Severo Louzeiro. Era Loureiro, mas depois eu vou explicar por que virou Louzeiro. Minha mãe, filha de tabelião, era de um lugar chamado Pinheiro; meu pai, de Guimarães. Ambos do Maranhão. Casaram, tiveram muitos filhos. Nós éramos 12. Mas todos foram morrendo, principalmente os homens. Éramos doze, por aí. Fui o primeiro a nascer homem e a ficar vivo. Tinha uma segunda mãe, a chamada mãe de leite, Teodora, uma negra maravilhosa. Ela dizia: “Esse vai ficar vivo”, e então me dava umas comidas especiais, me dava muito leite, e realmente sobrevivi.
EE – Então seu pai se tornou pastor?
JL – E daí eu tive uma infância e uma juventude muito ligadas à religião. Lia a Bíblia de noite para o meu pai, parece até a cena de um filme chamado “Vidas Amargas”, com o James Dean, em que ele é obrigado a ler a Bíblia para o pai. Aquela mesma história. Como ela é dividida em versículos, às vezes eu saltava alguns, mas meu pai puxava minha orelha. Ele sabia todos de cor. Quando eu pulava, ele sabia. Aí eu desisti, passei a ler certo.
EE – Isso tudo em São Luís.
JL – É. A gente morava num subúrbio chamado Cambôa do Mato. E era engraçado porque o subúrbio começava aonde acabava o calçamento. Não tinha luz na rua, não tinha nada. Até hoje é mais ou menos assim... Eu fiz um primário relativamente bom. Depois, no início do ginásio, fui um péssimo aluno. Era forte, brigava na rua, naquelas ganguezinhas: quando passa de um subúrbio para o outro, estourava a briga. Enfim, eu de fato não cumpria nada do que a Bíblia mandava [risos]. E não estudava, nem lia. Os únicos livros que havia lá em casa eram a Bíblia e os almanaques que distribuíam para vender remédio. Esses, a minha avó Dorotéia guardava. Até que um dia meu pai chegou para mim e disse: “Você é um vagabundo, não estuda, não faz nada. O que é preciso para você estudar?”
EE – E o que você pediu?
JL – Bem, lá não se dormia em cama, dormia-se em rede. E a minha rede era estendida em cima de um bando de saco de cimento, de pedra e tijolos. “Se você fizer para mim um quarto com uma mesa, uma cadeira e com um porta, eu vou estudar.” E ele fez. E eu estudei [risos]. Aí digamos que esse quarto ficou pronto em uma... vamos admitir, hipoteticamente, em uma quinta-feira. Até quarta-feira eu brinquei na rua. Na quinta, eu entrei para esse meu quarto e a minha vida mudou. Completamente.
EE – Isso com quantos anos?
JL – Eu devia ter uns 12 anos, 13 anos, por aí. Os colegas de rua ficaram pensando que eu havia sumido. Comecei a adquirir livros, alguns amigos do meu pai me davam, e comecei a ler. Queria ser alguém, foi interessante. De uma hora pra outra [risos]. Não demorou muito, não. Até porque eu tinha que provar a ele que era verdade.
EE – E a sua mãe, Louzeiro?
JL – Minha mãe era uma pessoa maravilhosa. O apelido dela era Mundiquinha, chamava-se Raimunda. Pessoa de uma paciência fantástica, com uma coisa muito bonita na vida: o meu pai, fanático, convertia todo mundo na rua, só a minha mãe ele não conseguiu converter [risos]. Quando eu queria brigar com ele, eu dizia: “Você não conseguiu converter a minha mãe!” Ela era católica, mantinha um santuário bonito em casa, com os santos da devoção. Um dia meu pai levou o pastor, o superior dele na igreja, e quebraram as cabeças dos santinhos todos. Eu fiquei uma fera. A minha avó, Dorotéia, também de uma paciência incrível, me contava histórias. Havia dois tipos: uma de pura fantasia e outra, de terror, para me fazer dormir rápido. Sempre dormia antes do final dessa, e sempre era mais ou menos a mesma: a de um homem chamado Tamancão, leproso... Olha só, totalmente inverídico o negócio... que de noite aparecia nas ruas de São Luís calçando tamancos, e não fazia nada. Um homem enorme, faltava o braço, faltava o nariz, as orelhas estavam caindo. Vinha de noite pra que alguém conversasse com ele, mas não conseguia, todo mundo fechava as janelas e as portas. Era “A História do Tamancão”. Essa que me fazia dormir...
EE – E nessa época vocês ainda eram Loureiro?
JL – Já éramos Louzeiro, devido ao meu avô Severo. Meu avô Severo não acreditava em nada, não ia à igreja, nem católica, nem protestante, e aos 80 anos gozava meu pai: “Sai agora de noite, dá uma volta por aí, você tem 40 anos de idade”. Ele tocava violão e morreu depois de tocar numa festa onde comeu vatapá, que nem é um prato do Maranhão. Naquele tempo não havia geladeira em casa de pobre, então aquilo foi feito durante o dia e ele comeu à noite. Morreu de uma desinteria total, parece que já estava estragado o camarão, foi um negócio terrível. Morreu com 82 anos; se não, acho que ainda estaria vivo até hoje [risos]. O sobrenome dele era Loureiro. No tempo vago produzia lousas para as escolas. Eram de madeira: a lousa preta e o giz, branco. Ele cortava aquelas tábuas de cedro, fazia as lousas para as crianças. Aos poucos, as pessoas passaram a chamá-lo de “louzeiro”. Então ele trocou o nome de Loureiro para Louzeiro. E hoje eu tenho essa origem que vem de alguma coisa que escrevia, não é? [risos].
EE – [risos] Desde sempre. Mesmo no início, antes de você ganhar o quarto...
JL – Eu não gostava de ler, mas quando ganhei esse quarto, quando entrei naquele ambiente todo pintado, com uma lousa que o meu avô fez, com uma cadeira confortável, com uma pequena estante onde comecei a colocar os livros, aí sim eu comecei a ler. Teve uma hora que o meu pai achou que eu tinha que ir ao médico, a um psiquiatra...
EE – [risos]
JL – [risos] ... porque eu tinha ficado maluco. Fiquei maluco. Aí a minha mãe: “A culpa é sua.” [risos] Porque para almoçar era uma dificuldade. Sair dali. Baixou um santo, e até hoje sou um leitor fanático. Não tem televisão, não tem nada que dê jeito. Eu vejo televisão, mas o meu negócio são livros.
EE – Louzeiro, e como você começou no jornalismo?
JL – No ginásio eu tinha um bom professor, chamado Luiz Rêgo. Um belo dia, o Luiz Rêgo me disse: “Pega este envelope, não abra.” Eu não abria, não tinha nenhum interesse. “Vá no jornal chamado ‘O Imparcial’, entregue lá para o Emanuel. Vá lá.” Ele era amigo do Emanuel. Eu fui. Cheguei lá, o Emanuel, que bebia à beça, disse: “Desça e converse com o Carneiro. Você vai começar a trabalhar como aprendiz de revisor.” Ou seja, era um pedido de trabalho que o Luiz Rêgo tinha feito em meu nome. Ele me aturava. Um tempo antes havia gostado de uma composição que eu tinha feito com letrinhas de forma caprichadas, só para encantá-lo.
EE – Foi assim que você acabou se tornando aprendiz de revisor...
JL – Desta forma. Eu me lembro que o Carneiro era um cara enorme, a barriga enorme, andava sem camisa, todo sujo de tinta. Era o chefe da oficina. Me deu os papéis, provas gráficas que naquele tempo eram umedecidas com água. Gostei muito, porque as primeiras coisas que eu li eram da página literária que o Sarney mantinha no jornal. Ele estava começando também, no mesmo jornal. Eu ficava lendo aqueles artigos e o Carneiro, como eu fazia direitinho, passou a me manter só nesse negócio. De ler essas matérias, para imprimir só no fim de semana. Ou seja, era outro caminho para a literatura. Li poemas do Ferreira Gullar, li poemas do Sarney e de outros intelectuais. Bom, daí desse suplemento eu passei a fazer revisão com os revisores normais, mas não me interessei muito por aquilo e fui para a reportagem de polícia. Tive a ajuda de um repórter famoso, chamado Moacyr de Barros. Eu saía junto com ele, para ver as coisas, e então virei repórter de polícia. Passei mais de 30 anos nessa área.
EE – E a vinda para o Rio?
JL – Eu vim em 54, janeiro de 54, devido a uma reportagem. Fui fazer uma matéria em um município afastado. A acusação que se fazia era a de que um rapaz, cujo nome eu não lembro, tinha sido espancado pelos capangas do Vitorino Freire. Uma figura nociva no Maranhão, senador, o dono do estado. O rapaz foi espancado porque era ladrão no Piauí e fugiu pro Maranhão, mas o jornal inventou que o bom era pegar este cara, botar na primeira página como ele tendo sido espancado, quase morto, com fio elétrico pelo pessoal do Vitorino. Deram uma surra no cara, ele com as costas todas cortadas. Quem fez a matéria fui eu. O Vitorino Freire, claro, mandou botar o meu nome na lista para morrer. O jornal ficou preocupado: eram cinco na lista. Três morreram. Acharam melhor me mandar para o Rio.
EE – O início no Rio deve ter sido conturbado, pelo jeito.
JL – Eles me deram alguns trocados, meu pai também ajudou. Eu vim em um avião Skymaster, da Lloyd Aéreo. Esse Skymaster eram as velhas fortalezas que, durante a Segunda Guerra, transportavam armas e jipes, de Natal para a África. Eu olhei e pensei: “É impossível esse negócio voar”. Era gigantesco, com três motores de cada lado da asa, um troço gigante. A empresa parece que tinha dez desses aviões, e fechou quando caiu o último [risos]. Antes de fechar, ainda havia três, e eu vim em um deles.
EE – [risos] Você se lembra dos seus primeiros momentos profissionais, depois da viagem?
JL – Sim, me lembro. Vim para trabalhar no “O Jornal”, mas acontece que a pessoa que havia me convidado não tinha cacife para convidar ninguém e, de repente, não havia nada que eu fizesse. Fui então trabalhar em uma empresa que vendia material gráfico, alemã, chamada Oscar Flues, na Praça Mauá. Eu cobrava dívidas dos donos de gráficas e cartonagens. A Oscar Flues vendia material de segunda mão, recondicionado. Fiquei nisso um ano, até que comecei a trabalhar na “A Revista da Semana”, na Lapa. A “Revista” concorria com “O Cruzeiro”, do Chateaubriand. A partir daí fui me envolvendo no jornalismo, trabalhei bastante no jornal do Tenório Cavalcanti, “A Luta Democrática”. Depois no “Diário Carioca”, no “Correio da Manhã”, aí enganchei na reportagem de polícia, mesmo. Às vezes eu trabalhava em dois jornais e colaborava com um terceiro.
EE – Já na reportagem de polícia, como foi o seu envolvimento na literatura, enquanto escritor?
JL – Nesse período inteiramente tumultuado, escrevi um livro de contos, chamado “Depois da Luta”. Aliás, teria que ser “Antes da Luta”, o título está errado. Publiquei em 1958, por conta própria; o editor fez um preço barato, então publiquei. Em 60 eu fiz uma novela, a minha primeira novela. Com o tempo, fui publicando muitos. Tenho mais de cinqüenta livros publicados.
EE – Louzeiro, vamos dar um salto para o primeiro roteiro de cinema escrito por você a partir de um livro seu, o “Lúcio Flávio, O Passageiro da Agonia”. Queria que você falasse um pouco da sua convivência com essa figura lendária da bandidagem carioca.
