Josip Bogoslaw Tanko, o croata por trás da alcunha de J. B. Tanko, passou aquele pão com água de refugiado na Segunda Guerra. Antes da virada dos anos 50, conhece o patropi de outras crises, outros sufocos, indústria cinematográfica com o freio de mão puxado. Tanto lá quanto aqui, acostumou-se aos estúdios. Dá para se entender a fama de midas do público, os breves hiatos nos filmes ditos cricris -- um deles, o policial "Massacre no Supermercado" (1968) --, logo substituídos pelas chanchadas e sátiras. Rodou na Atlântida, na Herbert Richers, montou a própria J. B. Tanko Filmes. Especializou-se na franquia de "Os Trapalhões", com alguns dos maiores momentos do grupo -- "Os Trapalhão nas Minas do Rei Salomão" (1977), "Os Saltimbancos Trapalhões" (1981).
Em 1979, no auge do quarteto, Tanko associa-se à Ventania Filmes, de Paulo Porto, para roteirizar e dirigir o chororô "As Borboletas Também Amam". Quase uma paródia involuntária de Nelson Rodrigues, tamanha a interseção com o dramaturgo -- já havia adaptado "Asfalto Selvagem", em 1964. Mesmo nascido no leste europeu, Tanko parece confirmar aquele triste princípio de que certos nacionais quando vêem algo bem feito copiam, e copiam tão ruim que acabam diluindo e estragando o prazer do original.
Assistindo-se a "As Borboletas Também Amam", o leitor ou vai necessitar reler (rever) Nelson correndo, ou passar longe do universo rodrigueano por enjôo do genérico. “Borboletas" deveria ser um filme sobre prostituição e prostitutas, sobre as agruras do ofício. E começa olhando Mônica (Angelina Muniz), estudante de subúrbio, que carrega junto ao peito um fichário com adesivo de Roberto Carlos e sonha, impossivelmente sonha, em um dia mudar-se para Copacabana.
Sabemos que Mônica é “anjo caído”, pois relata suas desventuras para um sujeito fim-de-noite, em um bar calorento. Relutante em se abrir, filosofa: "Todo homem antes de ir pra cama quer ouvir uma história. Da mulher abandonada, do filho ilegítimo".
Depois, se empolga. A narrativa em flashback prossegue com a mocinha indo passear no bairro adorado e voltando pra casa de ônibus. Um dia, encontra a amiga Virgínia (Rossana Ghessa), que lhe informa sobre uma casa discreta, onde podem fazer dinheiro servindo a homens mais velhos. Nesse meio tempo, Mônica frequenta a famigerada New York Disco Laser -- a mesma boate de “Sábado Alucinante”, de Cláudio Cunha -- e conhece também Flávio (Arlindo Barreto), que começa a namorar.
Em uma série de coincidências só possíveis no cinema brasileiro, o melhor cliente de Mônica é um certo Raimundo (Paulo Porto), professor de Mônica e pai de Flávio. A piada involuntária do “Professor Raimundo”, traçando a aluna em um quarto de rendez-vous, agrada a quem tenha sido criança nos anos 80 e 90, mas aqui é somente dado soporífero. Paulo Porto vive Raimundo como um Herculano em baixa rotação, não sendo Angelina Muniz nenhuma Darlene Glória e muito menos o roteiro mequetrefe, pálido, algo à altura do gênio da Aldeia Campista.
“Só a morte sabe as verdades da vida”, frase de Goethe, estampa o prólogo dos créditos. Isso deve explicar o rocambole em que vamos nos metendo: Flávio é filho bastardo de Raimundo. A mãe, sabendo que o marido não podia ter filhos, após consultar o ginecologista Dr. Franz Miller (de segunda a sexta, das 15 às 18h), sai em viagem para engravidar do primeiro que aparecesse. No caso, um chofer de caminhão. Depois de contar toda a verdade, a mãe morre. Restam Flávio e o pai. Descobrindo a frequência de Raimundo com sua namorada no bordel, Flávio obriga o pai a casar-se com ela, “honrá-la”.
Macambúzio xarope, a história permite ao menos um passeio pelo Rio do final dos 70. Cheia do tutu com os programas, Mônica anda pra cima e pra baixo de rádio-táxi, opalas azuis que faziam o trajeto Galeão-Zona Sul até meados da década seguinte. Também gosta de espiar as vitrines da Sapasso, loja de calçados que ficava na Av. Nossa Senhora de Copacabana, quase esquina da rua Figueiredo Magalhães. E, quando viaja de ônibus para fora da cidade, vai de Itapemirim, provavelmente os modelos Tribus, recém-lançados.
Amaldiçoada no cafofo copacabanense, Mônica tenta assumir seu emprego fictício, fachada para a profissão, o de "vendas exclusivas direto ao consumidor". Termina topando com Carlos Kurt, importado direto dos Trapalhões, que tenta estuprá-la junto com ninguém menos que Wilson Grey.
