A diferença entre o reacionarismo dos anos 60 e 70 para o de hoje é que a vigilância não contaminava endemicamente todos os setores da sociedade. Havia resistência nas artes, no comportamento, além de uma franca dicotomia entre "velhos" e "novos", entre vanguarda e ultrapassado. Em 2011, corremos o risco de presenciar garotos universitários brandindo discursos substantivos de jargões pseudo-iconoclastas, porém repletos daquela ânsia adjetiva de controle social.
Até no moralismo de outrora, sob aspecto de caricatura, havia certo humor. E cínicos, que contrabandeavam sacanagem entre gritos de alerta e avisos sobre a "decadência dos bons costumes".
Leiam a picardia, proibida pela Censura: "Copacabana em Trajes Íntimos", de Diderot Freitas, um moralista que escreveu o fulgurante tratado sobre a dolce vita balneária. Ou recordem o epílogo de "Giselle", quando Victor Di Mello e Carlo Mossy, depois de construírem um monumento à perversão, lançam uma bomba atômica sob a civilização ocidental e saem felizes para beber um chopp no Fiorentina.
"O Libertino" (1973), estrelando o fenomenal Lírio Mário da Costa, vulgo Costinha, manipula justamente este universo exacerbado da moralidade, esta vontade de que a família brasileira não se perca. Claro, o comendador Emanuel, homem de reputação ilibada, dono de uma fábrica de chapéus, acabará tragado pela indecência e malandragem carioca, alugando sem querer sua nobre ex-residência para um prostíbulo.
Dirigido por Victor Lima, veterano das chanchadas, "O Libertino" não conseguiu fazer Costinha render tanto quanto Ronald Golias -- com o mesmo Lima, quatro anos antes -- em "Golias Contra o Homem das Bolinhas" (1969).
Um crítico de teatro contemporâneo diria que o humorista parece "preso", tímido no papel, o que é um paradoxo em se tratando de uma força da natureza como Costinha. Solta, apenas sua consciência. Em papel duplo, Costinha usa bermudas e camiseta florida, contraponto aos vestutos jaquetões do Comendador.
Agradecimentos "ao Deputado Afonso Nunes e à rádio patrulha do Estado da Guanabara", o sofá vermelho-bombeiro do psicanalista e uma palestra na Tv Tupi formam parte do tesouro arqueológico inerente à revisão de qualquer pornochanchada. Cinqüenta e oito anos de repressão sexual, o Comendador ainda sofre com as escapadas da neta rumo à Barra da Tijuca. Na época, um antro de perdição urbana, palco das "corridas de submarino", das ancestrais curras e de tantas mumunhas eróticas da metrópole.
A evolução de Emanuel para sócio da libertinagem incomodou bastante os censores, o filme teve enormes dificuldades para ser exibido. Perde-se em meio ao universo da comédia sexual escapista, utilizando recursos tão didáticos quanto a vinheta sonora na exibição de um derrière feminino.
Victor Lima, hoje esquecido, fabricou momentos melhores, entre eles "Bonga, o Vagabundo" (1971), parceria com outro gênio do humor, Renato Aragão. Morreria em 1981, durante a finalização de "Os Paspalhões em Pinóquio 2000", tragédia que atrasou o lançamento e custou a falência da Vidya Produções, de Carlo Mossy, que enterrara todo seu capital obtido em “Giselle” na malfadada produção infantil. acusada de ser mera cópia de "Os Trapalhões". Ciranda que já nos leva a outras tantas histórias, para serem contadas em breve.
Até no moralismo de outrora, sob aspecto de caricatura, havia certo humor. E cínicos, que contrabandeavam sacanagem entre gritos de alerta e avisos sobre a "decadência dos bons costumes".
Leiam a picardia, proibida pela Censura: "Copacabana em Trajes Íntimos", de Diderot Freitas, um moralista que escreveu o fulgurante tratado sobre a dolce vita balneária. Ou recordem o epílogo de "Giselle", quando Victor Di Mello e Carlo Mossy, depois de construírem um monumento à perversão, lançam uma bomba atômica sob a civilização ocidental e saem felizes para beber um chopp no Fiorentina.
"O Libertino" (1973), estrelando o fenomenal Lírio Mário da Costa, vulgo Costinha, manipula justamente este universo exacerbado da moralidade, esta vontade de que a família brasileira não se perca. Claro, o comendador Emanuel, homem de reputação ilibada, dono de uma fábrica de chapéus, acabará tragado pela indecência e malandragem carioca, alugando sem querer sua nobre ex-residência para um prostíbulo.
Dirigido por Victor Lima, veterano das chanchadas, "O Libertino" não conseguiu fazer Costinha render tanto quanto Ronald Golias -- com o mesmo Lima, quatro anos antes -- em "Golias Contra o Homem das Bolinhas" (1969).
Um crítico de teatro contemporâneo diria que o humorista parece "preso", tímido no papel, o que é um paradoxo em se tratando de uma força da natureza como Costinha. Solta, apenas sua consciência. Em papel duplo, Costinha usa bermudas e camiseta florida, contraponto aos vestutos jaquetões do Comendador.
Agradecimentos "ao Deputado Afonso Nunes e à rádio patrulha do Estado da Guanabara", o sofá vermelho-bombeiro do psicanalista e uma palestra na Tv Tupi formam parte do tesouro arqueológico inerente à revisão de qualquer pornochanchada. Cinqüenta e oito anos de repressão sexual, o Comendador ainda sofre com as escapadas da neta rumo à Barra da Tijuca. Na época, um antro de perdição urbana, palco das "corridas de submarino", das ancestrais curras e de tantas mumunhas eróticas da metrópole.
A evolução de Emanuel para sócio da libertinagem incomodou bastante os censores, o filme teve enormes dificuldades para ser exibido. Perde-se em meio ao universo da comédia sexual escapista, utilizando recursos tão didáticos quanto a vinheta sonora na exibição de um derrière feminino.
Victor Lima, hoje esquecido, fabricou momentos melhores, entre eles "Bonga, o Vagabundo" (1971), parceria com outro gênio do humor, Renato Aragão. Morreria em 1981, durante a finalização de "Os Paspalhões em Pinóquio 2000", tragédia que atrasou o lançamento e custou a falência da Vidya Produções, de Carlo Mossy, que enterrara todo seu capital obtido em “Giselle” na malfadada produção infantil. acusada de ser mera cópia de "Os Trapalhões". Ciranda que já nos leva a outras tantas histórias, para serem contadas em breve.
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