JL – Eu estava cobrindo férias de alguém, no “O Globo”, e também trabalhava na “Última Hora”. Um dia, de noite, de madrugada, uma voz estranha... Você sabe logo que é alguém que está botando lenço na boca, para não ser reconhecido. E aí só pode ser bandido. Umas duas da madrugada, três, aquela voz estranha procurando alguém de “O Globo”. Ele: “Olha, aqui é o Lúcio Flávio.” A polícia inteira estava procurando o cara. “Mas é de verdade?” “É de verdade.” “Então faz o seguinte: daqui a 5 minutos você me liga de novo.” Porque aí eu iria gravar, já tinha um gravador deste tamanho. Ele: “Se for para gravar, eu não ligo. Faz o seguinte: me liga. Eu vou lhe dar um telefone, você liga”. Ele deu um telefone, eu liguei. Esperto, o cara. Você começa a saber que está lidando com um cara que não é bobo. Liguei, ele atendeu; era um boteco, uma barulheira. “É o seguinte: amanhã a gente vai fazer um ganho num banco bonitinho que tem na Urca.” A Urca só tem duas ruas, a Marechal Cantuária e a Avenida Portugal. “Aquele banco do chapéu, do guarda-chuva. A gente vai fazer um ganho e, se você for lá, com certeza vai ter uma boa matéria.”
EE – Mas ele fez isso por quê? Pela vaidade, então.
JL – Vaidosíssimo. Megalômano. Eu fui, não disse para ninguém porque a gente esconde para o outro não saber [risos]. Foi um assalto fantástico, um assalto fantástico. Uma menina muito bonita, quando ele já ia saindo, correu atrás dele para dar um beijo. Essa cena não está no filme. A menina ia dar um beijo e ele teve um tremor, porque acionou o gatilho e não havia mais balas. A menina se salvou, mas quando chegou ao carro ele borrou-se todo.
EE – O projeto do livro foi combinado em conjunto por vocês dois?
JL – Eu prometi que escreveria um livro sobre ele. No filme está assim: “Vocês podem acabar comigo, mas não acabam com a minha história. Estou contando para um jornalista.” O jornalista era eu. Fui para São Paulo, fiquei na “Folha de São Paulo” uns anos e, depois, quando eu voltei para o Rio em 75, ele tinha sido assassinado. Aí eu resolvi, em cima da história dele, escrever um livro. O livro que ele não escreveu, uma pena ele não ter podido ler. Os editores tiraram 3 capítulos, porque ficaria muito grande. Tiraram. Um dia, quando eu republicar de novo, vou colocar os 3 capítulos que estão faltando.
EE – Você pode adiantar pra gente o que eles contêm?
JL – Um é bem interessante. O Lúcio Flávio foi o único bandido que fugiu 16 vezes da prisão, pela porta da frente. Para fugir de prisão é preciso ser um gênio. E ter muito dinheiro. Ele só fugia pela porta da frente, era uma pessoa com uma boa formação. Só para você ter uma idéia, o pai do Lúcio Flávio era o principal assessor, cabo eleitoral, do Juscelino Kubitscheck. Eu tinha uma foto com o Lúcio menino, o pai e o Juscelino.
EE – Quais eram os métodos dele para as fugas?
JL – Certa vez ele chegou para o diretor do [presídio] Frei Caneca e disse: “Seu Fulano, eu vim aqui lhe dizer o seguinte: a sua prisão é uma imundície.” Era ousado. “Que administração o senhor faz, que não tem sequer condições de pintar isso aqui? Eu quero ser preso num negócio mais ou menos limpo.” Aí o cara: “Não tenho verba pra isso.” “Bem, se quiser eu lhe dou as tintas. Eu posso até pintar o meu pedaço.” E não é que o cara topou? O Lúcio Flávio telefonou para alguém e de repente começaram a chegar os caminhões com tinta. Muito bem. Foram arrumando as tintas no canto, aqueles galões, a coisa demora. Prisão é como igreja, não acontece nada de uma hora pra hora. Um belo dia, havia um monte de latas de tinta amontoadas; um policial pegou algumas, botou no Fusquinha e roubou. Quando chegou em casa, abriu. Estava cheio de armas. “Se essa está cheia de armas, as outras também devem estar. E agora, eu faço o quê? Eu fico calado, espero o motim? Vai morrer um bando de gente.” A mulher dele: “Eu acho melhor você contar. Vai sair preso como ladrão, mas pelo menos presta um serviço aos seus colegas.” Foram lá e não deu outra. Dez latas. Duas tinham armas; oito, tinta. Mas havia alguma indicação que os policiais não conseguiram descobrir, que dizia em qual havia arma e em qual havia tinta. O Lúcio Flávio foi chamado. “Então o senhor queria dar um golpe?” “Não senhor. Eu estou fazendo o meu papel de preso, eu quero fugir. E o senhor é que tem que se virar, para não deixar que eu fuja. A hora que puder, eu fujo.” [risos]
EE – [risos] E os outros capítulos retirados?
JL – O Lúcio não fumava, nem bebia, mas pedia que trouxessem fósforos. Dos fósforos ia tirando a pólvora e colocando em uma lata: acabava tendo latas e latas de pólvora. Pegava papel de jornal, molhava, embolava, fazia um bando de bolinha. Com uma agulha ele imantava o fio de linha com pólvora. Passava a agulha por dentro das bolinhas. Fazia um cordão com uma bolinha aqui, outra bolinha, outra bolinha. E cada cara do grupo dele que saía, saía com bolinhas e largava aquilo em lugar estratégico. Muito bem. Teve uma festinha na prisão. O diretor estava comemorando não sei o que, veio o Secretário de Segurança e assessores. Quase que no mesmo momento, veio também um carro da lavanderia. Nessa hora em que estava todo mundo reunido, hasteando bandeira, o Lúcio Flávio acendeu um fósforo e tocou fiozinho que saiu queimando a pólvora e começou a estalar: pá, pá, pá! Os policiais sacaram as armas, começaram a dar tiros, gerou um pandemônio. O grupo do Lúcio rendeu o cara da lavanderia, amarrou o motorista e foi embora. Fugiram dez. Pela porta da frente. Tem mais o outro capítulo que eu não me lembro direito, mas esses dois eu quero recolocar. O Lúcio era altamente inventivo. Uma inteligência a serviço do crime.
EE – Em relação ao filme, como foi a abordagem do pessoal da produção, para o roteiro? Como eles chegaram até você?
JL – Eu ia fazer o filme com o Roberto Farias. Aí o Roberto tinha ido para Cannes. Jornalista vive em um sufoco que não tem tamanho, eu precisava de alguém que me desse um adiantamento para trabalhar no roteiro. E eu nunca tinha trabalhado em roteiro nenhum. Nesse período eu perdi o contato com o Roberto.
EE – O Babenco entra nessa hora.
JL – Um argentino me telefona, de repente. Alguém com a pronúncia bem espanholada mesmo: “Olha, eu sou o Babenco. Li o seu livro, queria colocá-lo no cinema, estou apaixonado por ele.” Jornalista não acredita em nada. “Bom, vamos fazer o seguinte. Que horas são no seu relógio?” “São 11 horas.” “Quando for 2 horas da tarde, se você estiver aqui em casa, porque às 4 eu saio para a ‘Última Hora’, a gente faz negócio. Se não, você me esquece.’” Ele chegou 1 e meia, por aí. Era um jovem, fiquei até com pena. O cara veio lá de São Paulo, uma bolsa deste tamanho, todo grandalhão e afobado. Ele disse logo: “Vou lhe arranjar o dinheiro, isso não é problema.” O que já é muito grave de se dizer. Mas aí fechamos negócio. Gostei muito quando ele me disse: “Eu quero fazer um filme como o livro.” Pensei: “vou jogar na disposição desse cara”. E por isso fiz negócio com ele. O Roberto ficou chateado quando voltou. O filme não é lá uma obra-prima, mas foi um sucesso muito grande. E feito em quatro semanas, era 1977. Em plena ditadura, denunciava o “Esquadrão da Morte” que as autoridades negavam existir.
EE – O roteiro é seu, não é?
JL – Meu e do Jorge Durán, grande roteirista. Eu não sabia fazer roteiro nenhum. Gostava muito de ler textos de teatro. Gostava, não. Gosto. Mas cinema é diferente. O Jorge ajudou muito, ficamos amigos. É talvez um dos melhores roteiristas que eu conheço. Foi quem me despertou para esse negócio do conflito, ajudou muito os meus livros, ele nem sabe disso. Hoje, o conflito, para mim, é indispensável em qualquer coisa. Você vai ver um programa desses na televisão: se não tiver o conflito, dançou. Os conflitos, a armação da história, eu aprendi com o Durán. A dramaturgia é uma ciência, e quem não estiver em cima de conflito e de plots, pode encerrar, porque está fora do contexto. O Durán sabe disso tudo. Então a minha trajetória pessoal no cinema foi através do Babenco e do Durán.
EE – Depois do “Lúcio Flávio” você fez o roteiro de “Os Amores da Pantera” com o Milton Alencar, com quem você trabalharia muitas vezes.
JL – O Milton é uma pessoa queridíssima, mas sempre se dividiu muito. Ele poderia ter sido um grande cineasta, mas se dividiu muito. Esforçado. Nós fizemos muitos filmes juntos. Começou com o Jece Valadão, no estúdio da Magnus Filmes.
EE – E do “Os Amores da Pantera”, o que você lembra do roteiro?
JL – Do “Os Amores da Pantera” eu me lembro do Jece Valadão [risos].
EE – Ele encomendou o roteiro?
JL – Houve uma época em que o Jece foi muito amigo meu. Ele sempre quis fazer um filme sobre o Lúcio Flávio, acabou até fazendo: “Eu matei Lúcio Flávio”. O Jece até me convidou para fazer o roteiro, mas não aceitei. Não poderia fazer “Lúcio Flávio” e dizer que quem matou o Lúcio foi aquele policial, o Mariel Maryscotte. Aliás, ele não ia com a minha cara. Quando fiz o filme ele achou que deveria ter colocado o nome dele – Mariel. Eu coloquei Moretti. O Mariel era um dos homens do “Esquadrão da Morte”; um dos Homens de Ouro, junto com o Sivuca e companheiros de grupos de extermínio.
EE – Escuderia Le Cocq, coisas assim...
JL – Imagina. Eu sempre fui contra esse pessoal. Ele ficou marcando o Jece e chegou uma hora em que o Mariel arranjou dinheiro com os bicheiros para a produção. Queriam que eu elaborasse o roteiro, a proposta era essa: ganhe um apartamento de três quartos na Zona Sul, aonde quiser, e faça o roteiro. Mas eu sou muito teimoso. “Não faço.” Fazer um filme contra o Lúcio Flávio, não senhor, de jeito nenhum. Fiquei sem o apartamento [risos].
EE – Você já chegou a ser preso por apologia ao crime?
JL – Algumas vezes, mas coisa rápida. No “Correio da Manhã” fiquei umas três vezes preso, a prisão era pertinho. O “Correio da Manhã” era na Gomes Freire e naquela rua que atravessa, Consolação esquina de Inválidos, tem o que hoje está semi-destruído, que era o Palácio da Polícia. Fui preso ali umas três ou quatro vezes. Dois dias, três dias, meio dia, uma hora. Por coisas que às vezes até desconhecia o motivo.
EE – Louzeiro queria falar agora sobre outro roteiro seu baseado na crônica policial, “O Caso Cláudia”, de 79.
JL – “O Caso Cláudia”. “O Caso Cláudia” foi dirigido pelo Miguel Borges.
EE – Eu queria entender uma coisa. Ele é todo calcado na morte da Cláudia Lessin Rodrigues. O que é óbvio, a começar pelo título. Por que no final consta que todos aqueles episódios são inverídicos? “Qualquer semelhança...”
JL – Medo do diretor, para não ser processado pelo Comandante, o pai dela.
EE – Ah, o pai dela era Comandante...
JL – ... de Aviação Comercial.
EE – O Miguel encomendou o roteiro a você e ao Valério Meinel. Ou não?
JL – O dono de uma editora – Arte Nova, Álvaro Pacheco – que ficava no bairro de São Cristovão, foi quem nos encomendou esse filme. Para mim e para o Valério Meinel. Foi o Valério Meinel que ajudou a descobrir o caso, antes da polícia. Ele e o fotógrafo Gallo, junto com o detetive War War, que cunhou uma frase: “a mecânica do evento”. Tudo dele era mecânica do evento. Pois bem, encomendaram o filme e nós fizemos o roteiro. Nunca mais soubemos nada a respeito desse filme. Também a gente vai deixando pra lá... Fez sucesso na Argentina, um sucesso grande.
