quarta-feira, dezembro 07, 2005

Na Estrada da Vida


Se “Dois Filhos de Francisco” é um ótimo filme, com apelo a ser visto e revisto pelas grandes multidões – em todas as mídias possíveis – pelos próximos vinte anos, deve muito de seu trabalho esquemático a “Na Estrada da Vida” (1980), assim como Zezé di Camargo e Luciano devem um bocado do seu sucesso aos heróis sertanejos da geração anterior, no caso aqui os engraçados, comoventes e humanos Milionário e José Rico.

“Na Estrada da Vida” narra um outro momento da história da música interiorana brasileira, quando esta, já sendo um fenômeno popular, se restringia aos grotões, utilizando das grandes capitais apenas a estrutura logística para gravações e produção de shows. Se Leandro e Leonardo ou Zezé di Camargo e Luciano eram nomes conhecidos por qualquer criança em meados dos anos 90, em 1980 Milionário e Zé Rico ou João Mineiro e Marciano, causavam risos quando citados na frente de seres urbanos, cariocas, paulistas, baianos ou gaúchos.

A própria abordagem de “Na Estrada da Vida”, dirigido pelo cinemanovista Nelson Pereira dos Santos – em seu filme mais popular e, paradoxalmente, menos repleto de clichês previsíveis – nos causa certa vontade de “achar graça” dos protagonistas. Distante da seriedade respeitosa de “Dois Filhos de Francisco”, Milionário e José Rico, no papel dos próprios, são autênticos clowns, prontos para a galhofa da própria vida e dos próprios hábitos.

Os dois ajudantes de obra, com vagos sonhos de fazerem carreira artística, se conhecem em uma espelunca de São Paulo, apelidada de “Hotel dos Artistas”. Ali, cantores sertanejos de todos os tipos formam uma espécie de pátio dos milagres, esperando o chamado de algum empresário para shows mambembes e mal remunerados. Caem logo nas garras de um inescrupuloso, se apresentam em um circo chamado “Fundinho” e, irritados com a maneira como o empresário pé-rapado os trata, demonstram habilidade com o público para humilhá-lo diante do povo.

A partir desse episódio, a vida vai sendo difícil, de tentativa em tentativa, de canção em canção. Nádia Lippi, na flor dos seus vinte e poucos anos, faz a mineirinha ingênua, namorada de Milionário. A melhor cena do filme mostra os dois artistas, ainda desconhecidos, pintando as paredes de uma loja de discos, quando avistam do alto da escada seu lp recém-lançado. Com vergonha de serem reconhecidos, tentam a todo custo tirar os exemplares da prateleira, causando confusão e sendo ridicularizados pelo gerente do estabelecimento.

A moral delineada é simples, mas cheia de originalidade em sua concepção. “Nunca ria de quem está por baixo, pois com força de vontade subimos e chegamos onde nossos sonhos alcançarem”. Quem viu “Dois Filhos de Francisco” vai perceber em “Na Estrada da Vida” estes ciclos presentes em ambos: sonho-purgação-redenção-consagração. E os shows que encerram as duas histórias demonstram como o universo popular sertanejo mudou em vinte e cinco anos. O que era uma quadra de rodeios numa cidade interiorana (1980) transforma-se em ginásio sofisticado de capital (2005).

Salientemos em “Na Estrada da Vida” a qualidade invulgar de se fazer um filme com dois protagonistas representando magistralmente bem a si próprios. Coincidência ou não, passamos a amar Milionário e Zé Rico ao fim da trama, enquanto em “Dois Filhos de Francisco” o máximo que se fixa da dupla retratada é uma leve simpatia.

Este curto exercício de cinema comparado visa apenas a dizer o seguinte: sem compreensão do passado, criticar, entender e produzir o cinema brasileiro no presente torna-se um flerte de cegos. Em todas as inúmeras críticas escritas sobre “Dois Filhos de Francisco” durante o ano de 2005, apenas uma ou duas deixaram o lembrete de que “Na Estrada da Vida” existe. E que se visto pelo público que lotou os cinemas no presente, é capaz de emocionar tanto ou mais do que seu filho mais novo, recriado e renovado da fonte pródiga que é esta festa de dois anônimos que contrariando seu destino, ousaram se superar.

11 comentários:

Anônimo disse...

Assisti no cinema, na matinê, em minha cidade, quando criança. Na época, nem sabia quem era Nelson Pereira dos Santos.

Anônimo disse...

Andréa!!
Este filme é ótimo!! Tenho ele em DVD. E é claro, que a Nádia Lippi está fenomenal no papel de Madalena, a namorada do Milionário. Sílvia Leblon também está bem no seu papel.
Valeu por esta lembrança!!

Andrea Ormond disse...

Oi Walner, já ouvi muita gente contando que viu o filme sem saber que era do famoso diretor, talvez porque em nada lembre os outros filmes do Nelson. Um grande abraço!

Oi Raphael, acho esse um dos melhores papéis da Nadia Lippi no cinema. Vc já viu "A Virgem"? É um filme muito interessante e a Nadia está linda, bem novinha. Abração!

Anônimo disse...

tudo bem,gostaria de saber ,como anda a musa nadia lippi,que sumiu do meio artistico,queria saber se ela está bém.abraços eduardo são joão da boa vista

Anônimo disse...

O filme é interessante e original. vale a pena conferir. tenho ele em DVD.
unoms@ig.com.br

Anônimo disse...

Olá Quando eu era criança meu pai tinha uma fita vhs desse filme,uma verdadeira historia de vida.Como faço para conseguir esse filme em dvd?Ficarei eternamente grato.....

Anônimo disse...

Por favor gostaria de adquirir essa obra prima do cinema nacional,se alguem sabe como adquirir ou possa me enviar uma cópia,obrigado. meu e-mail jarlan_rj@hotmail.com

Anônimo disse...

Olá, tambem faz muito tempo que estou procurando por esse filme sem sucesso, quem puder me ajudar em VHS ou DVD por favor!

Anônimo disse...

BOM DIA EU TB TENHO UMA CÓPIA DESSE EM DVD SÓ QUE ESTÁ MUITO RUIM, QUERIA SABER SE ALGUÉM TEM UM COM BOA QUALIDADE PARA VENDER OU AONDE ACHO PARA COMPRAR OU ENCOMENDAR UM ORIGINAL.
GUSTAVO - VALINHOS -SP
gu.monteiro@bol.com.br

ADEMAR AMANCIO disse...

Eu não entendo como um grande cineasta gasta seu talento com uma dupla caipira.

ADEMAR AMANCIO disse...

Eu tenho um colega que assiste esse filme quase todos os dias - Uma paixão total.Ele tem 2 cópias em DVD pirata.