Quando dirigiu “Jogo Duro”, seu primeiro longa-metragem de ficção, Ugo Giorgetti já estava com 41 anos de idade e guardava uma carreira bem-sucedida como diretor de filmes publicitários.
Giorgetti é um homem fascinado por seu meio (a cidade de São Paulo), seus personagens e sua vida cotidiana. Como todo bom paulistano, tem pela cidade uma relação de amor e ódio; crítica e ácida, mas também singelamente apaixonada.
Em “Jogo Duro”, de 1985, Giorgetti ilumina passagens da vida paulistana: a desigualdade social, o ridículo de uma cidade de terceiro mundo prometer mansões à inglesa, ruas nobres e exclusivas – e como esse mecanismo de glamour superficial acaba traído pelas circunstâncias da vida real.
Mas o certo é deixar o cenário acima apenas como pano de fundo. Na verdade, o ponto de partida em “Jogo Duro” é o “galã”, o tresloucado Jesse James Costa. Ex-cameraman da Tv Bandeirantes, protagonista de comerciais do relógio Technos e cria da Boca do Lixo – ponto de boemia e vagabundagem, que virou quase sinônimo de cinema paulista em meados dos anos 70, pois ali se encontravam atores, diretores e produtores.
Em “Jogo Duro” Jesse trabalha como vigia de um casarão de mais de 600 metros quadrados, no bairro do Pacaembu. É contratado pelo vendedor de imóveis (Antônio Fagundes), cuja caracterização, como de todo bom picareta, lembra o Amigo da Onça, personagem do cartunista Péricles.
O bairro do Pacaembu, por sua vez, foi escolhido propositadamente pelo diretor. Criado pela Cia. City na década de 20 do século passado, o Pacaembu era a epítome do bom gosto. O problema é que a mansão está encalhada, a violência nos arredores aumentou e – pra piorar – Jesse percebe que está dividindo o mesmo teto com uma mãe (Cininha de Paula) e filha, que invadiram a residência após o convite feito pelo vigia da rua (Cacá Carvalho), que trabalha postado na casa em frente.
Jesse dá em cima de Cininha, que tinha um caso com o vigia, e o triângulo amoroso se instala. É a observação do jogo entre pessoas desesperadas, semi-marginais, que dá razão ao filme. Cininha e a filha não tem para onde ir, Jesse está encostado ali na mesma situação e Cacá pode parecer “autoridade” na rua, mas também caminha na corda bamba.
Jesse é um ator sem qualquer vestígio de técnica, mas com desinibição absoluta, o que garante um show à parte. Sua performance como falso malandro, que vai se dar mal no fim das contas, parece uma paródia da vida real, já que de fato o ator era personalidade saída de um meio parecido. Cininha de Paula e Cacá de Carvalho, apesar de terem origem diferente (Cininha é médica), não destoam do realismo cru que Giorgetti buscava para sua história.
Como característica importante que se repete nos filmes posteriores do diretor (“Festa”, “Sábado”, “Boleiros”), a simplicidade do argumento é conjugada com uma simplicidade de recursos, dando a impressão de que a produção do filme foi baratíssima. Uma rua, uma casa, cinco atores e um punhado de figurantes. As idiossincrasias de uma cidade ao fundo. E o enorme talento de quem tem o que dizer.
Giorgetti é um homem fascinado por seu meio (a cidade de São Paulo), seus personagens e sua vida cotidiana. Como todo bom paulistano, tem pela cidade uma relação de amor e ódio; crítica e ácida, mas também singelamente apaixonada.
Em “Jogo Duro”, de 1985, Giorgetti ilumina passagens da vida paulistana: a desigualdade social, o ridículo de uma cidade de terceiro mundo prometer mansões à inglesa, ruas nobres e exclusivas – e como esse mecanismo de glamour superficial acaba traído pelas circunstâncias da vida real.
Mas o certo é deixar o cenário acima apenas como pano de fundo. Na verdade, o ponto de partida em “Jogo Duro” é o “galã”, o tresloucado Jesse James Costa. Ex-cameraman da Tv Bandeirantes, protagonista de comerciais do relógio Technos e cria da Boca do Lixo – ponto de boemia e vagabundagem, que virou quase sinônimo de cinema paulista em meados dos anos 70, pois ali se encontravam atores, diretores e produtores.
Em “Jogo Duro” Jesse trabalha como vigia de um casarão de mais de 600 metros quadrados, no bairro do Pacaembu. É contratado pelo vendedor de imóveis (Antônio Fagundes), cuja caracterização, como de todo bom picareta, lembra o Amigo da Onça, personagem do cartunista Péricles.
O bairro do Pacaembu, por sua vez, foi escolhido propositadamente pelo diretor. Criado pela Cia. City na década de 20 do século passado, o Pacaembu era a epítome do bom gosto. O problema é que a mansão está encalhada, a violência nos arredores aumentou e – pra piorar – Jesse percebe que está dividindo o mesmo teto com uma mãe (Cininha de Paula) e filha, que invadiram a residência após o convite feito pelo vigia da rua (Cacá Carvalho), que trabalha postado na casa em frente.
Jesse dá em cima de Cininha, que tinha um caso com o vigia, e o triângulo amoroso se instala. É a observação do jogo entre pessoas desesperadas, semi-marginais, que dá razão ao filme. Cininha e a filha não tem para onde ir, Jesse está encostado ali na mesma situação e Cacá pode parecer “autoridade” na rua, mas também caminha na corda bamba.
Jesse é um ator sem qualquer vestígio de técnica, mas com desinibição absoluta, o que garante um show à parte. Sua performance como falso malandro, que vai se dar mal no fim das contas, parece uma paródia da vida real, já que de fato o ator era personalidade saída de um meio parecido. Cininha de Paula e Cacá de Carvalho, apesar de terem origem diferente (Cininha é médica), não destoam do realismo cru que Giorgetti buscava para sua história.
Como característica importante que se repete nos filmes posteriores do diretor (“Festa”, “Sábado”, “Boleiros”), a simplicidade do argumento é conjugada com uma simplicidade de recursos, dando a impressão de que a produção do filme foi baratíssima. Uma rua, uma casa, cinco atores e um punhado de figurantes. As idiossincrasias de uma cidade ao fundo. E o enorme talento de quem tem o que dizer.
2 comentários:
Oi, Andrea! Descobri seu blog no Reduto do Comodoro. Muito legal, ainda mais que tem o título de um dos meus filmes preferidos do Khouri. Considero Jogo Duro a obra-prima do Giorgetti, e adorei o fato de vc tê-lo resgatado. Também tenho um blog de cinema, se tiver um tempinho dá uma passada por lá. O endereço: http://kinocrazy.blogspot.com
Ficaria muito feliz com sua visita. Parabéns pelo blog, abraço!!
Olá Andrea
Fiquei muito feliz pela homenagem ao meu marido Jesse James, que faleceu 2004, lembrando sua participação em mais de 50 peças cinematograficas entre filmes e comerciais, este seu postado deixa para os familiares o orgulho de ter convivido com este ser maravilhoso.
Muito obrigado
Merciafraga@hotmail.com
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