EE – Você tem alguma história interessante dos bastidores?
JL – Eu estive na televisão, no programa do Flávio Cavalcanti, da Tv Tupi. O Flávio me convidou, mas não me disse com quem eu estaria. Para mim, era um programa a respeito do filme, mas quando eu chego, lá encontro o pai da Cláudia, o Comandante. Não me lembro agora do nome; estava bastante zangado. Acontece que eu sabia uma história completa da menina nos Estados Unidos, em Nova Iorque. “Está bem, Comandante. Isso não está no filme. O senhor quer que eu diga ou não diga?” “Imagina, o senhor pode dizer, não há nada a esconder.” “Eu acho que há. Depois que eu disser, o senhor vai entender que há.” Aí o Flávio: “Então vamos!” Claro, era o Flávio Cavalcanti... “A menina namorava um cabeludo americano, tocador de guitarra. O senhor foi ao FBI, mandou pegar a menina, botar dentro do avião e prender o rapaz. Essa que é a história. A menina veio para o Rio de Janeiro na marra. E o senhor sabe quem é o rapaz agora? Ele é o líder de uma banda. Está lá, vivo. E o senhor trouxe a sua filha, ela encantou-se com um delinqüente daqui, o Michel Frank, filho do representante de relógios Mondaine, da Suíça. Ela namorou uma figura rica, não é isso o que o senhor queria? Só que esse rico era um patife e ela morreu. O senhor...”, aí ele chorou, “...o senhor é o responsável pela morte da sua filha. O senhor é o responsável. Isso eu não botei no filme. Nós temos os jornais. A sua filha sendo presa nos Estados Unidos, está tudo registrado.”
EE – O nome desse roqueiro, você se lembra?
JL – Não me lembro do nome dele, é famoso hoje, mas esqueci o nome. Naquela hora, então, o comandante chorou, foi uma loucura, depois quis me abraçar. “Não, não. O senhor é o responsável pela morte da sua filha.” Jogaram a menina no Chapéu dos Pescadores. Olha só o padrão dos caras: quando eles a jogaram a maré estava cheia, só que o corpo ficou enganchado. Quando a maré secou, a menina estava nua, aquele corpo enganchado na pedra, e os bombeiros jogando corda para puxá-lo. Por outro lado também, não foram os rapazes que a mataram. Ela cheirou demais, eles meteram a mão pela boca da menina no momento em que começou a ficar enlouquecida, tentando desenrolar-lhe a língua. A mão do Michel ficou toda arranhada de dentes. Essa que é a história. Ninguém a matou, não, ela morreu de overdose. E quem descobriu foram o Valério Meinel e o Gallo.
EE – E o roteiro seguinte foi o do “Pixote, A Lei do Mais Fraco”, baseado no livro “Infância dos Mortos”, escrito por você. Como o Babenco fez o contato?
JL – Desde o “Lúcio Flávio” eu já estava pensando em escrever o “Pixote”, o que só fui fazer em 77. Por volta de 1980, o Babenco comprou os direitos, mas ele não iria fazer “Pixote”, aconteceu por acaso. Ele estava trabalhando em cima de um livro do Márcio Souza sobre a Amazônia, com um conteúdo histórico, a respeito da borracha, da construção do teatro maravilhoso que há em Manaus. O Babenco é muito hábil, ele ouve todo mundo, afinal, era uma superprodução, com roupas antigas, um montão de gente. Enquanto no “Pixote” ele teria que fazer um filme em que roupa é o que não tem; são shorts, aquela atmosfera miserável, mesmo. Ele, então, preferiu fazer o “Pixote”, roteiro meu e do Durán. Só que o meu nome foi tirado. Porque o Babenco deveria aparecer como diretor, o Duran, o roteirista e eu o argumentista. O Babenco não cumpriu o acordo, fiquei sem meu percentual de 2%. Meu pobre percentual. E aí houve que eu me chateei, fui para o advogado e não fizemos o terceiro filme, que seria o “Brincando de Viver”, sobre a escritora louca Maura Lopes Cançado, autora de um diário chamado “Hospício É Deus”.
EE – "Hospício É Deus"! Estou procurando esse livro há um tempão...
JL – Fui amigo pessoal dela, mas às vezes até me arrependia, porque todos os problemas dela, ela passava pra mim. Todos, inclusive, ou principalmente, os sentimentais. Certa vez ela namorou um detetive mau caráter que começou a tratá-la como prostituta. Foram dormir no Marialva, um hotel pertinho do “Correio da Manhã” e do Palácio da Polícia; esse hotel está lá até hoje. Sentindo-se humilhada, Maura meteu o revólver do amante na bolsa e foi à redação de madrugada me comunicar que ia matar o policial. Só não matou logo porque não sabia acionar o revólver 38, que por sinal estava cheio de balas. Como eu aprendi a lidar com loucos, em vezes de fazê-la desistir – que é o que ela queria, para entrar na lamentação –, e eu cheio de trabalho, o jornal não podia atrasar, disse a ela de maneira enfática que o melhor de matá-lo seria a pauladas [risos]...
EE – [risos]
JL – Expliquei que há um “pau de bobina”, roliço e forte: com dois belos golpes ela mandaria o amante para o céu. Pedi ao meu assistente que pegasse um pau de bobina enquanto ela tomava um cafezinho. Quando Maura viu a peça surpreendeu-se, bateu com a xícara em cima da mesa e disse que eu era louco. Se ela batesse com aquele pau na cabeça do detetive, iria espirrar miolo pelas paredes. Decepcionada comigo, foi embora esquecendo o revólver, que no dia seguinte devolvi ao policial, que me disse chamar-se Toninho. O que devia ser mentira, pois eu nem perguntei o nome dele, que chegou na redação perguntando por Maura. Essa e outras histórias, pretendo colocar em filme no qual a Maura se encontra com Dom Quixote, em Jacarepaguá, numa clínica em que ela era interna.
EE – E as repercussões iniciais do Pixote, livro e filme, na época?
JL – Foi muito interessante, porque tanto na época do livro, quanto na época do filme, aqui no Brasil não teve a menor importância. A burguesia ainda não era assaltada pelos meninos de rua. Acho que os meninos de rua então prestaram um grande serviço social a este país; quando nada, abriram o mercado de trabalho: todo mundo agora tem porta de ferro, o carro anda com a vidraça pra cima, não pode enguiçar. Tudo pode enguiçar no carro, menos o vidro da janela para evitar os meninos vendedores nos sinais. Eles acabaram prestando um grande serviço social neste país de patifes, ladrões e picaretas. Quem é sério neste país? Este é que é o problema. Aonde é que anda a classe política deste país? Está precisando ser varrida, jogada no lixo. Eu digo um negócio, tomara que eu não acerte. Os bandidos é que vão acabar botando o país nos eixos. Só há bandido! Agora, o bandido que rouba um queijo, vai em cana. O Delúbio e os seus comparsas, isso aí rola num papo indefinido e acaba ficando tudo por isto mesmo. Os milhões afanados não são devolvidos nunca.
EE – O livro tem essa inquietação que você captou no ar em 77.
JL – Era a época da ditadura, e se você prestar atenção, os meninos é que são os heróis. Você não tem idéia do que eles passam na Padre Severino [instituto de correção para menores]. E às vezes eles são pegos na rua porque estão a serviço da polícia. Isso não quer dizer que seja da polícia toda, mas de uma boa parte, sim. Roubando para dividir dinheiro com o policial. Depois largam eles no camburão, e quem não faz isso morre cedo. Outro dia, 2 ou 3 policiais bêbados entraram em um boteco lá de Caxias e mataram 29 pessoas. Quase todos meninos. Mataram e mataram. O que aconteceu com os assassinos? Até hoje oficialmente não sabemos. As vítimas eram todas pobres. Soldados do Exército mataram há pouco tempo um menino que descia de uma viela no morro, conduzindo um guarda-chuva fechado. Um inteligente militar pensou que fosse uma metralhadora e não pensou duas vezes. Metralhou um menino de 16 anos. O que aconteceu com o assassino? Não sei, ninguém sabe. Quando repórter eu não era querido por ninguém, muito menos pelo jornal. Porque eu nunca fiz composição com polícia, nem com ninguém. Tive amigos que faziam muito isso e morreram mal.
EE – Como era a sua relação com Fernando Ramos da Silva, o protagonista de “Pixote”?
JL – Com o apoio do ex-prefeito de Caxias, Hydeckel Freitas, eu trouxe a família do Fernando para o Rio, no final dos 80. Na época ele estava sendo perseguido pela polícia em Diadema, São Paulo. Com Pixote e sua mãe, Dona Zefa, vieram 2 irmãos – assaltantes procurados pela Rota paulista – e um tio que não queria nada com o trabalho. Hydeckel conseguiu emprego para todos eles e com seu dinheiro, não o da Prefeitura, comprou uma casa confortável no bairro da Paulicéia, em Caxias. Havia garagem, uma geladeira, um freezer, cheios de comida – que o Fernando trocava por drogas –, além de uma pequena biblioteca, 3 quartos e um jardinzinho rodeando. Nesse dia ele me disse: “Você é o pai que eu não tive.” Dona Zefa, não acreditando que a escritura da casa coubesse em 2 folhas de papel, vendeu a casa pela metade do preço para um oficial da Marinha, comprou uma Kombi velha, botou o que coube no veículo e, como se estivesse fugindo, partiu de volta para Diadema. Hydeckel Freitas quando soube dessa decisão, chorou. Seu sonho era mandar Fernando estudar dramaturgia nos Estados Unidos. Queria adotá-lo. Fernando foi vítima da glória que alcançou e não soube administrar, nem tinha idade pra isso. Outra pessoa que muito ajudou o Fernando foi o Babenco, que mandou transformar o barraco onde ele morava, antes de vir para o Rio, numa casinha de alvenaria. O ator foi fuzilado por policiais da Rota que terminaram inocentados, como sempre acontece. Era um péssimo ladrão, roubou na vizinhança uma televisão velha e por essa insensatez, acabou morto.
EE – Em 1996, o José Joffily rodou o “Quem Matou Pixote?”, baseado em outro livro seu com um gancho sobre o mesmo tema, o “Pixote, a Lei do Mais Forte”.
JL – Porque o mais forte é a polícia.
EE – Como é que surgiu esse filme?
JL – Surgiu por iniciativa da Cida Venâncio, mulher do Fernando Ramos da Silva. Ela escreveu um livrinho sobre ele e procurou o José Joffily, que se interessou, pediu que eu ajudasse e ajudei. Além desse, outra fonte foi o livro que eu escrevi sobre o Fernando, cujos direitos dediquei à filha dele durante as primeiras edições. Nem sei em quantas edições já está. A menina parecia muito com o pai, quando botava aquela touquinha, então... Ajudei um pouco no filme. O Zé é muito bom, gosto muito dele, acho a fita legal. O Bomtempo faz o papel de um policial diabólico. Acho inclusive que a marcação de luz e certos enquadramentos são melhores do que os do “Pixote”, de Babenco. Tem uma boa marcação de luz. E o Zé tem uma qualidade no set que eu admiro. Quando as coisas estão muito enroladas, ele fecha os olhos e pára [risos]. Pára [risos]. É engraçado. Faz isso para não perder a concentração. É dose pra elefante rodar um longa neste país voltado para o cinema americano.
EE – Agora, voltando para 1982, passamos para um outro filme bem barra pesada. O “Escalada da Violência”, do Milton Alencar.
JL – Esse não chegou a ser exibido, chegou?
EE – Saiu em vhs.
JL – Mas não chegou a ser exibido. Foi produzido por um dos sócios da Supergasbrás, milionário. Ele resolveu fazer um filme, aliás, nós metemos essa idéia na cabeça dele, e então surgiu o “Escalada da Violência”, do Milton Alencar.
EE – E o roteiro todo seu?
