quinta-feira, outubro 27, 2011

Alberto Salvá (1938-2011)


A primeira vez que contactei Alberto Salvá para uma entrevista foi em março de 2009. Conversamos bastante por telefone. Como estava me mudando do Rio para São Paulo, ele brincou dizendo que adorava São Paulo e também tinha vontade de fazer o mesmo. E perguntou se eu não o traria junto, em troca de ser meu entrevistado.

Por conta da mudança, a entrevista acabou não acontecendo. Perdi inclusive o contato de Salvá, já que ele também se mudou ao longo do tempo.

No início de 2011 estava em uma mesa de bar com o cineasta Cristiano Requião, quando o nome de Salvá chegou à tona. Soube que havia adoecido e que o Cristiano era próximo dele. E foi graças ao incentivo do Cristiano que a entrevista veio a ser realizada, finalmente.

Salvá estava saindo de uma operação complicada. Parecia bastante frágil, até que começamos a gravar. Então, se transformou. Foi ao século XX, trazendo histórias preciosas. Riu, se empolgou, se emocionou. Achei uma das entrevistas mais fáceis que já realizei, pois disse quase tudo sem que eu precisasse estimular sua memória. Falou, creio, porque sabia que era importante deixar registrado.

No final, pedi que me enviasse uma foto para a publicação da entrevista. Respondeu que não, que gostaria de tirá-la naquele momento. Fiquei um bocado constrangida e Salvá acrescentou que não saía bem em fotos:

"Se eu vou sair mal mesmo, me fotografa desse jeito, à vontade."

Realizei seu pedido, portanto.

Quando soube da morte de Salvá no dia 13 de outubro fiquei, além de triste, pensativa sobre por que sua obra continua esquecida e seu último filme, "Na Carne e na Alma", não chegou às telas como ele sonhava. Ao me presentear com uma cópia em dvd, suspirou dizendo que tinha esperança de vê-lo nos cinemas ainda esse ano. Por alguma razão misteriosa, permanece inédito.

Quem assistir a "Na Carne e na Alma" vai ter a oportunidade de admirar um cinema que não se faz mais no Brasil. Imperfeito, passional, vulgar às vezes. O cinema de um gênio franco e honesto que, pelo jeito, pagou um preço enorme por isso.

Obrigada, Alberto Salvá.


8 comentários:

Sergio Andrade disse...

Conheço pouco a obra do Salvá (acho que só vi A Menina do Lado, mesmo), mas emocionante sua lembrança dele, e excelente a entrevista. Muito curioso para ver Um Homem sem Importância.

Bjs

Luis Santos disse...

Andrea, você pode postar a foto?

Luis Santos disse...

Esquece e desculpe. Já cliquei no link da entrevista. Mea culpa...

Anônimo disse...

Andrea, que notícia triste! Não estava sabendo da morte do Salvá. É por pessoas com uma forte sensibilidade e senso de justiça como você que a memória de Salvá (e tantos outros geniais) pode ser honrada.

Márcio/MG

Marco Antonio disse...

Descanse em paz, Salvá.

André Setaro disse...

Merecida homenagem ao grande Salvá. 'Um homem sem importância' já se encontra nos anais da história do cinema brasileiro como um dos seus filmes mais importantes.

Andrea Ormond disse...

Obrigada, Sergio. O "Um Homem Sem Importãncia" continua a passar no Canal Brasil. Dá uma olhada que acredito que você consegue achar. Beijos

Oi, Luis, é essa foto mesmo.

Pois é, Márcio... Infelizmente era esperado, mas ainda assim na hora que acontece é um baque. Obrigada, faço a minha parte, e trazer visibilidade para autores como o Salvá é o mínimo que se pode esperar de um país honesto.

Obrigada, Setaro. "Um Homem Sem Importância" está no livro de ouro do cinema brasileiro, que custa bem mais caro do que se pensa.

MR disse...

Um grande amigo, e uma perda pro cinema brasileiro!