Não é todo dia que um filme como “Golias Contra o Homem das Bolinhas” (1969) vence a barreira do tempo e consegue ser relançado em dvd.
Uma daquelas comédias que a produtora de Herbert Richers produzia em série, foi veículo objetivo para a graça do humorista Ronald Golias, que empresta seu nome ao título e sua presença nos delírios do personagem principal, o desafortunado Augusto (Otelo Zelloni). Mas, além do trivial, o “Homem das Bolinhas” oferece aos tripulantes do século XXI um rico arsenal de imagens e histórias, sobre os atores e a locação – no caso, a São Paulo da virada da década de 60 para 70.
“Veja a nova São Paulo, a cidade que se humaniza”, diz a placa explicativa, logo nos primeiros dez minutos de filme -- entre a viagem aérea de Golias pelo Centro, agarrado em balões de parque que o arrastavam, e a demonstração da vida terrível de Augusto, pobre burocrata atormentado por uma esposa possessiva (Zilda Cardoso) e um cunhado parasita. Augusto é tão infeliz que precisa implorar dinheiro à mulher para passear – sozinho – domingo pela cidade, dando uma passadinha pelo antigo Cine Astor, no Conjunto Nacional, e pelo Art Palácio, no Largo do Paissandu.
Termina sua “farra” bebendo coca-cola em um restaurante, lembrando ao garçom para lhe trazer a tampinha, na esperança de estar premiada. Em vez de uma televisão Colorado RQ ou um Karmanghia, ele ganha uma improvável paquera: Arlete (Íris Bruzzi), que ao lado de uma amiga (Darlene Glória) vivem de receber “primos”, no edifício suspeito onde moram.
Penhorado um relógio, ganho por vinte anos de trabalho árduo – único bem de valor que possuía – Augusto marca encontro com Arlete. Dali em diante, por conta de uma armadilha do destino, sua vida vira um inferno. Atormentado pela perseguição imaginária de Pacífico -- o personagem de Golias -- Augusto comete até a imprudência de escalar as obras da construção do Hotel Hilton, olhando o imponente Edifício Copan, este inaugurado poucos anos antes.
Uma multidão caça Augusto, que usava uma deprimente gravata de bolinhas – daí o título do filme. Golias aparece menos que Zelloni – e, de fato, o ator italiano naturalizado brasileiro, morto precocemente nos anos 70, faz o que quer no filme. Com um elenco excepcional, que inclui ainda Costinha (como dentista) e Benjamin Cattan (como advogado), é um mérito a se destacar o tipo inesquecível de loser que o Arturo de “São Paulo Sociedade Anônima” -- na época parceiro de Golias na “Família Trapo” -- cria com folgas.
Retendo-se também a direção segura do veterano – da época das chanchadas – Victor Lima, e a fotografia bem cuidada de outro oriundi, Guglielmo Lombardi – que começara no cinema italiano, ainda nos anos 30 – “Golias Contra o Homem das Bolinhas” sobrevive muito além da comédia de ocasião, trazendo um retrato coloridíssimo da São Paulo (que se humanizava?) naquele conturbado crepúsculo de década, no país da tortura e dos generais. Uma pena que Ronald Golias tenha falecido, aos 76 anos em 27 de Setembro de 2005, pouco antes do filme ser relançado pela Coleção Herbert Richers.
Uma daquelas comédias que a produtora de Herbert Richers produzia em série, foi veículo objetivo para a graça do humorista Ronald Golias, que empresta seu nome ao título e sua presença nos delírios do personagem principal, o desafortunado Augusto (Otelo Zelloni). Mas, além do trivial, o “Homem das Bolinhas” oferece aos tripulantes do século XXI um rico arsenal de imagens e histórias, sobre os atores e a locação – no caso, a São Paulo da virada da década de 60 para 70.
“Veja a nova São Paulo, a cidade que se humaniza”, diz a placa explicativa, logo nos primeiros dez minutos de filme -- entre a viagem aérea de Golias pelo Centro, agarrado em balões de parque que o arrastavam, e a demonstração da vida terrível de Augusto, pobre burocrata atormentado por uma esposa possessiva (Zilda Cardoso) e um cunhado parasita. Augusto é tão infeliz que precisa implorar dinheiro à mulher para passear – sozinho – domingo pela cidade, dando uma passadinha pelo antigo Cine Astor, no Conjunto Nacional, e pelo Art Palácio, no Largo do Paissandu.
Termina sua “farra” bebendo coca-cola em um restaurante, lembrando ao garçom para lhe trazer a tampinha, na esperança de estar premiada. Em vez de uma televisão Colorado RQ ou um Karmanghia, ele ganha uma improvável paquera: Arlete (Íris Bruzzi), que ao lado de uma amiga (Darlene Glória) vivem de receber “primos”, no edifício suspeito onde moram.