JL – O roteiro todo meu.
EE – Aproveitando, claro, as suas experiências como repórter. Tem muita coisa verídica ali?
JL – Muito, muito. Graças ao Sérgio Farjalla, mestre em efeitos especiais, bolamos um carro que rendeu uma bela explosão. O filme ficou bom, é o melhor trabalho do Milton.
EE – O conflito central, do cara ter perdido a filha e a esposa, é verídico também ou aí já foi ficção?
JL – É verídico...
EE – ... O cara ficou louco mesmo...
JL – Trata-se de uma reportagem em 35 milímetros. Como nunca foi para o cinema – o produtor, Valdemar, não concordou com o percentual de 50% cobrado pelos exibidores – o filme enferrujou na lata. Mas isso era lei de mercado, o Valdemar detestava esse tipo de lei. Pra piorar, era a ditadura, período em que havia uma grande contradição entre a ideologia de direita e a produção de quase 100 filmes malandramente contra o regime. Eram produzidos pelos condutores da política de exceção, através da Embrafilme, dirigida por Roberto Faria e apoiadíssima pelo Ministro João Paulo dos Reis Velloso, que arranjava o dinheiro. Uma pessoa devotada ao cinema, infelizmente esquecida até pelos diretores beneficiários – e não foram poucos – da sua astúcia.
EE – Outro filme bem interessante para a cinematografia brasileira é o “Amor Maldito”, de 1984, dirigido pela Adélia Sampaio. O primeiro de temática inteiramente lésbica feito no país. Quando entrevistei a Monique Lafond, ela me disse que a Adélia ou você ficaram sabendo primeiro da história. História verídica também, não é?
JL – É, aquela história surgiu primeiro no jornal. Contactei a Adélia, que nesse tempo estava vindo do teatro. Hoje ela voltou para o teatro novamente, apesar de ter tudo para ser uma boa diretora. Quem dá vida ao filme é a Monique. Muito bonita, atlética, fazia bastante ginástica. O filme também é muito bem dirigido. E em relação ao fato de ser o primeiro integralmente com a temática lésbica, eu sabia e a Adélia também. Aliás, você precisava ver os narizes torcidos e tudo o mais. Até hoje, imagina. Agora, ninguém sabe que se você for na história antiga, antiga mesmo, na Grécia, por exemplo, todos aqueles filósofos tinham os seus amantes. Todos. O Sócrates tinha a Xantipa e os namorados. A humanidade foi sempre assim. Qual é o problema? O diabo são os preconceitos. Onde está o escândalo de uma mulher viver com outra? A Adélia pretende fazer outros filmes desse tipo, inclusive mais trabalhados. Quando se fala “mais trabalhados”, significa “com mais dinheiro” e vários tratamentos de roteiro.
EE – Passando para o “Noite”, de 85, do Gilberto Loureiro. Do que você se lembra?
JL – Esse tem uma história muito curiosa. Foi produção da Mariza Leão, baseado no livro “Noite”, do Érico Veríssimo. O Gilberto é uma bela pessoa, e Loureiro, quase que era Louzeiro. Bom desenhista, arquiteto, enquanto eu fazia as seqüências, ele desenhava storyboards. Tive vontade de publicar um livro com os desenhos, mas não foram guardados. O filme seguiu bem até perto do final, depois houve desentendimentos dele com os atores. Um exemplo: em determinado momento da fita, havia uma menininha linda, de quem eu não me lembro o nome. Ela aparecia só na mente do personagem, que era um louco. De repente, mexeram no roteiro, a garotinha ficou sendo uma imagem do real. Como outra qualquer. Perdeu a força da subjetividade. Aí o louco perdeu também a razão de ser. Era um belo filme. Uma luz especialíssima, um figurino de primeira qualidade.
EE – Mas nesse, então, você fazia as cenas e o diretor ia preparando o storyboard.
JL – Algo que não é comum no Brasil. O storyboard, que aqui muita gente não sabe o que é, e num instante desenhava. Não sei por que, parece que ele inibiu-se depois desse filme. Nunca fez mais nada. Uma pena. Loureiro é um profissional de muita sensibilidade. Além de um desenhista inspirado.
EE – Chegamos ao “O Homem da Capa Preta”, de 86, do Sérgio Rezende...
JL – “O Homem da Capa Preta”. O Sérgio estava querendo fazer um filme chamado “Soco Inglês”. Eram uns trogloditas que promoviam desordens, davam cotoveladas para afundar capota de carro e outras maluquices do mesmo tipo. Eu achava aquilo um pouco sem pé nem cabeça. Do meu lado, no chão, havia uma pasta grande, com os originais do livro da Sandra Cavalcanti, a filha do Tenório. Eu via que aquela história não tinha futuro, e o Sérgio também. Aí disse: “Sérgio, leva esse original aqui, que eu ainda não acabei de ler, é da filha do Tenório.” No dia seguinte, ele reapareceu encantado. “Vamos esquecer o soco inglês e fazer isto aqui.” E começamos. Movimentamos a Sandra e a Dalva Lazarone, para dar mais informações sobre o deputado. Além das que eu tinha.
EE – Da época de jornal?
JL – É, de quando trabalhei com ele na “Luta Democrática”. Muita coisa que se faz na redação, ninguém em casa fica sabendo. Acho que este é um filme dos bons. Não concordo com o final de metralhar o muro, um muro de tijolos, como aquele que está ali, aparente. Ali deveria estar uma figura qualquer. Coloca a figura de um milico qualquer e fuzila em cima. Uma coisa visual, cinema é visual. Não se fez nada disso. Ficou-se na suposição do que vão achar. Não acharam nada e o final se perde. Mas o José Wilker está muito bem e a direção do Sérgio Rezende é firme, com momentos especialíssimos.
EE – Tudo o que se fala do Tenório é real? Ou está mais para lenda urbana?
JL – O Tenório é uma figura que está pronta aí para fazerem outro filme. O que ele aprontou não está escrito. Apareceu o lado bom porque, claro, as filhas estavam muito envolvidas. O filme ficou bem cotado, o fotógrafo, César Charlone, trabalhava com publicidade. Em uma cena, com o José Wilker fumando, a foto está lindíssima. A Marieta Severo faz o papel da mulher do Tenório, Dona Zina, o apelido era Zina, que fingia ser surda porque o Tenório, em casa, não conversava, fazia discurso. Para não ouvir, ela fingia ser surda, usava aparelho. Não era surda, não [risos]. Isto não está no filme. Quer dizer, está no filme mas não está explicitado. É um negócio importante. A mulher passar a vida inteira com um trambolho no ouvido, para não escutar as maluquices do marido. É tema para um outro filme. O Sérgio não se interessou por este detalhe. Também sou culpado, ia poucas vezes ao set. Quando o roteirista aparece lá, de repente, passa a impressão de que ele está fiscalizando ou interferindo. Sempre tive horror de ser chato. Vou às filmagens quando sou convidado.
EE – Louzeiro, para finalizar, uma pergunta que eu sempre faço. Dentro do que você construiu para o cinema brasileiro nesses roteiros, o que você acha que permanece? Aliás, a princípio não era nem para você ter entrado para o cinema [risos]...
JL – [risos]
EE – ... O que você acha que ficou do garoto que entra naquele quarto simbólico, mágico, cresce e chega ao jornalismo, à literatura, ao cinema.
JL – Para responder à pergunta, preciso fazer uma homenagem ao meu avô Severo. Com meu pai eu nunca pesquei; com meu avô Severo eu ia pescar. A gente pegava uns fachos, acendia e jogava a tarrafa para pegar camarão ou siri. Se fosse dia, era só jogar a isca num fio azul que logo os siris apareciam. À noite, a pesca do camarão era comandada pelos fachos. Meu avô tinha um cacoete, que na época eu não entendia. Tão logo a sua cestinha de vime se enchia de siris ou camarões, ele remava para voltar pra casa. Certa ocasião, reclamei, e ele me deu esta lição “Aprenda a se satisfazer com o que suas mãos podem carregar. Nada de amealhar.” No mundo capitalista, meu avô estaria perdido. Agora a filosofia é a seguinte: amealhar e amealhar, enquanto o povo morre de fome. Mas a violência é desencadeada pelos excluídos, e muitos ricos com seus carros importados já não podem sair de casa. Senhoras milionárias usando jóias, nem pensar. Os condomínios sofisticados neste país inteiro são guardados pelos excluídos. Tomara que eles tão cedo não resolvam vingar-se dos seus exploradores.
Maranhense radicado no Rio de Janeiro desde 1954, Louzeiro teve o privilégio de levar para as páginas da literatura, e dali para a grande tela, uma parte considerável da crônica policial dos anos 60, 70 e 80, utilizando-a como objeto de profundo estudo dos abismos que separam ricos e pobres no país.
Alguns desses livros e filmes se tornaram tão célebres que, fazendo parte do inconsciente nacional, aos poucos não diferenciamos mais personagens das obras que geraram. Lúcio Flávio, o famoso bandido carioca, hoje parece indissociável do filme-denúncia oriundo do livro de Louzeiro. Idem a história de Pixote, realizada com base no texto de sua autoria. Não fosse o talento de Louzeiro, provavelmente esses dramas exemplares da sociedade brasileira já teriam sumido na poeira do tempo ou se perdido no anonimato.
Os leitores do Estranho Encontro ganham a oportunidade de conhecer um pouco da emocionante vida deste homem de 73 anos, incisivo e coerente em suas palavras, que guardou na bagagem do que viu e ouviu nas redações dos jornais e delegacias de polícia uma infinidade de histórias para contar. E que, nesta entrevista, relembra um pouco de tudo, com a necessidade dos que ainda tem muito a dizer.
ESTRANHO ENCONTRO – Louzeiro, para começar queria que você falasse um pouco da sua infância, do seu ambiente familiar.
JOSÉ LOUZEIRO – Eu sou filho de um operário, pedreiro, que se tornaria pastor presbiteriano. Meu pai tinha um nome originalíssimo: Aproniano. Nunca vi ninguém com um nome igual. Aproniano. Era pescador, igual ao pai dele, meu avô Severo. Severo Louzeiro. Era Loureiro, mas depois eu vou explicar por que virou Louzeiro. Minha mãe, filha de tabelião, era de um lugar chamado Pinheiro; meu pai, de Guimarães. Ambos do Maranhão. Casaram, tiveram muitos filhos. Nós éramos 12. Mas todos foram morrendo, principalmente os homens. Éramos doze, por aí. Fui o primeiro a nascer homem e a ficar vivo. Tinha uma segunda mãe, a chamada mãe de leite, Teodora, uma negra maravilhosa. Ela dizia: “Esse vai ficar vivo”, e então me dava umas comidas especiais, me dava muito leite, e realmente sobrevivi.
EE – Então seu pai se tornou pastor?
JL – E daí eu tive uma infância e uma juventude muito ligadas à religião. Lia a Bíblia de noite para o meu pai, parece até a cena de um filme chamado “Vidas Amargas”, com o James Dean, em que ele é obrigado a ler a Bíblia para o pai. Aquela mesma história. Como ela é dividida em versículos, às vezes eu saltava alguns, mas meu pai puxava minha orelha. Ele sabia todos de cor. Quando eu pulava, ele sabia. Aí eu desisti, passei a ler certo.
EE – Isso tudo em São Luís.
JL – É. A gente morava num subúrbio chamado Cambôa do Mato. E era engraçado porque o subúrbio começava aonde acabava o calçamento. Não tinha luz na rua, não tinha nada. Até hoje é mais ou menos assim... Eu fiz um primário relativamente bom. Depois, no início do ginásio, fui um péssimo aluno. Era forte, brigava na rua, naquelas ganguezinhas: quando passa de um subúrbio para o outro, estourava a briga. Enfim, eu de fato não cumpria nada do que a Bíblia mandava [risos]. E não estudava, nem lia. Os únicos livros que havia lá em casa eram a Bíblia e os almanaques que distribuíam para vender remédio. Esses, a minha avó Dorotéia guardava. Até que um dia meu pai chegou para mim e disse: “Você é um vagabundo, não estuda, não faz nada. O que é preciso para você estudar?”