Somando-se Arlindo Barreto -- que seria o palhaço Bozo na TVS -- vivendo o filho do Professor Raimundo, Angelina Muniz poderia solicitar ao Fofão uma carona na nave de Adriano Stuart, outro profícuo diretor de filmes dos Trapalhões. Embora rico em ligações esdrúxulas, “As Borboletas Também Amam” é o tipo de drama que sequer envelheceu mal, pois já era antiquíssimo, com cara de Aída Cury, no mesmo período em que “Giselle” e “Império do Desejo” douravam no forno, prontos para serem lançados.
Em 1979, no auge do quarteto, Tanko associa-se à Ventania Filmes, de Paulo Porto, para roteirizar e dirigir o chororô "As Borboletas Também Amam". Quase uma paródia involuntária de Nelson Rodrigues, tamanha a interseção com o dramaturgo -- já havia adaptado "Asfalto Selvagem", em 1964. Mesmo nascido no leste europeu, Tanko parece confirmar aquele triste princípio de que certos nacionais quando vêem algo bem feito copiam, e copiam tão ruim que acabam diluindo e estragando o prazer do original.
Assistindo-se a "As Borboletas Também Amam", o leitor ou vai necessitar reler (rever) Nelson correndo, ou passar longe do universo rodrigueano por enjôo do genérico. “Borboletas" deveria ser um filme sobre prostituição e prostitutas, sobre as agruras do ofício. E começa olhando Mônica (Angelina Muniz), estudante de subúrbio, que carrega junto ao peito um fichário com adesivo de Roberto Carlos e sonha, impossivelmente sonha, em um dia mudar-se para Copacabana.
Sabemos que Mônica é “anjo caído”, pois relata suas desventuras para um sujeito fim-de-noite, em um bar calorento. Relutante em se abrir, filosofa: "Todo homem antes de ir pra cama quer ouvir uma história. Da mulher abandonada, do filho ilegítimo".
Depois, se empolga. A narrativa em flashback prossegue com a mocinha indo passear no bairro adorado e voltando pra casa de ônibus. Um dia, encontra a amiga Virgínia (Rossana Ghessa), que lhe informa sobre uma casa discreta, onde podem fazer dinheiro servindo a homens mais velhos. Nesse meio tempo, Mônica frequenta a famigerada New York Disco Laser -- a mesma boate de “Sábado Alucinante”, de Cláudio Cunha -- e conhece também Flávio (Arlindo Barreto), que começa a namorar.
Em uma série de coincidências só possíveis no cinema brasileiro, o melhor cliente de Mônica é um certo Raimundo (Paulo Porto), professor de Mônica e pai de Flávio. A piada involuntária do “Professor Raimundo”, traçando a aluna em um quarto de rendez-vous, agrada a quem tenha sido criança nos anos 80 e 90, mas aqui é somente dado soporífero. Paulo Porto vive Raimundo como um Herculano em baixa rotação, não sendo Angelina Muniz nenhuma Darlene Glória e muito menos o roteiro mequetrefe, pálido, algo à altura do gênio da Aldeia Campista.
“Só a morte sabe as verdades da vida”, frase de Goethe, estampa o prólogo dos créditos. Isso deve explicar o rocambole em que vamos nos metendo: Flávio é filho bastardo de Raimundo. A mãe, sabendo que o marido não podia ter filhos, após consultar o ginecologista Dr. Franz Miller (de segunda a sexta, das 15 às 18h), sai em viagem para engravidar do primeiro que aparecesse. No caso, um chofer de caminhão. Depois de contar toda a verdade, a mãe morre. Restam Flávio e o pai. Descobrindo a frequência de Raimundo com sua namorada no bordel, Flávio obriga o pai a casar-se com ela, “honrá-la”.
Macambúzio xarope, a história permite ao menos um passeio pelo Rio do final dos 70. Cheia do tutu com os programas, Mônica anda pra cima e pra baixo de rádio-táxi, opalas azuis que faziam o trajeto Galeão-Zona Sul até meados da década seguinte. Também gosta de espiar as vitrines da Sapasso, loja de calçados que ficava na Av. Nossa Senhora de Copacabana, quase esquina da rua Figueiredo Magalhães. E, quando viaja de ônibus para fora da cidade, vai de Itapemirim, provavelmente os modelos Tribus, recém-lançados.
Amaldiçoada no cafofo copacabanense, Mônica tenta assumir seu emprego fictício, fachada para a profissão, o de "vendas exclusivas direto ao consumidor". Termina topando com Carlos Kurt, importado direto dos Trapalhões, que tenta estuprá-la junto com ninguém menos que Wilson Grey.
Somando-se Arlindo Barreto -- que seria o palhaço Bozo na TVS -- vivendo o filho do Professor Raimundo, Angelina Muniz poderia solicitar ao Fofão uma carona na nave de Adriano Stuart, outro profícuo diretor de filmes dos Trapalhões. Embora rico em ligações esdrúxulas, “As Borboletas Também Amam” é o tipo de drama que sequer envelheceu mal, pois já era antiquíssimo, com cara de Aída Cury, no mesmo período em que “Giselle” e “Império do Desejo” douravam no forno, prontos para serem lançados.
3 comentários:
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Estou vendo,ao menos o elenco juvenil é bonito.
Angelina Muniz seria de longe a mais linda e deslumbrante atriz brasileira de todos os tempos se já não houvesse a belíssima Cristina Prochaska para ocupar o lugar dela nesse sentido.
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