Penhorado um relógio, ganho por vinte anos de trabalho árduo – único bem de valor que possuía – Augusto marca encontro com Arlete. Dali em diante, por conta de uma armadilha do destino, sua vida vira um inferno. Atormentado pela perseguição imaginária de Pacífico -- o personagem de Golias -- Augusto comete até a imprudência de escalar as obras da construção do Hotel Hilton, olhando o imponente Edifício Copan, este inaugurado poucos anos antes.
Uma multidão caça Augusto, que usava uma deprimente gravata de bolinhas – daí o título do filme. Golias aparece menos que Zelloni – e, de fato, o ator italiano naturalizado brasileiro, morto precocemente nos anos 70, faz o que quer no filme. Com um elenco excepcional, que inclui ainda Costinha (como dentista) e Benjamin Cattan (como advogado), é um mérito a se destacar o tipo inesquecível de loser que o Arturo de “São Paulo Sociedade Anônima” -- na época parceiro de Golias na “Família Trapo” -- cria com folgas.
Retendo-se também a direção segura do veterano – da época das chanchadas – Victor Lima, e a fotografia bem cuidada de outro oriundi, Guglielmo Lombardi – que começara no cinema italiano, ainda nos anos 30 – “Golias Contra o Homem das Bolinhas” sobrevive muito além da comédia de ocasião, trazendo um retrato coloridíssimo da São Paulo (que se humanizava?) naquele conturbado crepúsculo de década, no país da tortura e dos generais. Uma pena que Ronald Golias tenha falecido, aos 76 anos em 27 de Setembro de 2005, pouco antes do filme ser relançado pela Coleção Herbert Richers.
6 comentários:
Oi Andrea: só estou aqui para dizer que se não fosse esse GOLIAS CONTRA O HOMEM DAS BOLINHAS BRANCAS e outros filmes extraordinários como esse, eu nunca teria me interessado por cinema brasileiro. Victor Lima não é artesão; é poeta mesmo. Gosto de diversas coisas dele. Esse filme é muito especial, uma verdadeira obra-prima e Otelo Zeloni serevela um gigante da comédia tupiniquim. A crítica está a altura do filme Andrea, sendo uma bela declaração de amor ao cinema e a cidade de São Paulo. Mas faltou dizer que o cara que faz o cunhado dele é genial e o Zeloni termina a fita vendendo picolé no zoológico !! É sensacional. É bom lembrar que o Antônio Pitanga faz o porteiro do prédio da Iris Bruzzi. Parabéns Andrea pela boa crítica e espero que nossos esforços pelo cinema brasileiro não sejam NUNCA em vão.
Nossa!!! deu a maior vontade de ver o filme, q. eu ainda desconheço!!! Sou fã tanto de Golias, comediante extraordinário! mas de Zeloni, um ator extraodinário!!!
Oi Matheus! Aos poucos a gente vai falando sobre tanta coisa interessante no cinema. Até porque, na prática, todo mundo pode se divertir, nem que seja para assistir aos filmes e matar, no mínimo, a curiosidade de ver algo diferente e, dependendo do caso, inusitado mesmo.
Fala Edu!!! Os dilemas do Zeloni com o Golias e a Zilda Cardoso são muito cômicos mesmo. Aliás, a Zilda é ídola, com aquele jeitão cínico. Lembro logo dela incorporando a Catifúndia rsrs
Que droga. Peguei o filme no fim, no Canal Brasil.
São Paulo é personagem dessa película. Vale gravar e prestar atenção nos detalhes, não só as locações, mas a arquitetura, veículos, roupas, objetos de cena (fogão, chaleira, interruptor, janela, etc). Sacanagem foi botarem o negro Pitanga como o assassino...
Não conhecia esse filme, mas zapeando pela programação do Canal Brasi me deparei com esse filme e pus pra gravar, pois gosto do Golias. Fiquei fascinado pelas imagens da São Paulo de 40 anos atras,os carros (como tinha fusca), o Conjunto Nacional, O Cine Astor onde hj é a Livraria Cultura e mais um monte de coisas, incluindo roupas da época, móveis, etc..e claro, os atores, acho que já todos falecidos. Fantástico!
Não é um grande filme, mas gostei muito de ver por três motivos: 1)Zeloni, que rouba mesmo o filme; 2) Iris Bruzzi, lindíssima; 3) a São Paulo de 44 anos atrás. Quem me decepcionou na película, mesmo, foi Golias, realmente menor que Zeloni - este sim um gigante.
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