EE – E o que você pediu?
JL – Bem, lá não se dormia em cama, dormia-se em rede. E a minha rede era estendida em cima de um bando de saco de cimento, de pedra e tijolos. “Se você fizer para mim um quarto com uma mesa, uma cadeira e com um porta, eu vou estudar.” E ele fez. E eu estudei [risos]. Aí digamos que esse quarto ficou pronto em uma... vamos admitir, hipoteticamente, em uma quinta-feira. Até quarta-feira eu brinquei na rua. Na quinta, eu entrei para esse meu quarto e a minha vida mudou. Completamente.
EE – Isso com quantos anos?
JL – Eu devia ter uns 12 anos, 13 anos, por aí. Os colegas de rua ficaram pensando que eu havia sumido. Comecei a adquirir livros, alguns amigos do meu pai me davam, e comecei a ler. Queria ser alguém, foi interessante. De uma hora pra outra [risos]. Não demorou muito, não. Até porque eu tinha que provar a ele que era verdade.
EE – E a sua mãe, Louzeiro?
JL – Minha mãe era uma pessoa maravilhosa. O apelido dela era Mundiquinha, chamava-se Raimunda. Pessoa de uma paciência fantástica, com uma coisa muito bonita na vida: o meu pai, fanático, convertia todo mundo na rua, só a minha mãe ele não conseguiu converter [risos]. Quando eu queria brigar com ele, eu dizia: “Você não conseguiu converter a minha mãe!” Ela era católica, mantinha um santuário bonito em casa, com os santos da devoção. Um dia meu pai levou o pastor, o superior dele na igreja, e quebraram as cabeças dos santinhos todos. Eu fiquei uma fera. A minha avó, Dorotéia, também de uma paciência incrível, me contava histórias. Havia dois tipos: uma de pura fantasia e outra, de terror, para me fazer dormir rápido. Sempre dormia antes do final dessa, e sempre era mais ou menos a mesma: a de um homem chamado Tamancão, leproso... Olha só, totalmente inverídico o negócio... que de noite aparecia nas ruas de São Luís calçando tamancos, e não fazia nada. Um homem enorme, faltava o braço, faltava o nariz, as orelhas estavam caindo. Vinha de noite pra que alguém conversasse com ele, mas não conseguia, todo mundo fechava as janelas e as portas. Era “A História do Tamancão”. Essa que me fazia dormir...
EE – E nessa época vocês ainda eram Loureiro?
JL – Já éramos Louzeiro, devido ao meu avô Severo. Meu avô Severo não acreditava em nada, não ia à igreja, nem católica, nem protestante, e aos 80 anos gozava meu pai: “Sai agora de noite, dá uma volta por aí, você tem 40 anos de idade”. Ele tocava violão e morreu depois de tocar numa festa onde comeu vatapá, que nem é um prato do Maranhão. Naquele tempo não havia geladeira em casa de pobre, então aquilo foi feito durante o dia e ele comeu à noite. Morreu de uma desinteria total, parece que já estava estragado o camarão, foi um negócio terrível. Morreu com 82 anos; se não, acho que ainda estaria vivo até hoje [risos]. O sobrenome dele era Loureiro. No tempo vago produzia lousas para as escolas. Eram de madeira: a lousa preta e o giz, branco. Ele cortava aquelas tábuas de cedro, fazia as lousas para as crianças. Aos poucos, as pessoas passaram a chamá-lo de “louzeiro”. Então ele trocou o nome de Loureiro para Louzeiro. E hoje eu tenho essa origem que vem de alguma coisa que escrevia, não é? [risos].
EE – [risos] Desde sempre. Mesmo no início, antes de você ganhar o quarto...
JL – Eu não gostava de ler, mas quando ganhei esse quarto, quando entrei naquele ambiente todo pintado, com uma lousa que o meu avô fez, com uma cadeira confortável, com uma pequena estante onde comecei a colocar os livros, aí sim eu comecei a ler. Teve uma hora que o meu pai achou que eu tinha que ir ao médico, a um psiquiatra...
EE – [risos]
JL – [risos] ... porque eu tinha ficado maluco. Fiquei maluco. Aí a minha mãe: “A culpa é sua.” [risos] Porque para almoçar era uma dificuldade. Sair dali. Baixou um santo, e até hoje sou um leitor fanático. Não tem televisão, não tem nada que dê jeito. Eu vejo televisão, mas o meu negócio são livros.
EE – Louzeiro, e como você começou no jornalismo?
JL – No ginásio eu tinha um bom professor, chamado Luiz Rêgo. Um belo dia, o Luiz Rêgo me disse: “Pega este envelope, não abra.” Eu não abria, não tinha nenhum interesse. “Vá no jornal chamado ‘O Imparcial’, entregue lá para o Emanuel. Vá lá.” Ele era amigo do Emanuel. Eu fui. Cheguei lá, o Emanuel, que bebia à beça, disse: “Desça e converse com o Carneiro. Você vai começar a trabalhar como aprendiz de revisor.” Ou seja, era um pedido de trabalho que o Luiz Rêgo tinha feito em meu nome. Ele me aturava. Um tempo antes havia gostado de uma composição que eu tinha feito com letrinhas de forma caprichadas, só para encantá-lo.
EE – Foi assim que você acabou se tornando aprendiz de revisor...
JL – Desta forma. Eu me lembro que o Carneiro era um cara enorme, a barriga enorme, andava sem camisa, todo sujo de tinta. Era o chefe da oficina. Me deu os papéis, provas gráficas que naquele tempo eram umedecidas com água. Gostei muito, porque as primeiras coisas que eu li eram da página literária que o Sarney mantinha no jornal. Ele estava começando também, no mesmo jornal. Eu ficava lendo aqueles artigos e o Carneiro, como eu fazia direitinho, passou a me manter só nesse negócio. De ler essas matérias, para imprimir só no fim de semana. Ou seja, era outro caminho para a literatura. Li poemas do Ferreira Gullar, li poemas do Sarney e de outros intelectuais. Bom, daí desse suplemento eu passei a fazer revisão com os revisores normais, mas não me interessei muito por aquilo e fui para a reportagem de polícia. Tive a ajuda de um repórter famoso, chamado Moacyr de Barros. Eu saía junto com ele, para ver as coisas, e então virei repórter de polícia. Passei mais de 30 anos nessa área.
EE – E a vinda para o Rio?
JL – Eu vim em 54, janeiro de 54, devido a uma reportagem. Fui fazer uma matéria em um município afastado. A acusação que se fazia era a de que um rapaz, cujo nome eu não lembro, tinha sido espancado pelos capangas do Vitorino Freire. Uma figura nociva no Maranhão, senador, o dono do estado. O rapaz foi espancado porque era ladrão no Piauí e fugiu pro Maranhão, mas o jornal inventou que o bom era pegar este cara, botar na primeira página como ele tendo sido espancado, quase morto, com fio elétrico pelo pessoal do Vitorino. Deram uma surra no cara, ele com as costas todas cortadas. Quem fez a matéria fui eu. O Vitorino Freire, claro, mandou botar o meu nome na lista para morrer. O jornal ficou preocupado: eram cinco na lista. Três morreram. Acharam melhor me mandar para o Rio.
EE – O início no Rio deve ter sido conturbado, pelo jeito.
JL – Eles me deram alguns trocados, meu pai também ajudou. Eu vim em um avião Skymaster, da Lloyd Aéreo. Esse Skymaster eram as velhas fortalezas que, durante a Segunda Guerra, transportavam armas e jipes, de Natal para a África. Eu olhei e pensei: “É impossível esse negócio voar”. Era gigantesco, com três motores de cada lado da asa, um troço gigante. A empresa parece que tinha dez desses aviões, e fechou quando caiu o último [risos]. Antes de fechar, ainda havia três, e eu vim em um deles.
EE – [risos] Você se lembra dos seus primeiros momentos profissionais, depois da viagem?
JL – Sim, me lembro. Vim para trabalhar no “O Jornal”, mas acontece que a pessoa que havia me convidado não tinha cacife para convidar ninguém e, de repente, não havia nada que eu fizesse. Fui então trabalhar em uma empresa que vendia material gráfico, alemã, chamada Oscar Flues, na Praça Mauá. Eu cobrava dívidas dos donos de gráficas e cartonagens. A Oscar Flues vendia material de segunda mão, recondicionado. Fiquei nisso um ano, até que comecei a trabalhar na “A Revista da Semana”, na Lapa. A “Revista” concorria com “O Cruzeiro”, do Chateaubriand. A partir daí fui me envolvendo no jornalismo, trabalhei bastante no jornal do Tenório Cavalcanti, “A Luta Democrática”. Depois no “Diário Carioca”, no “Correio da Manhã”, aí enganchei na reportagem de polícia, mesmo. Às vezes eu trabalhava em dois jornais e colaborava com um terceiro.
EE – Já na reportagem de polícia, como foi o seu envolvimento na literatura, enquanto escritor?
JL – Nesse período inteiramente tumultuado, escrevi um livro de contos, chamado “Depois da Luta”. Aliás, teria que ser “Antes da Luta”, o título está errado. Publiquei em 1958, por conta própria; o editor fez um preço barato, então publiquei. Em 60 eu fiz uma novela, a minha primeira novela. Com o tempo, fui publicando muitos. Tenho mais de cinqüenta livros publicados.
EE – Louzeiro, vamos dar um salto para o primeiro roteiro de cinema escrito por você a partir de um livro seu, o “Lúcio Flávio, O Passageiro da Agonia”. Queria que você falasse um pouco da sua convivência com essa figura lendária da bandidagem carioca.
JL – Eu estava cobrindo férias de alguém, no “O Globo”, e também trabalhava na “Última Hora”. Um dia, de noite, de madrugada, uma voz estranha... Você sabe logo que é alguém que está botando lenço na boca, para não ser reconhecido. E aí só pode ser bandido. Umas duas da madrugada, três, aquela voz estranha procurando alguém de “O Globo”. Ele: “Olha, aqui é o Lúcio Flávio.” A polícia inteira estava procurando o cara. “Mas é de verdade?” “É de verdade.” “Então faz o seguinte: daqui a 5 minutos você me liga de novo.” Porque aí eu iria gravar, já tinha um gravador deste tamanho. Ele: “Se for para gravar, eu não ligo. Faz o seguinte: me liga. Eu vou lhe dar um telefone, você liga”. Ele deu um telefone, eu liguei. Esperto, o cara. Você começa a saber que está lidando com um cara que não é bobo. Liguei, ele atendeu; era um boteco, uma barulheira. “É o seguinte: amanhã a gente vai fazer um ganho num banco bonitinho que tem na Urca.” A Urca só tem duas ruas, a Marechal Cantuária e a Avenida Portugal. “Aquele banco do chapéu, do guarda-chuva. A gente vai fazer um ganho e, se você for lá, com certeza vai ter uma boa matéria.”
EE – Mas ele fez isso por quê? Pela vaidade, então.
JL – Vaidosíssimo. Megalômano. Eu fui, não disse para ninguém porque a gente esconde para o outro não saber [risos]. Foi um assalto fantástico, um assalto fantástico. Uma menina muito bonita, quando ele já ia saindo, correu atrás dele para dar um beijo. Essa cena não está no filme. A menina ia dar um beijo e ele teve um tremor, porque acionou o gatilho e não havia mais balas. A menina se salvou, mas quando chegou ao carro ele borrou-se todo.
EE – O projeto do livro foi combinado em conjunto por vocês dois?
JL – Eu prometi que escreveria um livro sobre ele. No filme está assim: “Vocês podem acabar comigo, mas não acabam com a minha história. Estou contando para um jornalista.” O jornalista era eu. Fui para São Paulo, fiquei na “Folha de São Paulo” uns anos e, depois, quando eu voltei para o Rio em 75, ele tinha sido assassinado. Aí eu resolvi, em cima da história dele, escrever um livro. O livro que ele não escreveu, uma pena ele não ter podido ler. Os editores tiraram 3 capítulos, porque ficaria muito grande. Tiraram. Um dia, quando eu republicar de novo, vou colocar os 3 capítulos que estão faltando.
EE – Você pode adiantar pra gente o que eles contêm?
JL – Um é bem interessante. O Lúcio Flávio foi o único bandido que fugiu 16 vezes da prisão, pela porta da frente. Para fugir de prisão é preciso ser um gênio. E ter muito dinheiro. Ele só fugia pela porta da frente, era uma pessoa com uma boa formação. Só para você ter uma idéia, o pai do Lúcio Flávio era o principal assessor, cabo eleitoral, do Juscelino Kubitscheck. Eu tinha uma foto com o Lúcio menino, o pai e o Juscelino.
EE – Quais eram os métodos dele para as fugas?
JL – Certa vez ele chegou para o diretor do [presídio] Frei Caneca e disse: “Seu Fulano, eu vim aqui lhe dizer o seguinte: a sua prisão é uma imundície.” Era ousado. “Que administração o senhor faz, que não tem sequer condições de pintar isso aqui? Eu quero ser preso num negócio mais ou menos limpo.” Aí o cara: “Não tenho verba pra isso.” “Bem, se quiser eu lhe dou as tintas. Eu posso até pintar o meu pedaço.” E não é que o cara topou? O Lúcio Flávio telefonou para alguém e de repente começaram a chegar os caminhões com tinta. Muito bem. Foram arrumando as tintas no canto, aqueles galões, a coisa demora. Prisão é como igreja, não acontece nada de uma hora pra hora. Um belo dia, havia um monte de latas de tinta amontoadas; um policial pegou algumas, botou no Fusquinha e roubou. Quando chegou em casa, abriu. Estava cheio de armas. “Se essa está cheia de armas, as outras também devem estar. E agora, eu faço o quê? Eu fico calado, espero o motim? Vai morrer um bando de gente.” A mulher dele: “Eu acho melhor você contar. Vai sair preso como ladrão, mas pelo menos presta um serviço aos seus colegas.” Foram lá e não deu outra. Dez latas. Duas tinham armas; oito, tinta. Mas havia alguma indicação que os policiais não conseguiram descobrir, que dizia em qual havia arma e em qual havia tinta. O Lúcio Flávio foi chamado. “Então o senhor queria dar um golpe?” “Não senhor. Eu estou fazendo o meu papel de preso, eu quero fugir. E o senhor é que tem que se virar, para não deixar que eu fuja. A hora que puder, eu fujo.” [risos]
EE – [risos] E os outros capítulos retirados?
JL – O Lúcio não fumava, nem bebia, mas pedia que trouxessem fósforos. Dos fósforos ia tirando a pólvora e colocando em uma lata: acabava tendo latas e latas de pólvora. Pegava papel de jornal, molhava, embolava, fazia um bando de bolinha. Com uma agulha ele imantava o fio de linha com pólvora. Passava a agulha por dentro das bolinhas. Fazia um cordão com uma bolinha aqui, outra bolinha, outra bolinha. E cada cara do grupo dele que saía, saía com bolinhas e largava aquilo em lugar estratégico. Muito bem. Teve uma festinha na prisão. O diretor estava comemorando não sei o que, veio o Secretário de Segurança e assessores. Quase que no mesmo momento, veio também um carro da lavanderia. Nessa hora em que estava todo mundo reunido, hasteando bandeira, o Lúcio Flávio acendeu um fósforo e tocou fiozinho que saiu queimando a pólvora e começou a estalar: pá, pá, pá! Os policiais sacaram as armas, começaram a dar tiros, gerou um pandemônio. O grupo do Lúcio rendeu o cara da lavanderia, amarrou o motorista e foi embora. Fugiram dez. Pela porta da frente. Tem mais o outro capítulo que eu não me lembro direito, mas esses dois eu quero recolocar. O Lúcio era altamente inventivo. Uma inteligência a serviço do crime.
EE – Em relação ao filme, como foi a abordagem do pessoal da produção, para o roteiro? Como eles chegaram até você?
JL – Eu ia fazer o filme com o Roberto Farias. Aí o Roberto tinha ido para Cannes. Jornalista vive em um sufoco que não tem tamanho, eu precisava de alguém que me desse um adiantamento para trabalhar no roteiro. E eu nunca tinha trabalhado em roteiro nenhum. Nesse período eu perdi o contato com o Roberto.
EE – O Babenco entra nessa hora.
JL – Um argentino me telefona, de repente. Alguém com a pronúncia bem espanholada mesmo: “Olha, eu sou o Babenco. Li o seu livro, queria colocá-lo no cinema, estou apaixonado por ele.” Jornalista não acredita em nada. “Bom, vamos fazer o seguinte. Que horas são no seu relógio?” “São 11 horas.” “Quando for 2 horas da tarde, se você estiver aqui em casa, porque às 4 eu saio para a ‘Última Hora’, a gente faz negócio. Se não, você me esquece.’” Ele chegou 1 e meia, por aí. Era um jovem, fiquei até com pena. O cara veio lá de São Paulo, uma bolsa deste tamanho, todo grandalhão e afobado. Ele disse logo: “Vou lhe arranjar o dinheiro, isso não é problema.” O que já é muito grave de se dizer. Mas aí fechamos negócio. Gostei muito quando ele me disse: “Eu quero fazer um filme como o livro.” Pensei: “vou jogar na disposição desse cara”. E por isso fiz negócio com ele. O Roberto ficou chateado quando voltou. O filme não é lá uma obra-prima, mas foi um sucesso muito grande. E feito em quatro semanas, era 1977. Em plena ditadura, denunciava o “Esquadrão da Morte” que as autoridades negavam existir.
EE – O roteiro é seu, não é?
JL – Meu e do Jorge Durán, grande roteirista. Eu não sabia fazer roteiro nenhum. Gostava muito de ler textos de teatro. Gostava, não. Gosto. Mas cinema é diferente. O Jorge ajudou muito, ficamos amigos. É talvez um dos melhores roteiristas que eu conheço. Foi quem me despertou para esse negócio do conflito, ajudou muito os meus livros, ele nem sabe disso. Hoje, o conflito, para mim, é indispensável em qualquer coisa. Você vai ver um programa desses na televisão: se não tiver o conflito, dançou. Os conflitos, a armação da história, eu aprendi com o Durán. A dramaturgia é uma ciência, e quem não estiver em cima de conflito e de plots, pode encerrar, porque está fora do contexto. O Durán sabe disso tudo. Então a minha trajetória pessoal no cinema foi através do Babenco e do Durán.
EE – Depois do “Lúcio Flávio” você fez o roteiro de “Os Amores da Pantera” com o Milton Alencar, com quem você trabalharia muitas vezes.
JL – O Milton é uma pessoa queridíssima, mas sempre se dividiu muito. Ele poderia ter sido um grande cineasta, mas se dividiu muito. Esforçado. Nós fizemos muitos filmes juntos. Começou com o Jece Valadão, no estúdio da Magnus Filmes.
EE – E do “Os Amores da Pantera”, o que você lembra do roteiro?
JL – Do “Os Amores da Pantera” eu me lembro do Jece Valadão [risos].
EE – Ele encomendou o roteiro?
JL – Houve uma época em que o Jece foi muito amigo meu. Ele sempre quis fazer um filme sobre o Lúcio Flávio, acabou até fazendo: “Eu matei Lúcio Flávio”. O Jece até me convidou para fazer o roteiro, mas não aceitei. Não poderia fazer “Lúcio Flávio” e dizer que quem matou o Lúcio foi aquele policial, o Mariel Maryscotte. Aliás, ele não ia com a minha cara. Quando fiz o filme ele achou que deveria ter colocado o nome dele – Mariel. Eu coloquei Moretti. O Mariel era um dos homens do “Esquadrão da Morte”; um dos Homens de Ouro, junto com o Sivuca e companheiros de grupos de extermínio.
EE – Escuderia Le Cocq, coisas assim...
JL – Imagina. Eu sempre fui contra esse pessoal. Ele ficou marcando o Jece e chegou uma hora em que o Mariel arranjou dinheiro com os bicheiros para a produção. Queriam que eu elaborasse o roteiro, a proposta era essa: ganhe um apartamento de três quartos na Zona Sul, aonde quiser, e faça o roteiro. Mas eu sou muito teimoso. “Não faço.” Fazer um filme contra o Lúcio Flávio, não senhor, de jeito nenhum. Fiquei sem o apartamento [risos].
EE – Você já chegou a ser preso por apologia ao crime?
JL – Algumas vezes, mas coisa rápida. No “Correio da Manhã” fiquei umas três vezes preso, a prisão era pertinho. O “Correio da Manhã” era na Gomes Freire e naquela rua que atravessa, Consolação esquina de Inválidos, tem o que hoje está semi-destruído, que era o Palácio da Polícia. Fui preso ali umas três ou quatro vezes. Dois dias, três dias, meio dia, uma hora. Por coisas que às vezes até desconhecia o motivo.
EE – Louzeiro queria falar agora sobre outro roteiro seu baseado na crônica policial, “O Caso Cláudia”, de 79.
JL – “O Caso Cláudia”. “O Caso Cláudia” foi dirigido pelo Miguel Borges.
EE – Eu queria entender uma coisa. Ele é todo calcado na morte da Cláudia Lessin Rodrigues. O que é óbvio, a começar pelo título. Por que no final consta que todos aqueles episódios são inverídicos? “Qualquer semelhança...”
JL – Medo do diretor, para não ser processado pelo Comandante, o pai dela.
EE – Ah, o pai dela era Comandante...
JL – ... de Aviação Comercial.
EE – O Miguel encomendou o roteiro a você e ao Valério Meinel. Ou não?
JL – O dono de uma editora – Arte Nova, Álvaro Pacheco – que ficava no bairro de São Cristovão, foi quem nos encomendou esse filme. Para mim e para o Valério Meinel. Foi o Valério Meinel que ajudou a descobrir o caso, antes da polícia. Ele e o fotógrafo Gallo, junto com o detetive War War, que cunhou uma frase: “a mecânica do evento”. Tudo dele era mecânica do evento. Pois bem, encomendaram o filme e nós fizemos o roteiro. Nunca mais soubemos nada a respeito desse filme. Também a gente vai deixando pra lá... Fez sucesso na Argentina, um sucesso grande.
EE – Você tem alguma história interessante dos bastidores?
JL – Eu estive na televisão, no programa do Flávio Cavalcanti, da Tv Tupi. O Flávio me convidou, mas não me disse com quem eu estaria. Para mim, era um programa a respeito do filme, mas quando eu chego, lá encontro o pai da Cláudia, o Comandante. Não me lembro agora do nome; estava bastante zangado. Acontece que eu sabia uma história completa da menina nos Estados Unidos, em Nova Iorque. “Está bem, Comandante. Isso não está no filme. O senhor quer que eu diga ou não diga?” “Imagina, o senhor pode dizer, não há nada a esconder.” “Eu acho que há. Depois que eu disser, o senhor vai entender que há.” Aí o Flávio: “Então vamos!” Claro, era o Flávio Cavalcanti... “A menina namorava um cabeludo americano, tocador de guitarra. O senhor foi ao FBI, mandou pegar a menina, botar dentro do avião e prender o rapaz. Essa que é a história. A menina veio para o Rio de Janeiro na marra. E o senhor sabe quem é o rapaz agora? Ele é o líder de uma banda. Está lá, vivo. E o senhor trouxe a sua filha, ela encantou-se com um delinqüente daqui, o Michel Frank, filho do representante de relógios Mondaine, da Suíça. Ela namorou uma figura rica, não é isso o que o senhor queria? Só que esse rico era um patife e ela morreu. O senhor...”, aí ele chorou, “...o senhor é o responsável pela morte da sua filha. O senhor é o responsável. Isso eu não botei no filme. Nós temos os jornais. A sua filha sendo presa nos Estados Unidos, está tudo registrado.”
EE – O nome desse roqueiro, você se lembra?
JL – Não me lembro do nome dele, é famoso hoje, mas esqueci o nome. Naquela hora, então, o comandante chorou, foi uma loucura, depois quis me abraçar. “Não, não. O senhor é o responsável pela morte da sua filha.” Jogaram a menina no Chapéu dos Pescadores. Olha só o padrão dos caras: quando eles a jogaram a maré estava cheia, só que o corpo ficou enganchado. Quando a maré secou, a menina estava nua, aquele corpo enganchado na pedra, e os bombeiros jogando corda para puxá-lo. Por outro lado também, não foram os rapazes que a mataram. Ela cheirou demais, eles meteram a mão pela boca da menina no momento em que começou a ficar enlouquecida, tentando desenrolar-lhe a língua. A mão do Michel ficou toda arranhada de dentes. Essa que é a história. Ninguém a matou, não, ela morreu de overdose. E quem descobriu foram o Valério Meinel e o Gallo.
EE – E o roteiro seguinte foi o do “Pixote, A Lei do Mais Fraco”, baseado no livro “Infância dos Mortos”, escrito por você. Como o Babenco fez o contato?
JL – Desde o “Lúcio Flávio” eu já estava pensando em escrever o “Pixote”, o que só fui fazer em 77. Por volta de 1980, o Babenco comprou os direitos, mas ele não iria fazer “Pixote”, aconteceu por acaso. Ele estava trabalhando em cima de um livro do Márcio Souza sobre a Amazônia, com um conteúdo histórico, a respeito da borracha, da construção do teatro maravilhoso que há em Manaus. O Babenco é muito hábil, ele ouve todo mundo, afinal, era uma superprodução, com roupas antigas, um montão de gente. Enquanto no “Pixote” ele teria que fazer um filme em que roupa é o que não tem; são shorts, aquela atmosfera miserável, mesmo. Ele, então, preferiu fazer o “Pixote”, roteiro meu e do Durán. Só que o meu nome foi tirado. Porque o Babenco deveria aparecer como diretor, o Duran, o roteirista e eu o argumentista. O Babenco não cumpriu o acordo, fiquei sem meu percentual de 2%. Meu pobre percentual. E aí houve que eu me chateei, fui para o advogado e não fizemos o terceiro filme, que seria o “Brincando de Viver”, sobre a escritora louca Maura Lopes Cançado, autora de um diário chamado “Hospício É Deus”.
EE – "Hospício É Deus"! Estou procurando esse livro há um tempão...
JL – Fui amigo pessoal dela, mas às vezes até me arrependia, porque todos os problemas dela, ela passava pra mim. Todos, inclusive, ou principalmente, os sentimentais. Certa vez ela namorou um detetive mau caráter que começou a tratá-la como prostituta. Foram dormir no Marialva, um hotel pertinho do “Correio da Manhã” e do Palácio da Polícia; esse hotel está lá até hoje. Sentindo-se humilhada, Maura meteu o revólver do amante na bolsa e foi à redação de madrugada me comunicar que ia matar o policial. Só não matou logo porque não sabia acionar o revólver 38, que por sinal estava cheio de balas. Como eu aprendi a lidar com loucos, em vezes de fazê-la desistir – que é o que ela queria, para entrar na lamentação –, e eu cheio de trabalho, o jornal não podia atrasar, disse a ela de maneira enfática que o melhor de matá-lo seria a pauladas [risos]...
EE – [risos]
JL – Expliquei que há um “pau de bobina”, roliço e forte: com dois belos golpes ela mandaria o amante para o céu. Pedi ao meu assistente que pegasse um pau de bobina enquanto ela tomava um cafezinho. Quando Maura viu a peça surpreendeu-se, bateu com a xícara em cima da mesa e disse que eu era louco. Se ela batesse com aquele pau na cabeça do detetive, iria espirrar miolo pelas paredes. Decepcionada comigo, foi embora esquecendo o revólver, que no dia seguinte devolvi ao policial, que me disse chamar-se Toninho. O que devia ser mentira, pois eu nem perguntei o nome dele, que chegou na redação perguntando por Maura. Essa e outras histórias, pretendo colocar em filme no qual a Maura se encontra com Dom Quixote, em Jacarepaguá, numa clínica em que ela era interna.
EE – E as repercussões iniciais do Pixote, livro e filme, na época?
JL – Foi muito interessante, porque tanto na época do livro, quanto na época do filme, aqui no Brasil não teve a menor importância. A burguesia ainda não era assaltada pelos meninos de rua. Acho que os meninos de rua então prestaram um grande serviço social a este país; quando nada, abriram o mercado de trabalho: todo mundo agora tem porta de ferro, o carro anda com a vidraça pra cima, não pode enguiçar. Tudo pode enguiçar no carro, menos o vidro da janela para evitar os meninos vendedores nos sinais. Eles acabaram prestando um grande serviço social neste país de patifes, ladrões e picaretas. Quem é sério neste país? Este é que é o problema. Aonde é que anda a classe política deste país? Está precisando ser varrida, jogada no lixo. Eu digo um negócio, tomara que eu não acerte. Os bandidos é que vão acabar botando o país nos eixos. Só há bandido! Agora, o bandido que rouba um queijo, vai em cana. O Delúbio e os seus comparsas, isso aí rola num papo indefinido e acaba ficando tudo por isto mesmo. Os milhões afanados não são devolvidos nunca.
EE – O livro tem essa inquietação que você captou no ar em 77.
JL – Era a época da ditadura, e se você prestar atenção, os meninos é que são os heróis. Você não tem idéia do que eles passam na Padre Severino [instituto de correção para menores]. E às vezes eles são pegos na rua porque estão a serviço da polícia. Isso não quer dizer que seja da polícia toda, mas de uma boa parte, sim. Roubando para dividir dinheiro com o policial. Depois largam eles no camburão, e quem não faz isso morre cedo. Outro dia, 2 ou 3 policiais bêbados entraram em um boteco lá de Caxias e mataram 29 pessoas. Quase todos meninos. Mataram e mataram. O que aconteceu com os assassinos? Até hoje oficialmente não sabemos. As vítimas eram todas pobres. Soldados do Exército mataram há pouco tempo um menino que descia de uma viela no morro, conduzindo um guarda-chuva fechado. Um inteligente militar pensou que fosse uma metralhadora e não pensou duas vezes. Metralhou um menino de 16 anos. O que aconteceu com o assassino? Não sei, ninguém sabe. Quando repórter eu não era querido por ninguém, muito menos pelo jornal. Porque eu nunca fiz composição com polícia, nem com ninguém. Tive amigos que faziam muito isso e morreram mal.
EE – Como era a sua relação com Fernando Ramos da Silva, o protagonista de “Pixote”?
JL – Com o apoio do ex-prefeito de Caxias, Hydeckel Freitas, eu trouxe a família do Fernando para o Rio, no final dos 80. Na época ele estava sendo perseguido pela polícia em Diadema, São Paulo. Com Pixote e sua mãe, Dona Zefa, vieram 2 irmãos – assaltantes procurados pela Rota paulista – e um tio que não queria nada com o trabalho. Hydeckel conseguiu emprego para todos eles e com seu dinheiro, não o da Prefeitura, comprou uma casa confortável no bairro da Paulicéia, em Caxias. Havia garagem, uma geladeira, um freezer, cheios de comida – que o Fernando trocava por drogas –, além de uma pequena biblioteca, 3 quartos e um jardinzinho rodeando. Nesse dia ele me disse: “Você é o pai que eu não tive.” Dona Zefa, não acreditando que a escritura da casa coubesse em 2 folhas de papel, vendeu a casa pela metade do preço para um oficial da Marinha, comprou uma Kombi velha, botou o que coube no veículo e, como se estivesse fugindo, partiu de volta para Diadema. Hydeckel Freitas quando soube dessa decisão, chorou. Seu sonho era mandar Fernando estudar dramaturgia nos Estados Unidos. Queria adotá-lo. Fernando foi vítima da glória que alcançou e não soube administrar, nem tinha idade pra isso. Outra pessoa que muito ajudou o Fernando foi o Babenco, que mandou transformar o barraco onde ele morava, antes de vir para o Rio, numa casinha de alvenaria. O ator foi fuzilado por policiais da Rota que terminaram inocentados, como sempre acontece. Era um péssimo ladrão, roubou na vizinhança uma televisão velha e por essa insensatez, acabou morto.
EE – Em 1996, o José Joffily rodou o “Quem Matou Pixote?”, baseado em outro livro seu com um gancho sobre o mesmo tema, o “Pixote, a Lei do Mais Forte”.
JL – Porque o mais forte é a polícia.
EE – Como é que surgiu esse filme?
JL – Surgiu por iniciativa da Cida Venâncio, mulher do Fernando Ramos da Silva. Ela escreveu um livrinho sobre ele e procurou o José Joffily, que se interessou, pediu que eu ajudasse e ajudei. Além desse, outra fonte foi o livro que eu escrevi sobre o Fernando, cujos direitos dediquei à filha dele durante as primeiras edições. Nem sei em quantas edições já está. A menina parecia muito com o pai, quando botava aquela touquinha, então... Ajudei um pouco no filme. O Zé é muito bom, gosto muito dele, acho a fita legal. O Bomtempo faz o papel de um policial diabólico. Acho inclusive que a marcação de luz e certos enquadramentos são melhores do que os do “Pixote”, de Babenco. Tem uma boa marcação de luz. E o Zé tem uma qualidade no set que eu admiro. Quando as coisas estão muito enroladas, ele fecha os olhos e pára [risos]. Pára [risos]. É engraçado. Faz isso para não perder a concentração. É dose pra elefante rodar um longa neste país voltado para o cinema americano.
EE – Agora, voltando para 1982, passamos para um outro filme bem barra pesada. O “Escalada da Violência”, do Milton Alencar.
JL – Esse não chegou a ser exibido, chegou?
EE – Saiu em vhs.
JL – Mas não chegou a ser exibido. Foi produzido por um dos sócios da Supergasbrás, milionário. Ele resolveu fazer um filme, aliás, nós metemos essa idéia na cabeça dele, e então surgiu o “Escalada da Violência”, do Milton Alencar.
EE – E o roteiro todo seu?
JL – O roteiro todo meu.
EE – Aproveitando, claro, as suas experiências como repórter. Tem muita coisa verídica ali?
JL – Muito, muito. Graças ao Sérgio Farjalla, mestre em efeitos especiais, bolamos um carro que rendeu uma bela explosão. O filme ficou bom, é o melhor trabalho do Milton.
EE – O conflito central, do cara ter perdido a filha e a esposa, é verídico também ou aí já foi ficção?
JL – É verídico...
EE – ... O cara ficou louco mesmo...
JL – Trata-se de uma reportagem em 35 milímetros. Como nunca foi para o cinema – o produtor, Valdemar, não concordou com o percentual de 50% cobrado pelos exibidores – o filme enferrujou na lata. Mas isso era lei de mercado, o Valdemar detestava esse tipo de lei. Pra piorar, era a ditadura, período em que havia uma grande contradição entre a ideologia de direita e a produção de quase 100 filmes malandramente contra o regime. Eram produzidos pelos condutores da política de exceção, através da Embrafilme, dirigida por Roberto Faria e apoiadíssima pelo Ministro João Paulo dos Reis Velloso, que arranjava o dinheiro. Uma pessoa devotada ao cinema, infelizmente esquecida até pelos diretores beneficiários – e não foram poucos – da sua astúcia.
EE – Outro filme bem interessante para a cinematografia brasileira é o “Amor Maldito”, de 1984, dirigido pela Adélia Sampaio. O primeiro de temática inteiramente lésbica feito no país. Quando entrevistei a Monique Lafond, ela me disse que a Adélia ou você ficaram sabendo primeiro da história. História verídica também, não é?
JL – É, aquela história surgiu primeiro no jornal. Contactei a Adélia, que nesse tempo estava vindo do teatro. Hoje ela voltou para o teatro novamente, apesar de ter tudo para ser uma boa diretora. Quem dá vida ao filme é a Monique. Muito bonita, atlética, fazia bastante ginástica. O filme também é muito bem dirigido. E em relação ao fato de ser o primeiro integralmente com a temática lésbica, eu sabia e a Adélia também. Aliás, você precisava ver os narizes torcidos e tudo o mais. Até hoje, imagina. Agora, ninguém sabe que se você for na história antiga, antiga mesmo, na Grécia, por exemplo, todos aqueles filósofos tinham os seus amantes. Todos. O Sócrates tinha a Xantipa e os namorados. A humanidade foi sempre assim. Qual é o problema? O diabo são os preconceitos. Onde está o escândalo de uma mulher viver com outra? A Adélia pretende fazer outros filmes desse tipo, inclusive mais trabalhados. Quando se fala “mais trabalhados”, significa “com mais dinheiro” e vários tratamentos de roteiro.
EE – Passando para o “Noite”, de 85, do Gilberto Loureiro. Do que você se lembra?
JL – Esse tem uma história muito curiosa. Foi produção da Mariza Leão, baseado no livro “Noite”, do Érico Veríssimo. O Gilberto é uma bela pessoa, e Loureiro, quase que era Louzeiro. Bom desenhista, arquiteto, enquanto eu fazia as seqüências, ele desenhava storyboards. Tive vontade de publicar um livro com os desenhos, mas não foram guardados. O filme seguiu bem até perto do final, depois houve desentendimentos dele com os atores. Um exemplo: em determinado momento da fita, havia uma menininha linda, de quem eu não me lembro o nome. Ela aparecia só na mente do personagem, que era um louco. De repente, mexeram no roteiro, a garotinha ficou sendo uma imagem do real. Como outra qualquer. Perdeu a força da subjetividade. Aí o louco perdeu também a razão de ser. Era um belo filme. Uma luz especialíssima, um figurino de primeira qualidade.
EE – Mas nesse, então, você fazia as cenas e o diretor ia preparando o storyboard.
JL – Algo que não é comum no Brasil. O storyboard, que aqui muita gente não sabe o que é, e num instante desenhava. Não sei por que, parece que ele inibiu-se depois desse filme. Nunca fez mais nada. Uma pena. Loureiro é um profissional de muita sensibilidade. Além de um desenhista inspirado.
EE – Chegamos ao “O Homem da Capa Preta”, de 86, do Sérgio Rezende...
JL – “O Homem da Capa Preta”. O Sérgio estava querendo fazer um filme chamado “Soco Inglês”. Eram uns trogloditas que promoviam desordens, davam cotoveladas para afundar capota de carro e outras maluquices do mesmo tipo. Eu achava aquilo um pouco sem pé nem cabeça. Do meu lado, no chão, havia uma pasta grande, com os originais do livro da Sandra Cavalcanti, a filha do Tenório. Eu via que aquela história não tinha futuro, e o Sérgio também. Aí disse: “Sérgio, leva esse original aqui, que eu ainda não acabei de ler, é da filha do Tenório.” No dia seguinte, ele reapareceu encantado. “Vamos esquecer o soco inglês e fazer isto aqui.” E começamos. Movimentamos a Sandra e a Dalva Lazarone, para dar mais informações sobre o deputado. Além das que eu tinha.
EE – Da época de jornal?
JL – É, de quando trabalhei com ele na “Luta Democrática”. Muita coisa que se faz na redação, ninguém em casa fica sabendo. Acho que este é um filme dos bons. Não concordo com o final de metralhar o muro, um muro de tijolos, como aquele que está ali, aparente. Ali deveria estar uma figura qualquer. Coloca a figura de um milico qualquer e fuzila em cima. Uma coisa visual, cinema é visual. Não se fez nada disso. Ficou-se na suposição do que vão achar. Não acharam nada e o final se perde. Mas o José Wilker está muito bem e a direção do Sérgio Rezende é firme, com momentos especialíssimos.
EE – Tudo o que se fala do Tenório é real? Ou está mais para lenda urbana?
JL – O Tenório é uma figura que está pronta aí para fazerem outro filme. O que ele aprontou não está escrito. Apareceu o lado bom porque, claro, as filhas estavam muito envolvidas. O filme ficou bem cotado, o fotógrafo, César Charlone, trabalhava com publicidade. Em uma cena, com o José Wilker fumando, a foto está lindíssima. A Marieta Severo faz o papel da mulher do Tenório, Dona Zina, o apelido era Zina, que fingia ser surda porque o Tenório, em casa, não conversava, fazia discurso. Para não ouvir, ela fingia ser surda, usava aparelho. Não era surda, não [risos]. Isto não está no filme. Quer dizer, está no filme mas não está explicitado. É um negócio importante. A mulher passar a vida inteira com um trambolho no ouvido, para não escutar as maluquices do marido. É tema para um outro filme. O Sérgio não se interessou por este detalhe. Também sou culpado, ia poucas vezes ao set. Quando o roteirista aparece lá, de repente, passa a impressão de que ele está fiscalizando ou interferindo. Sempre tive horror de ser chato. Vou às filmagens quando sou convidado.
EE – Louzeiro, para finalizar, uma pergunta que eu sempre faço. Dentro do que você construiu para o cinema brasileiro nesses roteiros, o que você acha que permanece? Aliás, a princípio não era nem para você ter entrado para o cinema [risos]...
JL – [risos]
EE – ... O que você acha que ficou do garoto que entra naquele quarto simbólico, mágico, cresce e chega ao jornalismo, à literatura, ao cinema.
JL – Para responder à pergunta, preciso fazer uma homenagem ao meu avô Severo. Com meu pai eu nunca pesquei; com meu avô Severo eu ia pescar. A gente pegava uns fachos, acendia e jogava a tarrafa para pegar camarão ou siri. Se fosse dia, era só jogar a isca num fio azul que logo os siris apareciam. À noite, a pesca do camarão era comandada pelos fachos. Meu avô tinha um cacoete, que na época eu não entendia. Tão logo a sua cestinha de vime se enchia de siris ou camarões, ele remava para voltar pra casa. Certa ocasião, reclamei, e ele me deu esta lição “Aprenda a se satisfazer com o que suas mãos podem carregar. Nada de amealhar.” No mundo capitalista, meu avô estaria perdido. Agora a filosofia é a seguinte: amealhar e amealhar, enquanto o povo morre de fome. Mas a violência é desencadeada pelos excluídos, e muitos ricos com seus carros importados já não podem sair de casa. Senhoras milionárias usando jóias, nem pensar. Os condomínios sofisticados neste país inteiro são guardados pelos excluídos. Tomara que eles tão cedo não resolvam vingar-se dos seus exploradores.
11 comentários:
Entrei no blog hoje por acaso e estava quase desligando o computador. Mas ao começar a ler a entrevista fiquei com ela até agora. Muito boa, ao lado da do Afrânio Vidal uma das melhores que você fez Andréia. Já tinha visto um programa sobre ele no Canal Brasil, mas não sabia que ele tinha colaborado pra tantos filmes e era uma pessoa tão inteligente sensível (o que fala do avô é genial). Nunca li nada do Louzeiro, mas pretendo ler alguma coisa dele mais cedo ou mais tarde.
Parabéns pela competência de sempre,
Bjos,
Matheus.
Endosso o Matheus e acrescento q. essa entra no meu top 3 das suas entrevistas, juntando-se com a do Afrânio e a do Anselmo. Destaco entre as ótimas histórias, essa sobre o 'falso' aparelho de surdez, acho q. ela dá uma idéia de como o q. pode parecer genial prá alguém (eu, incluso), eventulamente não merece a mesma importância para o diretor, uma pena!
Oi, Andréa! Meu micro está no conserto, quando voltar vou ler melhor a entrevista (estou num cyber) mas parece estar excepcional! Te mandei um e-mail, recebeu? Beijos!
Andréa,
Parabéns por mais essa entrevista! Adorei a parte sobre Pixote, um filme que impressiona até hoje.
Beijos da Veri.
Sensacional a entrevista,histórica!Sempre gostei muito do trabalho do Louzeiro,por acaso ele não participou no roteiro de uma novela da TV Manchete,acho que era "Corpo Santo" ou alguma coisa assim?Parabéns pelo trabalho,e que venha mais nesse nível!
Matheus, Edu, Sergio, Veri e Dr. Lorax: desculpa a demora em responder, mas não estava conseguindo postar aqui nos comments. O Louzeiro é o tipo de entrevistado que rende histórias excepcionais. Não apenas enquanto profissional mas como personagem, de tão raro que soa o depoimento. Beijos e obrigada a todos!
oi Andrea querida. fiquei emocionado com esta entrevista. somente uma pessoa tão especial poderia tirar de uma homem tão rico, tantas palavras "ensinadoras". Você está de parabéns. a propósito não nos vemos faz um tempão,mas te vi na TV, (tve). vamos marcar, preciso da ajuda de vcs para verum certo filme. outra coisa: tenho feitos comentários sobre a música popular no blog www.musicapopulardobrasil.blogspot.com
dauma olhada e um grande abraço
Josué
Bom dia a todos.Meu nome é Julian e sou de São Paulo.Vi este blog por acaso.
Desculpem alguns membros e tudo mais.Mas assim como o José Louzeiro e outros escritores ,na maioria deles são sensacionalistas.Querem ganhar dinheiro as custas da "mentira "
José Louzeiro escreveu em 1976 (Aracelli meu amor) ,um livro sensacionalista,inverídico , a fim de ganhar lucros apenas.
Tenho um orkut que retrata do caso Araceli,tenho tudo sobre Araceli e algumas coisas sobre o autor José LouO livro Aracelli meu amor é pura ficção...primeiro porque o nome da minha filha era Araceli e não Aracelli.O autor em uma entrevista para alguns alunos no (RJ) disse que sentia minha filha Araceli ao seu lado e que ela queria que ele escrevesse o livro!!!Disse também que o Radar,cachorro dela cheirou o pezinho dela e depois morreu......
A estória em que o Radar foi ao IML é mentira também......
Tanto o José Louzeiro e o “Ministro da educação Carlos Alberto Luppi “ que também é escritor e jornalista,é mentiroso também.!!!!!!!!
Peço desculpas a todos.Só não posso deixar ele inventar coisas sobre minha bebezinha Araceli.
Tenho um orkut sobre Araceli: podem visitar : http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?rl=ls&uid=4350489334836170884 ,podem ver através do youtube também,tenho o documentário do Caso Araceli,slides e homenagem à ela.Têm o link do orkut também,claro assim podem ver as fotos e a verdade!!!
Obrigado à todos.
Podem visitar meu perfil se quiserem ,assim vão tirar suas conclusões!!!
Peço desculpas também ao José Louzeiro,eu sei que você tentou nos ajudar.Mas você não disse a verdade sobre minha pequena Araceli,que agora está mortaaaaaaaaa.....
Obrigado à todos.
Podem me enviar mensagens no orkut,porque na conta do youtube raramente eu acesso.Apenas têm as homenagens a Araceli e o documentário.
Obrigado pelo espaço.
adorei ler seus artigos.sou sua fa desde que o conheci em um intercambio,angola ,presidio escola do vidigal, na antiga funabem.sua paticipacao foi enriquecedora.para mim o aprendizado foi grande .eu era professora do presidio e da escola do vidigal,trouxe poemas e musicaspara trocar e homenagear uns aaos outros.foi lindo.meu email e anamonr@ig.com.br.
Meu nome é Alfredo Teixeira Louzeiro Filho meu pai é de Guimarães como vc, provavelmente somos parentes. Há muito leio seus livros e crõnicas.
olá bom dia, vi uma comentário sobre uma pessoa se dizer pai ou mãe de Araceli, ese individuo só tem razão em uma coisa o nome de é Araceli Cabrera Sanchez e não Aracelli, mas em questão parentesco é mentira! pois os pais de Araceli são Gabriel Crespo Sanchez e Lola Cabrera, falo com propriedade pois sou filho de Gabriel no 2º casamento logo após ele ter se separado de lola, sou Abel Honofre Sanchez em alguns livros conta uma foto onde estou sentado no colo de meu pai, meu pai faleceu em 2001 e lola está vivendo na bolivia país de origem,grato pelo espaço.
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